Rumo a 2014

eleições 2014A sorte está lançada. Hoje começa a disputa eleitoral de verdade, afinal, saberemos o que se passa nas cabeças dos juízes, nas fraldas das crianças, e principalmente, nas sombras das esquinas de Brasília. Política da boa, “hardcore”, como tem que ser. Aquela aonde a “filha chora e a mãe não vê”. Ou pelo menos, finge que não vê.

Marina, por quem, ao contrário de muitos à esquerda e à direita, tenho um certo apreço – por sua história, por sua força e bravura escondida naquela aparência frágil – vai saber se o “Poder” permitirá que tenha o seu partido. Cometeu erros trágicos, como por exemplo, permitir que a colocassem nessa situação. Um líder é o senhor do seu tempo, e nunca deixaria que cartorários e juízes tivessem o seu futuro em suas mãos. Ela conviveu com o (escorregadio) Lula, teria a obrigação de ter aprendido alguma coisa. Hesitou – um erro fatal na política – e os prazos se encurtaram. A culpa não é de ninguém a não ser dela.

Mas não será o que a mídia irá vender. Normal. Engraçado como tentarão jogar no colo do PT/Dilma a responsabilidade, como se o PSDB estagnado não ganhasse com isso. Grande parte da direita e do empresariado, vão querer os votos da Marina, na chapa de outra marionete (que não o PT). Se ela não conseguir o seu “não-partido” a pressão será grande para ser protagonista ou coadjuvante em outra chapa. Eu não acredito que ela vergará, tampouco que irá para outro partido. Mas posso estar errado, a pressão como disse será imensa. Uma tristeza, mas ela é que se colocou nessa situação.

Tecnicamente, qualquer decisão será válida, mas a tendência óbvia é de não aprovação. A lei é bem clara a esse respeito. Mas afinal, vivemos num pais aonde o Judiciário se sente livre pra legislar mais que o próprio Congresso. O Brasil é um dos únicos países que possui uma Justiça Eleitoral, que na democracia, deveria ser só uma comissão para organizar as eleições, se tornou um monstro que decide quem são os jogadores, os reservas e os árbitros. Se deixarmos, um dia vai decidir até quem serão os torcedores. Isso quando não são pegos no flagra fazendo negócios escusos com empresas privadas (e a Serasa-Experian é quase uma NSA privada).

Aproveitando que falei em Lula, gostaria de entender o que se passa na cabeça de alguns. Afinal, nunca antes na história banqueiros e empresários lucraram como no governo dele (e pra mim, a aceitação do capitalismo como ele é, foi sua maior virtude, e, 83% de aprovação no final estão ai pra comprovar.). Agora a Marina não pode receber o patrocínio do Itaú e da Natural (entre outras empresas, ongs e multinacionais). Isso é incoerência e hipocrisia.

Que fique claro, a minha visão atual é que essa relação privado x público é a maior doença da democracia. Mas na ausência de uma alternativa – e aceito que a minha/nossa omissão na parte ativa da política, responsabilidade nisso – não devemos julgar os políticos por seus apoiadores privados. Afinal, se for pra julgar (sem dois pesos e duas medidas), hoje, não sobraria um único partido. Aliás, esse parece ser o sonho de alguns, e o pesadelo antigo de outros, como eu.

Voltando, se a situação da Marina (20 milhões de votos, não se esqueçam) é incerta. O cenário é cada vez mais propício para a reeleição da Dilma. Mas com o “espírito do tempo” tão aberto para o novo, nada indica que 2014 será tão previsível assim. As redes sociais e a comunicação em tempo real se tornaram um enigma para políticos e estrategistas, mais que uma mera ferramenta (como sempre acreditei).

