Game Over


#shutdown -h now

este blog chega ao fim

do zero ao sessenta mil em seis meses

tem gente que recebe isso em um dia. mas pra mim, foi mais do que eu esperava

aprendi que escrever é viciante, mas dá um puta trabalho. revisar meus textos é uma tarefa ingrata, pois erro como uma criança do ensino fundamental, então, aumento para as professoras de português já!

aprendi que um mero blog pode te surpreender, como nos comentários no texto sobre o crack e o bolsa-família.

aprendi que tem muita gente boa por ai. meu email, esta ao lado, entrem em contato.

e que a luta continua. 2010 sangrento esta ai. rumo a vitoria, sempre.

ah, os motivos? os tradicionais: falta de tempo, outros planos e incompatibilidades.

aquele abraço,

Fernando da Silva Costa

The End

Nao dá pra contemporizar: O resultado do PIB foi ruim. Culpa do BC, de novo.

“PIB medíocre em 2009 :: Eleições, eleições. Negócios a parte. Sorte que em 2010, tudo vai ser diferente.”

Tudo bem que olhando pra frente as perspectivas são maravilhosas. PIB cinco estrelas em 2010. Próximo dos 6%. Bom, até demais, o que tem causado alguns temores inflacionários no BC. Provavelmente os juros vão ter que subir, se a inflação continuar vindo alta assim.

Agora o resultado do PIB de 2009, apesar de todo esse falatório, que se vê até na mídia especializada, foi péssimo ruim. Mostrou como o BC errou em outubro de 2008, apesar de ter acertado nas medidas que vieram depois do Reveillon. Culpou uma certa “rigidez institucional”. Tenho minhas dúvidas, o problema foi não ponderar corretamente os efeitos da quebra do Lehman Bros. Sobrevalorizou um improvável “pass-through” cambial. Coisa de ortodoxo míope. Qdo os fatos mudam, muda-se de opinião, e principalmente, de abordagem. O grande mérito mesmo fica pra Fazenda, que fez o que pode, e com suas políticas anti-cíclicas evitou um desastre maior. De certa forma, se a Dilma ganhar estaremos em boas mãos com o Nelson Barbosa.

Agora, se o crescimento de 2010 está tão forte, pq o BC errou? Oras, se tivesse reagido de maneira ágil e ousada, o 4T de 2008 não teria sido aquele desastre, as demissões não seriam tão grandes – o que aliviaria o caixa com o seguro desemprego, por exemplo -, a economia retomaria o crescimento mais forte em 2009 – o que permitiria a remoção dos estímulos fiscais mais cedo, aliviando o orçamento e aumentaria a arrecadação, permitindo uma retomada do investimento, tanto privado como público, maior.

Sem contar, que principalmente, o carregamento estatístico seria menor em 2010, portanto não haveria essa impressão que a economia está no seu limite. Tem outras consequências a serem citadas, como o paradoxo dos estoques. A crise fez as industrias paralisarem tudo, a espera de um sinal dos céus, enquanto isso queimaram todos os estoques (lembram quem faltou carro e geladeira? então). Hj, vemos que o uso do estoque, comeu um pedaço do crescimento do PIB. Afinal se vendeu o que já estava produzido (e contabilizado no PIB passado) e não se produziu pra repor. Estão produzindo hj.

Enfim, tudo isso seria evitado, com um pouquinho mais de ousadia.

Por isso, décimo maior crescimento no mundo, é o copo meio cheio, meio vazio. Depende do ponto de vista. Eu não vou contemporizar só por causa das eleições. Acho que o BC erra demais, nas horas críticas, e isso custa caro para a Nação. E o Lula hesitou no momento de mudança. Qdo aparentemente tinha decidido mudar, a crise veio. E ele abortou o plano.

Pra mim esse resultado, não combina com a ideia de Brasil grande que nós nos acostumamos. O nosso lugar era o terceiro ou quarto, logo atrás somente da China e da Índia (e sim, isso é uma corrida sim).

Aliás, quem nós convenceu e propaga essa visão, é o próprio Lula. Temos que fazer por onde, não basta só “querer”. Espero que ele não tenha ficado satisfeito, pelo menos internamente, com esse crescimento zero.

Bresser na Carta Capital



Economia – CartaCapital

Luiz Antonio Cintra e Sergio Lirio


O câmbio no lugar


05/03/2010 15:06:53

Luiz Carlos Bresser-Pereira é um economista de muitas ideias na cabeça, todas contrárias à ortodoxia. Uma pode facilmente ser classificada como uma autêntica obsessão, conforme reconhece o professor da FGV-SP e ex-ministro da Fazenda (governo Sarney) e da Reforma Administrativa (FHC). “Há dez anos venho falando do equívoco que é o país crescer com poupança externa”, diz Bresser-Pereira, no confortável escritório onde recebe CartaCapital, em sua casa no bairro do Morumbi, em São Paulo. Cultivada em seminários mundo afora, sua ideia fixa ganhou corpo a ponto de virar um livro (Globalização e Competição, de 2009), com direito a versões em inglês, francês e, ainda no prelo, espanhol. “Somente na introdução da edição espanhola cheguei ao nome da teoria que está por trás, que inventei depois do livro pronto, a Macroeconomia Estruturalista do Desenvolvimento.” Na entrevista a seguir, Bresser navega por essas e outras águas. Sempre sem perder a chance de alfinetar os seus colegas de ofício, em especial os “phdezinhos” de corte ortodoxo.

