A Oitava Passageira

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Frequentemente a chamo de Lula de saias. Não é por acaso, não é por reverência – ahaha, logo eu -, é pela habilidade. E o incrível, é que, exatamente como quando ela saiu do Governo, deixando o PT e a Dilma como vilões, a reação foi a mesma: menosprezo e arrogância. E o resultado: 20 milhões de votos.

Como noticiado pela agora, atônita, #velhamídia o desenrolar da leitura dos seus movimentos dá pra ver o quão hábil ela foi na hora crítica, perdeu na luta sangrenta, mas continuou jogando para tentar se apropriar da “nova política”. Eu não acredito nisso, mas pouco importa, o que está em jogo na verdade é o monopólio da esperança. Quem o perdeu, chora até hoje. E ela – a esperança – ficou ai, abandonada, órfã, esperando alguém para adotá-la, mesmo que saiba que no futuro, irão maltratá-la e abandoná-la de novo. Um ciclo, como tudo na vida.

O engraçado de tudo isso é a bipolaridade e hipocrisia, tanto na mídia velha, quanto nos chamados blogs progressistas sobre o que significa, sobre quem perde e quem ganha. Bom eu gosto de fazer o negativo: quem mais está irritado com essa “jogada”? É só olhar os críticos pra ver que parece que ela fez a coisa certa. Então, é só ler a mídia/blogs e deduzir.

Não estou dizendo que ela seja vítima, ou que vá salvar o Brasil. Só estou dizendo que mal não f az. Tentar não doí. Sei que a mídia começará a endeusá-la em: “3, 2, 1…”. Eles vão apoiar qualquer um que tenha o mínimo de possibilidade de interromper o projeto de poder do PT. Qualquer um. Hitler ou Stálin se estivessem vivos – ou, em último caso se pudessem ser ressuscitados. Só que, há tantos – bilhões, digo – em jogo, que editores recomendam aos seus jornalistas-quase-escravos muita calma nessa hora. E é o que – salvo raras exceções – estão fazendo.

Mas ela, Marina, parece ter passado de sonho a pesadelo em poucos dias, não só para todos os seus principais adversários, mas principalmente para aqueles que a receberam sorridentes de braços abertos. Esses agora sentem o gostinho de terem sido picados por um escorpião que estava nas costas, do estrangulamento da planta oportunista sobre a outra quando decide romper com a harmonia do mutualismo, enfim, de se ter na barriga fecundada por um oitavo passageiro que após crescer no hospedeiro, inevitavelmente, tomará conta do corpo para completar sua missão. Quando o processo terminar, o que restar do corpo ficará pelo caminho, enquanto o oitavo passageiro, instintivamente, partirá para caçar suas presas.

E eu que achei que 2014 ia ser sem graça, e eu que achei que o Eduardo Campos estava sendo hábil. Lula de saias, como sempre disse.

“Janio de Freitas

 O não dito pelo dito

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As Peças se Movem

Checkmate2

Quando deixei Brasília, na sexta, tinha certeza que alguma coisa iria acontecer. Não sabia dizer o que, mas as aguas que levam à 2014 estavam muito calmas. Assim com tem algo acontecendo entre SP-MG mas não consigo entender/aceitar. Preconceito? Talvez precise “esvaziar a mente”. Mas fico feliz em saber que todos no meio político foi pego de surpresa com a decisão da Marina.

Acho que pesou muito para ela a decisão – a meu ver equivocada – no segundo turno de 2010. Vejamos: com um legado de 20 milhões de votos, um partido (PV) quase na mão e a possibilidade de conseguir no mínimo dois ou três Ministérios importantes no futuro governo Dilma – imaginem, por exemplo, MCT-FINEP e MMA-Ibama (mas…mas, não seria fisiologismo? Ah… tá! Se vocês ainda estão nessa, boa sorte.). Ela seria protagonista, não coadjuvante. Afinal a Presidenta é “low-profile” “by design”, por bem ou por mal. Mas a Dilma, passaria todo o primeiro mandato sob a sombra do “só venceu por que a Marina te apoiou”. E se o caldo entornasse, era sair pra disputar 2014, como – ups! – Eduardo Campos e o PSB.

