Afinal, já dá para enxergar algo em pesquisas eleitorais? Sim. (por Gunter)

A “pesquisa do momento” é a Datafolha divulgada em 27/mar e analisada por Fernando Rodrigues, que é um grande conhecedor de históricos de pesquisas. Talvez para não comprometer a isenção, as análises dele e de outros na imprensa ou nos institutos ficam quase sempre na apresentação trivial do “quem-subiu-e-quem-caiu”. Por isso, quem as lê fica com a sensação de que falta algo. Porque tantas perguntas e tantos cenários são feitos, não é?

http://uolpolitica.blog.uol.com.br/

Podemos ir além dessa abordagem e ver que há dados e tendências, comuns a todos os institutos, mas pouco comentados. Mas quem for observador autônomo pode arriscar algumas conclusões também.

A . A candidatura Dilma foi a única com tendência de crescimento de longo prazo.

Não é necessário ser torcedor para afirmar isso, pois, simplesmente, é o único grande movimento que pôde ser observado e a explicação é que houve a falada “transferência”. Esta é uma campanha sem novidades, os potenciais candidatos são os mesmos nas pesquisas há mais de dois anos e os únicos eventos foram a substituição (por coincidência) de Heloísa Helena por Marina Silva e a aparente decisão do PSDB por Serra.

Movimentos “dois pra frente, um pra trás” são algo comum e não devem causar estranheza, até por que são resultados de amostragens, não de populações inteiras. Por isso, além de se olhar para as oscilações de curto prazo (as “árvores”), temos que observar as tendências de longo prazo (a “floresta”.) Haverá mais 25 a 40 pesquisas até as eleições, essa é a forma de acompanhá-las sem estresse.

Para “intenções de voto no 1º turno” há algumas macrotendências : 1) leve declínio ou estabilidade em 35% de Serra, a chamada “resiliência”; 2) crescimento em etapas para Dilma, talvez por fases de exposição, pois saber o nome é importante para o pesquisado; 3) e, resultante das duas primeiras, uma redução do espaço para candidaturas alternativas, concomitante com redução na quantidade de indecisos, brancos e nulos. Conclusão : a eleição parece estar caminhando para a polarização.

Afinal, já dá para enxergar algo em pesquisas eleitorais? Sim. (por Gunter)

A “pesquisa do momento” é a Datafolha divulgada em 27/mar e analisada por Fernando Rodrigues, que é um grande conhecedor de históricos de pesquisas. Talvez para não comprometer a isenção, as análises dele e de outros na imprensa ou nos institutos ficam quase sempre na apresentação trivial do “quem-subiu-e-quem-caiu”. Por isso, quem as lê fica com a sensação de que falta algo. Porque tantas perguntas e tantos cenários são feitos, não é?

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Podemos ir além dessa abordagem e ver que há dados e tendências, comuns a todos os institutos, mas pouco comentados. Mas quem for observador autônomo pode arriscar algumas conclusões também.

A . A candidatura Dilma foi a única com tendência de crescimento de longo prazo.

Não é necessário ser torcedor para afirmar isso, pois, simplesmente, é o único grande movimento que pôde ser observado e a explicação é que houve a falada “transferência”. Esta é uma campanha sem novidades, os potenciais candidatos são os mesmos nas pesquisas há mais de dois anos e os únicos eventos foram a substituição (por coincidência) de Heloísa Helena por Marina Silva e a aparente decisão do PSDB por Serra.

Movimentos “dois pra frente, um pra trás” são algo comum e não devem causar estranheza, até por que são resultados de amostragens, não de populações inteiras. Por isso, além de se olhar para as oscilações de curto prazo (as “árvores”), temos que observar as tendências de longo prazo (a “floresta”.) Haverá mais 25 a 40 pesquisas até as eleições, essa é a forma de acompanhá-las sem estresse.

Para “intenções de voto no 1º turno” há algumas macrotendências : 1) leve declínio ou estabilidade em 35% de Serra, a chamada “resiliência”; 2) crescimento em etapas para Dilma, talvez por fases de exposição, pois saber o nome é importante para o pesquisado; 3) e, resultante das duas primeiras, uma redução do espaço para candidaturas alternativas, concomitante com redução na quantidade de indecisos, brancos e nulos. Conclusão : a eleição parece estar caminhando para a polarização.



B . Ainda é muito provável um encontro das candidaturas Serra e Dilma no curto prazo.