Para piorar a situação da Dilma, se novas manifestações ocorrerem ela não poderá usar nenhum tipo de repressão, afinal, 50 anos da ditadura, e a última coisa que queremos é o Exército e a Força Nacional nas ruas durante a Copa. Ela também não tem nenhum tipo de serviço de inteligência ao seu dispor. Estará navegando às cegas. Na economia, ao contrário de muitos, acho que a história da “É a economia, estúpido!” virou um bordão antiquado. A economia estará bem, obrigado, com o desemprego baixo, a inflação controlada e um crescimento num nível razoável. Mas não será tão relevante quanto nas eleições anteriores. Quem quiser acreditar, que acredite. É uma premissa, mas perdeu a importância, assim com a estabilidade monetária e a diminuição da pobreza.

Como disse, numa breve recaída às redes sociais – como um nóia tentando parar de fumar crack – a agenda mudou, adequem-se.

Já o Eduardo Campos fez o que tinha que fazer – novamente discordo com muitos comentaristas na blogosfera e colunistas da Velha Mídia – pois tentou criar uma base para alçar voos mais altos, pôs o carro na rua. Apareceu na mídia, seu nome girou, mas até agora não conseguiu gerar tração. Mas não é o fim do mundo. Eu acho que a estratégia foi interessante (mas o tempo é quem dirá). Enxergou as fraquezas do PSDB (perdido como sempre na disputa MG x SP) e cacifou seu nome do com PIB e com a direita liberal. E com parte da mídia (só que a mídia não ama ninguém, só o dinheiro).

Afinal meus caros, que opção restou a ele? Lula trouxe o PT para o centro, e com isso deslocou todo mundo pra direita. Não havia muita opção. Foi pescar aonde tinha peixe. Ele pecou nos detalhes: apoiou irrestritamente a mídia e o judiciário com todos os erros, e principalmente, não soube se conectar com as demandas que surgiram no pós-manifestações. Nada que uma boa estratégia não corrija. Erros de navegação, não de trajetória. E concordo com o Ciro, ele não mostrou o que planeja, o seu projeto. Mas pra sermos sinceros, nenhum dos adversários mostrou, ou mostrará. Parece ser uma característica da nossa política.

Sobrou o Aécio-Serra, mas não há muito o que falar. Eu simplesmente não entendi aquela nota do Aécio. Recuo tático para não perder São Paulo? Mas numa hora dessas? Talvez esteja acontecendo algo mais nas sombras que eu não consigo enxergar. Uma chapa sangue puro com o apoio explicito ao fim da reeleição? Confiar e depender do Serra não é um bom sinal. Diga-se de passagem, eu, e o resto dos eleitores brasileiros concordamos com a reeleição, só os políticos fora do poder que não. Obviamente, o FHC não precisava tê-la comprado a um preço tão alto. Mas cada um colhe o que plantou, e o legado do FHC está lá. No final o Aécio (e suas irmãs em MG) se tornaram a mais insossa das opções, e o Serra está vendo isso. Se o Áecio continuar estagnado….quem poderá nos salvar? Enfim, pobre PSDB.

Assim 2014 tem tudo para ser uma das eleições mais sem graça de todos os tempos. O PT sofrendo com a fadiga de material que é natural após 12 anos de poder. O PSDB perdido após descobrir que banqueiros, financistas e a velha mídia não elegem tão facilmente mais ninguém nesse pais. E por fora, duas figuras até interessantes, mas imaturas, cometendo erros primários no único momento em que não podiam errar. E sorte, nada mais é o encontro da oportunidade com a competência.

Mas ainda falta muito tempo, é hora de observar e refletir, para não ficarmos choramingando nas redes sociais, pedindo a cabeça de políticos que nós mesmo colocamos no poder.

3 comentários sobre “Rumo a 2014

    1. Cara, tudo muito incerto. As pessoas estão subestimando a possibilidade dele herdar a ideia de novo. Não sei, sei q ele está fazendo a lição de casa. Buscando votos/recursos aonde é possível. Tb acho que ainda pode ter 2º turno, não por causa da mídia, mas pq os eleitores brasileiros já deram sinais que gostam de um 2º turno para “refinar as propostas”.

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