Agora ela tem na mão uma vice na chapa de outro candidato, não conseguiu o PV (uma boa marca, com potencial, diga-se de passagem), não conseguiu tirar a sua Rede papel (não é um partido, mas, sem partidos há estabilidade democrática?), e só a (vaga) promessa do fim da reeleição já pra 2018 (kkk). Olha, eu não entendo muito disso não, é só hobby, mas eu ficaria com a primeira opção.

Ela apanhou do jogo político “hardcore” de Brasília. E pra se chegar à Presidência, é OBRIGATÓRIO passar por isso. Assim como campanhas eleitorais TEM que ser sangrentas. O que não mata, fortalece. A estabilidade só chega depois do tremor. Enfim, não existe atalho na Democracia (na Ditadura, só a ilusão de um). Eduardo está jogando bem, e o Serra, esse ai, nessa parte sabe tudo.

Se não aguenta, bebe leite. Se não sabe brincar, não vem parquinho. Se não dá conta, pra quê que nasce? Esse é o jogo. Não fomos nós que o criamos, vai reclamar com Maquiavel.

Nada disso está nos jornais, não sei porquê. Mas esqueçam a mídia, às vezes penso que é parte do jogo, mas acho que é incompetência mesmo. Desaprenderam a fazer jornalismo. Uma pena. É óbvio, é evidente, que quem mais perde com essa decisão é o PSDB (com o Aécio). E o Serra pra ser candidato de novo, precisa, primeiro tirá-lo do caminho. E é o que está fazendo. Tijolo, por tijolo.

Já o Eduardo Campos está fazendo o que é possível (e depois de sábado, ficou claro, o impossível). Voltemos ao começo: O Lula prometeu a ele, a chance – ressalte-se, a chance – de ser o candidato da “aliança hegemônica” em 2018. Ele até que deve confiar no Lula, ele não confia é no PT. Faz bem, pois partidos políticos são criados para isso. É só olhar para seu arquirrival pra ver o que ocorre quando se deixa de buscar o poder, e se perde na disputa interna. Mas a disputa interna no PT, dizem, é o pior dos mundos, quem pôs ordem na casa foi o @Barbudo83porcento.

É só olhar pra São Paulo e ver que o Haddad – quando o Governo Federal não ferra com tudo, como por exemplo, agendando data de aumento de preços – está fazendo tudo certo. Invertendo a lógica do desenvolvimento da cidade, criando corredores de ônibus, fazendo todas as maldades possíveis no primeiro ano, etc. Não cabe aqui essa analise, mas se tudo caminhar como programado, será ele o candidato em 2018. Já o Padilha – de quem gosto muito – tem primeiro que vencer. Não vou me alongar, só exemplificar: em 2002 o Genoino perdeu o Governo de SP para o Alckmin por uma pequena margem, e, virou Presidente do PT. O presidente que teve que assinar aqueles contratos e o resto é história. E ela, meus caros, não é uma guria muito sentimental.

Oras, o Eduardo viu esse cenário e entendeu que é agora ou nunca. E cruzou o Rubicão.

Político com coragem SEMPRE não sobrevive por muito tempo, MAS em algum momento é preciso tê-la (por exemplo: para democratizar a mídia, enfrentar as teles, para investir em segurança nacional e inteligência, e inúmeros outros temas). Querem condená-lo por ter a coragem, que muitos, após chegar ao poder deixaram de ter?