Um modo simplificado de “projetar” um eventual momento de encontro de candidaturas (o início do chamado “X”) é observar as diferenças entre as candidaturas principais. Com oscilações aqui ou ali, na ausência de algum fato novo relevante, o mais provável é que a diferença entre Serra e Dilma se reduza a zero, ou que a dianteira passe para Dilma, em algum momento entre abril e junho. O tempo pode variar em função das exposições a que cada candidato é submetido.

A margem de erro (4 ou 5%) desse indicador “diferença entre candidaturas” é o dobro da margem de erro para cada candidatura individual. Por isso, quando se fala em 9% de diferença, pode também significar 4% ou 14%. (O que de certo modo aponta para a fragilidade de se considerar pesquisas individualmente. Já ouvi dizer que é necessário observar pelo menos 3 movimentos em uma direção para confirmar uma tendência.)

 

C . Os votos alternativos já se dividem igualmente entre Serra e Dilma, mas os de Ciro ainda vão mais para Serra.

Evidentemente, a eleição pode não se decidir no primeiro turno. O que parece importante no momento, em que tanto se fala se Ciro deve manter ou não sua candidatura, é tentar enxergar para onde vão os votos dele quando ele sai do cenário.  Desde o início das pesquisas a candidatura Serra foi capaz de receber, nas simulações de 1º turno, um maior percentual das intenções de voto para Ciro, cerca de 40%. Apenas recentemente Dilma passou a receber mais do que 20% dessa transferência. Isso é atribuído ao diferente conhecimento dos nomes.

No entanto,o que conta é o resultado final (simulações para 2º turno), e aí também há transferência dos votos de Marina e uma redução no percentual de I/B/N. A capacidade de Dilma receber votos de outras candidaturas (ou seja, “conhecimento de nome”) aumentou muito recentemente, de modo a nas 3 últimas pesquisas haver empatado com Serra nesse critério.

Quando se calculam as diferenças entre as simulações de 2º turno com o cenário principal de 1º turno, é fácil enxergar que atualmente ambos os candidatos principais acolhem 30% dos votos restantes, quer sejam de Ciro, Marina ou indecisos (40% permanecem ou passam a ser brancos e nulos.) Mas, se isto ocorre com Dilma sendo um pouco menos conhecida, é possível prever que no futuro, para esse tipo de formação de voto, ela levará maior vantagem. Conclusão : a importância de Ciro para a base governista, ao levar a eleição ao 2º turno é declinante, a importância dele como “seguro anti-factóides” é, contudo, intangível.

 

 D. Voto espontâneo : há transferência de votos de Lula e há limites para as candidaturas principais. 

Há algumas oscilações nos resultados das pesquisas espontâneas de intenção de voto difíceis de explicar. Mas vamos “olhar para a floresta” e deixar de lado alguns detalhes (ainda que fosse relevante tentar entender como as intenções para Lula podem ir de 20 para 10 de uma pesquisa para outra…)

Os dados de pesquisa espontânea são a série onde o movimento ascendente de Dilma é mais consistente. Na verdade, talvez seja o único assim. O que se pode observar:

– As indicações para o campo petista/lulista são oscilantes, em torno de 25%, mas sempre acima de 20%. As indicações para Dilma, no entanto, não oscilam e caminham para os 15% em breve. O único momento de queda, mas apenas dela, não do conjunto, foi em ago./2009, o que coincide com os resultados das pesquisas estimuladas e com um período de menor exposição (ago. e set.)  Há transferência, é rápida e atingiu algo como 50-60% de seu potencial (pelo menos na fase pré-campanha, em que muitos ainda não se preocupam com a eleição.)

– As indicações para o campo tucano são muito mais oscilantes que nas pesquisas estimuladas, vão de 8 a 16%, tendo tido seu pico no mês de dezembro. Na média ficam em 11,5%. Esse patamar é apenas 45% das intenções espontâneas do que é atribuído para Lula, Dilma e “PT”.

– outras indicações espontâneas (Ciro, Marina, pequenos partidos) são mínimas e raramente passam de 4%.

 

 

 E . Mas, para onde irão os votos de Lula?

Nas pesquisas de votos espontâneos os indecisos, brancos e nulos alcançam 55-60%. Se contarmos que Lula ainda recebe 10-15% de intenções vamos para 65-75% de pessoas sem envolvimento com as eleições ou sem pleno conhecimento do quadro de candidatos. Isso contrasta vivamente com os resultados das pesquisas estimuladas, nas quais o número de indecisos, etc fica só em torno de 20%.

Mas essa não é a maior diferença. O surpreendente é como os nomes lembrados pelo estímulo das cartelas refletem outra proporcionalidade (o que ocorre com a última Datafolha é comum a todas as pesquisas que incluíram voto espontâneo.)