Traição? Política é a arte de trair (desde s-e-m-p-r-e: Et tu Brute?). Então, sair como candidatos é a única maneira que eles – ambos da base do governo Lula/PT – tem para fazer jus ao legado que foi deixado. Programas? Nenhum partido político no Brasil tem um programa estruturado. Não é o “nosso jeito” de fazer as coisas. Vivam com isso e parem de sofrer. Mas eles tem ideias: sustentabilidade, inovação, gestão, etc. Eu acho que são bases boas para se começar a “brincar”, para se entrar no jogo.

Por favor, parem de acreditar na política personalista, no salvador da pátria, na madre teresa de Calcutá, na falácia do voto transformador a cada dois anos. A política somos nós. Ela é fruto da nossa ação – ou, inação. A sociedade brasileira é reflexo do que somos e fazemos individualmente. Então se existe uma ideia que você gosta – pqp – participe, construa e defenda!

E, peloamordedeus, bando de velhos cansados, deixem eles jogarem. Mal não faz. E no final, é o Brasil quem agradece.

Quando Setembro Chegar

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Muitos ficaram preocupados com a fúria dos jovens e adolescentes. Black bloc, anarquistas, etc. Eu nunca me preocupei muito. Primeiro, por causa da minha “origem” punk até o osso. Segundo, por que, como o Draper falou, os adolescentes SEMPRE serão revoltados. Com todos e em todos lugares, não sobra ninguém. Se começa pelos Pais, imaginem com os partidos e com a política. Melhor aceitar e tomar uma. Bola pra frente.

Desde os eventos que incendiaram as ruas em Junho de 2013, muita coisa mudou, muitas não. A percepção é que o Governo acordou e tem tentado – ainda que lentamente – tomar atitudes antes postergadas. Existem mudanças em áreas do governo que não se movem, ainda a serem feitas. Mas presidente algum faz isso com a faca no pescoço. Capitular, jamais.

Contrapor Saúde e Educação vs Copa e Olimpíadas é uma puta de uma hipocrisia e ignorância. Mas não é assim que a coisa funciona, não é mesmo? Mas o governo federal falhou naquilo em que se propôs: mobilidade urbana. Dar dinheiro para Estados e Municípios tocarem as obras nunca dá certo, não é mesmo Aeroporto de Goiânia?

A cobertura da mídia foi a tradicional. Mas também foram pegos de surpresa. Às vezes relutante (pois tem muito a lucrar nos eventos, principalmente a monopolista) tentou, constrangedoramente disfarçada, manipular, inserir a “tradução do sentimento das ruas” em legendas e em horário nobre. Se funcionou ou não, não sabemos. Tudo está tão turvo ainda que as ondas no lago ainda podem retornar de volta aos pés. E como dizem, do lado do Marinho não fica gente burra, eles já perceberam isso.

Parte importante dos eventos foi que o Congresso acordou do torpor em que vivia mergulhado. Absorto entre benesses e privilégios, mudou pontos importantes. Mas já mostra que, como um burro carregado, só irá se mover na base do chicote. Afinal, já comeram todas as cenouras. Então só sobrou o porrete. Mas bater no Congresso é o esporte nacional preferido. E pior, o Executivo, e agora o Judiciário, se uniram irresponsavelmente nessa “onda”. Fica a dica: a Ditadura – do ponto de vista histórico – foi bem ali, ok?

O mais importante do saldo: a oposição continua perdida. A maior prova são as absurdas declarações que a estratégia para 2014 depende “da situação da Presidenta APÓS o 7 de Setembro”. Ou seja, já está carimbada como torcedores do quanto pior melhor. Propostas para os problemas e demandas (sejam elas quais forem) ninguém ouviu falar até agora.

A verdade é que até o momento não há alternativa ao que está ai. E como a tradicional sabedoria popular dificilmente troca o meia bomba pelo incerto, somado ao caráter plebiscitário das reeleições em todo o mundo, Dilma até agora, continua forte candidata à reeleição e o PT rumo a alcançar incríveis 16 anos de domínio do Executivo Federal.

Hegemonia, seu nome é a união PT+PMDB. Agradeçam ao José Dirceu (isso mesmo), e depois ao Lula. Até agora nem sinal da ladainha repetida ad nauseam de traição. Se ocorrer uma ruptura agora, será fruto da fadiga de material que naturalmente ocorre em qualquer aliança.

Ressalva importante: ninguém aqui está torcendo ou contando vitória antes da hora (sabem que detesto isso, aliás parte do que se viu nas ruas foi fruto do tradicional salto alto petista) só estou tentando mostrar como a falta de alternativa programática e a força de uma aliança bem amalgamada, com a pitada de um marketing político bem feito, facilita bastante.

E, ignorem a mídia, o governo fez muito. Terá o que mostrar. Mas não o bastante, não perceberam que a Agenda mudou. Mas apesar dos inúmeros erros nesse 1º mandato (e todo 1º mandato é difícil), a reeleição continua mais provável.

Talvez todo esse cenário poderia ser diferente, se bots e puppets nas redes sociais, tivessem sido ligados em junho de 2014. Talvez não houvesse espaço para recuperação. E principalmente, se a “alternativa” tivesse feito o “dever de casa” e nesse momento tivesse em mãos, um partido, um projeto.

Felizmente (ou infelizmente para alguns) não é o caso. A única coisa que ofereceram à infante democracia brasileira foi o eco irresponsável da “demonização da política”. Isso ficou bem claro, e está registrado.

Em 2014, “aniversário” de 50 anos da Ditadura, será um bom momento para se relembrar.

Estratégia dos EUA na COP era apoiar a Marina em detrimento do Celso Amorim



E agora Marina? Agora está tudo explicado, o apoio do Cameron, o jatinho jatão na reta final da campanha, etc. Mas eu nem fico puto com isso, pq já desconfiava, eu fico puto pq vou ter que concordar com o louco do PHA.

Só falta algum vazamento mostrando alguma ONG em contato direto com diplomatas.

PS.: Eu que sempre respeitei e admirei a nível, o durissimo processo de seleção do Itamarati, estou absorto com o linguajar da diplomacia americana. Mas não só isso, estou abismado com o baixo nível e na qualidade dos relatos vazados. Estou até pensando em tentar a área diplomática agora.

WikiLeaks: Lula “cacarejou” sobre clima, dizem EUA

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WikiLeaks: Lula “cacarejou” sobre clima, dizem EUA
09 de dezembro de 2010 • 07h57 • atualizado às 08h46

Novos documentos do site WikiLeaks mostram críticas dos diplomatas americanos à atitude brasileira nas negociações internacionais do clima. Os telegramas foram escritos entre 2008 e 2010. Em um deles, o suposto protagonismo brasileiro na cúpula do clima de Copenhague, no final de 2009, é ironizado. Segundo a diplomata Lisa Kubiske, “Lula cacarejou” suas conquistas ambientais e sua capacidade de costurar um acordo. Para os EUA, o Brasil teria assumido uma imagem exagerada de “herói” e “cavaleiro branco”. As informações são do jornal Folha de S. Paulo.

Os documentos mostram a estratégia dos EUA para atrair o apoio brasileiro para suas propostas. O país pretendia enfraquecer o Itamaraty em favor do MMA (Ministério do Meio Ambiente). Isso porque se, por um lado, os diplomatas brasileiros eram contra a ideia de que países em desenvolvimento assumissem metas de redução de emissões de CO2, o MMA defendia que todas as nações dividissem a responsabilidade pelos cortes

Um “Belo-Monte” de razões para continuarmos dialogando com os “verdes”

“Temos motivos suficientes para avançar numa agenda da sustentabilidade.”

Eu vinha tentando arrumar tempo para escrever esse post, mas “tempus fugit”. Sorte que encontrei esse post do “Café & Aspirinas” (um desses blogs que quando você encontra, sente que vale a pena perder tanto tempo na internet) me ajuda pois mostra o quanto a campanha da Dilma resolveu encarar a questão da sustentabilidade. Assim posso ir direto ao assunto, sobre o que acho que deve ser feito daqui em diante.