A última pesquisa (Datafolha, 26-março) resultou em apenas 37% de intenções espontâneas declaradas : Lula + candidato do Lula = 12%, Dilma = 12%, Serra + Aécio = 9%, Ciro, Marina, outros = 4%. Cruzando-se esses dados com os da pesquisa estimulada temos:

Candidato : % espontâneos / % estimulado / variação

Dilma : 12 / 27 / 125 %

Serra (ou PSDB) : 9 / 36 / 300%

Ciro, Marina, outros : 4 / 19 / 375%

Portanto, ao saber-se que Lula não é candidato, os votos dirigem-se a outros candidatos, mas não na mesma proporcionalidade das pesquisas espontâneas, e principalmente não para Dilma. A explicação da oposição é que isso ocorreria por própria rejeição no campo “lulista” do nome de Dilma. Mas a explicação mais plausível, dos governistas, é que isso se dê pelo forte reconhecimento atual dos outros nomes.

A forma de conciliar esses resultados seria, como fez o Instituto Mapear em pesquisa finda em 05/mar., simular com “candidato do Lula” também na pesquisa estimulada. As respostas com a cartela/disco tradicional foram Serra 26, Dilma 22, Ciro 9 e Marina 7%. Mas, alterando-se na cartela o nome para “Dilma, candidata do Lula” as respostas ficaram em 22, 35, 7 e 6% respectivamente.

http://blogdogadelha.blogspot.com/2010/03/pesquisa-mapear-as-diferencas-entre.html

Refazendo a análise acima usando esses dados teríamos:

Candidato : % espontâneos / % estimulado / variação

Dilma : 12 / 35 / 192 %

Serra (ou PSDB) : 9 / 22 / 145 %

Ciro, Marina, outros : 4 / 19 / 225%

Parece mais coerente, ou não?

Bom, os dados de pesquisas são de conhecimento de todos. Daí derivam dois grandes grupos de hipóteses:

E1 Hipótese da oposição

De acordo com esse pensamento, Dilma já teria obtido o resultado mais ou menos pleno da transferência de votos e o grande total de 60-75% de indecisos (ou votantes em Lula) nas espontâneas seria como um “papel em branco” para conquistar. A oposição costuma dizer que o nome de Dilma já é conhecido e que o eleitor, mesmo preferindo Lula, rejeita Dilma, passando a optar por outro nome na eleição (ou na simulação de eleição).

Há uma contradição aqui: se fosse assim, porque só o nome de Dilma vem crescendo continuamente na espontânea, ocupando exatamente o espaço que era de Lula? E, como contraponto, porque o conjunto de outros nomes vem caindo tanto na espontânea como na estimulada? Aparentemente a transferência ainda está em curso.

E2 Hipótese da situação

Esta hipótese é para a qual faço o “desenho”, por parecer mais provável, ainda que com grande espaço para subjetividade e elevado risco.

Segundo o pensamento dos partidários do governo, os 55-60% que nas pesquisas espontâneas não apontam nenhum candidato (para esta conta o nome de Lula é válido, por isso aqui não é 60-75%) podem perfeitamente se comportar como os 40-45% restantes a partir do momento em que as candidaturas forem plenamente conhecidas. Bastaria que o nome de Dilma fosse identificado com o governo e com o presidente Lula para que ela tivesse grande potencial de crescimento, estimando-se em 50 a 60% dos votos válidos o limite de sua candidatura (atualmente Dilma recebe até 45% dos votos válidos, mas no 2º turno.) Nesse momento de “conhecimento”, aqueles que hoje apontam para Serra, Ciro ou Marina nas pesquisas estimuladas passariam em grande parte a escolher Dilma.

O interessante é que os resultados da extrapolação atual dos votos espontâneos para toda a população coincidem quase que perfeitamente com os resultados obtidos na pesquisa Mapear citada. Seria muito bom se houvessem outras pesquisas assim. As pesquisas espontâneas parecem bem conciliáveis com as pesquisas estimuladas, desde que se suponha o seguinte : que quem escolhe por Lula na espontânea provavelmente escolheria Dilma na estimulada, desde que reconhecesse seu nome. Não há nenhum elemento nas séries das pesquisas que faça imaginar o contrário. Este pode ser o “desenho” do pensamento para a candidatura governista (por ele, até o momento do 1º turno os resultados nas pesquisas estimuladas seriam proporcionalmente semelhantes aos das pesquisas de voto espontâneo) :

Conclusão geral : a oposição e candidaturas alternativas precisam desenvolver um programa capaz de atrair/reter a escolha do eleitor habitual de Lula, mas a situação pode, e precisa, completar o processo de “transferência”.

O que será mais fácil?