Acredito que a campanha da Dilma deve incorporar as principais demandas do PV e da Marina (parem de lutar com a realidade. Ela teve 20% dos votos válidos, ela é, hoje, a representante dessa agenda. Amanhã vai ser um outro dia, mas hoje essa é a realidade). Pode ser parcialmente, pois vi alguns exageros (do tipo aquelas coisas que o Greenpeace pede). Acredito que a estratégia correta da Marina deveria ter sido um apoio a Dilma, e uma tentativa de incorporar parte do legado do governo Lula (mas vai que a Dilma perde, né?). De qualquer forma, o mais importante é que os “verdes” consigam eleger uma bancada ampla, para se contrapor aos ruralistas.

Mas é importante manter um dialogo de alto nível. Essa agenda veio pra ficar. Em algum post ai atrás, propus que a Dilma lançasse uma “espécie” de “Carta ao Povo Brasileiro v2.0 – Meio Ambiente”. Pra mim que a Dilma é uma desenvolvimentista estava consolidado na cabeça das pessoas, o que precisávamos naquele momento era uma demonstração clara que se comprometeria com as causas ambientais. Pra Dilma, meio-ambiente era o que a Política Monetária foi para o Lula.

Talvez se tivessem me ouvido, não teríamos segundo turno (ups, esqueci da “tsunami de spams” sobre o aborto. Aliás alguém do PT começou a investigar a origem. Está claro que foi orquestrado). Mas já disse, o segundo turno está sendo – dentro das constrangedoras limitações impostas pelo adversário – útil. Por inúmeros motivos, que a falta de tempo me impede de listar agora.

Voltando ao que interessa: temos um Belo-Monte de razões pra discutir com os verdes. E não só com eles. Com os que representam os direitos do indígenas (antes que alguém venha falar besteira: não estamos falando de dinheiro, estamos falando de valores, princípios). É permitir que minorias tenham voz. É começar a pensar o Brasil, com a dimensão que merece, sim, mas também pensar no longo-prazo (minha maior crítica ao governo Lula).

Nesse sentido, acho que a nossa ânsia – e, por que não, necessidade – de desenvolvimento não pode nos impedir de sermos melhores. Não basta fazer o que os outros fizeram. Temos que construir o “nosso modelo de desenvolvimento sustentável”. Não somos China. Somos mais. Não somos EUA (massacre dos nativos norte-americanos ensinou alguma coisa?). Vamos ser mais.

Mas para isso, é preciso saber escutar a mensagem que o povo brasileiro enviou. Eu acho que parte desses milhões de votos é barulho suficiente até para um surdo entender que eles estão lá. Certo?

Café & Aspirinas: Dilma quer desenvolvimento com sustentabilidade

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Dilma quer desenvolvimento com sustentabilidade
….
Material de campanha da Dilma Rousseff que circula nas ruas e na internet traz o texto abaixo e os 13 compromissos da canditata com o desenvolvimento sustentável do Brasil.

A política ambiental de Dilma vai aprofundar os avanços conquistados no Governo Lula na construção de um novo padrão de desenvolvimento sustentável e includente. No período 2003-2010 foram destinados 26,8 milhões de hectares para novas Unidades de Conservação, o que corresponde a 75% das áreas de conservação da biodiversidade criadas no mundo depois de 2003. E o desmatamento da Amazônia foi reduzido a menos de 7,5 mil km2 em 2009, graças à ação integrada de fiscalização, apoio à produção sustentável e regularização fundiária.

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A classe média é mesmo ingrata?

“Não falta no programa da Dilma uma grande proposta para a classe média, como a que o Obama fez?”

Numa não-discussão com um colega por e-mail ele afirmou que nem ele, nem sua família (classe média alta) sentiram na pele os tão propalado sucesso econômico do governo Lula. Essa afirmação, ao contrário do que tem ocorrido com os demais argumentos, esse plantou uma dúvida na minha cabeça: será que a classe média é ingrata ou ela não participou ativamente da festa? Seria essa a razão do insucesso no primeiro turno?

Quando mergulhamos de cabeça no embate político cometemos o erro de ignorar as dúvidas que vão surgindo no processo. Por outro lado, assumimos como verdades absolutas os dados que saem das pesquisas de opinião. Quem conhece minimamente de estatística, e tem compromisso com a verdade, sabe que esse pode ser um erro fatal. A verdade é que as estatísticas dizem que o governo Lula é bem avaliado na classe média, mas coloca no mesmo balaio, aqueles que subiram recentemente para esse estamento, e aqueles que por sua consciência social dão um voto favorável às iniciativas deste governo, mesmo tendo pouco para comemorar.

Podemos citar uma dezena de exemplos de como a classe média foi, mais uma vez – comemos o pão que o diabo amassou na era FHC –  escanteada nas suas demandas. Basta observar o descaso com a melhoria da qualidade do serviço público e na regulação das empresas privatizadas. Oras, ao argumentar com outro colega que isso foi fruto da promiscuidade das privatizações e que as agências foram, deliberadamente, fragilizadas a fim de permitir que os “investidores” pudessem recuperar seus recursos mais rapidamente, ele contra-argumentou, sabiamente, que o governo Lula teve oito anos pra resolver isso e não resolveu. É verdade.

Podemos vasculhar por mais exemplos de como, na verdade, mais uma vez, o PT sofre na mão da classe média por culpa do seu preconceito e sua incapacidade de atacar as classes mais altas (o exemplo do Plínio em que diz que um empréstimo para o Eike vale um Bolsa-Família inteiro é uma demonstração disso. Outro é como o governo Lula mudou pouco no processo de transferência de recursos para a velha mídia). Para falar a verdade – eu sou classe média também, como a maioria a minha volta – eu mesmo tenho muito pouco que agradecer ao governo Lula por políticas específicas para mim e para minha família. Voto na Dilma, principalmente, por que sei que esse projeto beneficiou os mais pobres.

Mas isso, de modo algum, serve de argumento para convencer aqueles que não a apoiam por essa razão a fazê-lo. Uma grande parte ainda vota na Dilma e outra no Serra. Mas não seria esse contingente de insatisfeitos que alimentaram a tão propalada “onda verde”? Se for verdade, não seria o caso da Dilma fazer uma grande proposta, arrojada, para essa classe? Algo relacionado a empreendedorismo e a redução de impostos para as faixas mais baixas do imposto de renda? Uma proposta de impacto ao invés de ficar só se defendendo de mentiras?

PS.: Espero sinceramente que a campanha da Dilma leia esse post antes da campanha do Serra.

Seja bem-vindo, segundo turno.


“Vox Populi, Vox Dei.”

Tivemos um resultado extraordinário no Senado e na Câmara, primeira missão completada. Agora, vamos enfrentar um segundo turno duro e sangrento (como ressaltei aqui diversas vezes). Mas se é assim que tem que ser, assim será. O povo brasileiro é conservador, mas sábio. A classe média é superficial e ingrata. Mas o que não mata fortalece.

Parem de lutar contra os fatos. A Marina é a grande vitoriosa, com aproximadamente 20% dos votos válidos, tem tudo pra disputar com o outro vitorioso, Aécio Neves, a liderança da nova oposição (que agora fica livre dos velhos senadores, e terá que abrir espaços para novas lideranças). Tudo vai depender de como vai encaminhar e administrar esse cacife que as urnas forneceram.

Parem de passar recibo para a mídia. A Dilma saiu de 0 para 47.649.507 votos em menos de dois anos. Isso não é trivial. Um feito fantástico, extraordinário, único. Mas se os eleitores estavam susceptíveis a mudanças de última hora, é por que precisavam refletir mais sobre temas espinhosos, Dilma (ela, não mais o Lula) tem que demonstrar capacidade de resistir às baixarias, religiosas inclusive. É do jogo, é assim que a democracia funciona. É assim que escolheremos um líder capaz de aguentar a pressão infinitamente maior que virá pela frente. Campanha é só seleção pra trainee desse cargo tão importante. E ainda bem que é assim.

José Serra, agora tem a chance da sua vida. Tem que demonstrar habilidade e competência, coisa que não demonstrou até agora. Marina o colocou nesse segundo turno, agora é com ele e com sua equipe. De certa forma, está sozinho, Aécio e Marina não tem nada a ganhar o apoiando. Mas muita coisa pode mudar, do vice ao fim da reeleição (que fica mais difícil com esse Senado). E duvido que aja clima para construir “pontes de confiança”. Se o PT está unido – temporariamente – a oposição está passando por um momento de profundas mudanças e, por isso, está dividido. Alckmin em São Paulo não deve ser descartado como liderança.

Mas se essa é a chance do Serra, também é a chance de ouro da Dilma escrever seu nome na história. Além disso os estrategistas da campanha da Dilma, optaram por fazer uma campanha de “alto nível” ignorando os ataques, sem desconstruir as falsas promessas do Serra e o bom mocismo da Marina. A despeito do que disse aqui, a Dilma não deu demonstrações claras aos eleitores “verdes” que se comprometeria com a sua agenda. E à direita religiosa, somente no final, após pressões. Confiou nos acordos de bastidores com os evangélicos e com a força da esquerda católica – que parece não apita mais nada. Todos esses atores, democraticamente, impuseram a sua agenda.

Agora é hora de jogar o jogo. Para conquistar os verdes eu proponho uma “carta ao povo brasileiro v2.0” na sua versão ambiental. Meio-ambiente para a Dilma, é o que o mercado financeiro foi para o Lula. É preciso reagir. Para estancar a questão religiosa, eu proponho liberar a Dilma da contingência, pois ela sempre se saiu melhor quando foi direta ao assunto – mesmo que de maneira dura – e resolver isso de maneira rápida e com respostas curtas. Mas como estadista, ou seja, o discurso é o que ela apresentou no final, mas falando às pessoas.

Sobre a boataria de baixo nível, é inaceitável, que uma campanha multi-milionária precise contar com os esforços da blogosfera amadora para criar um site para municiar as respostas aos e-mails difamatórios. Aonde estava a equipe do João Santana? Fazendo tomadas épica do Brasil de norte a sul. Só isso não vence as eleições. E mais, vocês tem certeza que FHC está pendurado no pescoço do Serra? Por que com quem eu conversei, não é o que parece. Tem gente que nem lembra que o Serra foi Ministro do FHC. Finalizando, a militância tem que sair um pouco do alienante twitter, que não vence eleição, não derruba ditador, nem presidente do Senado. Duvido que derrube um presidente de diretório acadêmico. Campanha se vence na rua, conversando com o povo, principalmente os mais simples. Falando pouco e ouvindo muito.

Enfim, a meu ver, não é assim que esse jogo deve ser jogado. Reação rápida, não tampem o sol com a peneira, mas não passem recibo para a mídia. Nem vitória, nem derrota. Foi a voz rouca das ruas falando, democraticamente, o que quer para o seu futuro.

Serra foge do debate com cientistas da SBPC. Dilma e Marina não.

Serra foge da reunião da SBPC

 

José Serra é o único dos três principais candidatos a presidente que não vai comparecer à 62ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), esta semana, em Natal, que terá como tema as ciências do mar. Dilma Rousseff e Marina Silva confirmaram presença, mas Serra alegou problemas de agenda para cancelar sua visita, prevista para quinta-feira. A dica foi do nosso colaborador Gustavo, que mandou o link da notícia publicada no site nominuto.com.

Quero ver como a mídia vai reagir. Quando Dilma alegou problema de agenda, e de fato foi ao exterior para uma série de encontros, para não comparecer à sabatina da Folha de S.Paulo fizeram um carnaval, e o próprio Serra explorou a questão dizendo que Dilma fugia de debates.

Agora eu pergunto, o que vale mais: ir a uma sabatina de um jornal totalmente comprometido com a candidatura Serra, que se mostrou dócil com o candidato tucano, mas que faria tudo para derrubar Dilma, ou comparecer a um encontro que reúne os maiores cientistas e pesquisadores do país?

As reuniões da SBPC foram um fórum de resistência durante os anos de ditadura no Brasil, e nela está um público de alta capacidade crítica, capaz de sustentar um debate de alto nível com qualquer candidato. Serra não gosta de enfrentar um público que não lhe seja servil. Não tolera nem jornalistas dos meios amigos que ousam incomodá-lo com alguma pergunta que o contrarie.

Na reunião da SBPC, Serra seria confrontado com a política educacional dos tucanos, que sucateou as universidades federais e desvalorizou seu corpo docente. Certamente seria lembrado também de como lidou com movimentos reivindicatórios, como os dos professores da USP, tratados a cassetete e gás lacrimogêneo, como a ditadura fazia em seus tempos mais sombrios.

Serra não quer debate nenhum com a sociedade. No máximo vai a encontros de entidades patronais e de empresários, onde pode soltar sua ultrapassada cantilena contra os movimentos sociais e os governos de esquerda da América Latina, pois sabe que terá uma claque a aplaudi-lo.

O pós-Datafolha

A Vox foi encerrada dias 11 e 12/05 em alguns estados. A nacional encerrou dia 13. Parece que, em um momento de mudança, independentemente das inserções, dois dias fazem diferença e as estaduais da Vox foram, em geral, mais favoráveis a Serra que a pesquisa nacional (foram amostras diferentes.) A recente Sensus terminou a coleta dia 14 e captou algo de efeito do programa mais longo do PT.

O Datafolha surpreendeu hoje (22/05), mas pode apresentar os seguintes argumentos: 

a) Vox e Sensus captam um cenário “na média” mais favorável a Dilma por pequenas diferenças metodológicas. Em ambiente “constante”, os resultados seriam diferentes entre os institutos; em ambiente de crescimento de uma campanha, captariam antes; 

b) Se as próximas pesquisas de outros institutos ampliarem a vantagem de Dilma, será por causa do programa de 13/mai.; 

c) o DEM fará programa em 26/05, talvez elogiando a parceria com Serra. O PSDB fará programa em 16/06. Se houver pesquisa após isso, aí Serra talvez recupere algo da perda recente. 

É cedo, sem ocorrer campanha, para falar em vitória no 1º turno para qualquer um, embora haja uma tendência clara para isso. Obviamente seria necessário esperar que um candidato suplantasse a soma dos demais. Mas, comparando-se as pesquisas de 2º turno com as de 1º, nota-se que os votos de Marina se dividem mais ou menos igual (nas duas últimas pesquisas Dilma saiu levemente favorecida nisso.) 

Não é muito notado, mas nas pesquisas de 2º turno as oscilações são menores no tempo e entre os institutos. Desde o lançamento da candidatura de Dilma (25/fev.), esta sempre esteve entre 44% e 52% dos votos válidos. Serra entre 48% e 56%. 

Podemos olhar esse indicador no tempo, cobrindo um ano de campanha, sempre lembrando que, se um eleitor em 25 mudar de idéia, não se trata mais de 4%, posto que os indecisos já estão em patamar bem baixo, mas, sim, de 8% (essa é a razão porque, agora, os desenhos mostrando a “boca do jacaré” apresentam uma simetria, e não apenas uma candidatura caindo ou outra subindo.) 

Também temos que ter em mente os próximos passos do calendário das campanhas.

  

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