Confira, nos links abaixo, a íntegra da entrevista.

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Bresser na Carta Capital



Economia – CartaCapital

Luiz Antonio Cintra e Sergio Lirio


O câmbio no lugar


05/03/2010 15:06:53

Luiz Carlos Bresser-Pereira é um economista de muitas ideias na cabeça, todas contrárias à ortodoxia. Uma pode facilmente ser classificada como uma autêntica obsessão, conforme reconhece o professor da FGV-SP e ex-ministro da Fazenda (governo Sarney) e da Reforma Administrativa (FHC). “Há dez anos venho falando do equívoco que é o país crescer com poupança externa”, diz Bresser-Pereira, no confortável escritório onde recebe CartaCapital, em sua casa no bairro do Morumbi, em São Paulo. Cultivada em seminários mundo afora, sua ideia fixa ganhou corpo a ponto de virar um livro (Globalização e Competição, de 2009), com direito a versões em inglês, francês e, ainda no prelo, espanhol. “Somente na introdução da edição espanhola cheguei ao nome da teoria que está por trás, que inventei depois do livro pronto, a Macroeconomia Estruturalista do Desenvolvimento.” Na entrevista a seguir, Bresser navega por essas e outras águas. Sempre sem perder a chance de alfinetar os seus colegas de ofício, em especial os “phdezinhos” de corte ortodoxo.

Confira, nos links abaixo, a íntegra da entrevista.


Íntegra da entrevista com o economista Luiz Carlos Bresser-Pereira (CartaCapital/Edição 586) – Parte 1

CartaCapital: O senhor tem falado da excessiva dependência do Brasil aos investimentos estrangeiros. O senhor poderia resumir a sua análise?
Luiz Carlos Bresser-Pereira: A coisa começou com a discussão sobre o crescimento com estabilidade, livro que eu fiz com (Yoshiaki) Nakano. Depois fiz uma crítica do crescimento com poupança externa, seja por meio do endividamento ou do investimento direto. Depois cheguei à doença holandesa. O que resultou desse percurso? Em dois livros, o primeiro chamado Macroeconomia da Estabilização, e o segundo, muito mais interessante por ser mais geral, chamado Globalização e Competição, já publicado também em inglês, francês e que agora está saindo em espanhol.

E nesse livro mais recente eu explico o que é o novo desenvolvimentismo, um tema que cada vez atrai mais atenção. E somente na introdução da edição espanhola, que ainda será publicada, cheguei ao nome da teoria que está por trás, que inventei depois, a Macroeconomia Estruturalista do Desenvolvimento.

CC: Em que consiste essa teoria?
LCBP: Trata-se de estudar o desenvolvimento do ponto de vista da demanda, não da oferta, a partir do pressuposto de que o problema fundamental dos países em desenvolvimento se situa no lado da demanda. Claro que existem problemas de oferta, de oferta de educação, o mais importante, de empresários, técnicos, engenheiros, instituições, tudo isso é importante. Mas são problemas de longo prazo.

Toda a questão do desenvolvimento é saber usar bem esses recursos escassos, e esse é o problema da demanda. São idéias muito novas, muito novas inclusive em relação à Unicamp, embora atualmente eu esteja absolutamente afinado com a Unicamp, onde tenho grandes amigos. Como tenho grandes amigos na Federal do Rio de Janeiro, e não tenho amigo na PUC ou na FGV do Rio, com exceção do Fernando Holanda Barbosa, um sujeito da melhor qualidade. Mas os ‘phdezinhos’, não.

Ontem, li um artigo do Affonso Celso Pastore, que me parece ser o melhor economista ortodoxo do País, um profissional respeitável. Mas é ortodoxo, o que é sempre um desastre. Aliás, toda ortodoxia é uma porcaria: neoclássica, keynesiana, marxista, schumpeteriana e qualquer outra que você mencionar. Mas o Pastore reclama dos economistas que, como eu, defendem uma taxa de câmbio desvalorizada para que haja desenvolvimento, tendo como referência os países asiáticos.

Na análise de Pastore, a desvalorização não é aplicável e, portanto, o Brasil precisa dramaticamente da poupança externa para se desenvolver. É uma bobagem muito grande. Há dez anos faço a crítica do desenvolvimento com poupança externa.

CC: Quais os principais problemas?
LCBP: Imagina-se que a poupança externa aumentará o investimento, mas não aumenta, o que cresce é o consumo. Às vezes aumenta um pouco também o investimento, mas pouco. Há uma alta taxa de substituição da poupança interna pela externa, e há toda uma teoria para isso.

Quando se decide crescer com a poupança externa, o câmbio se aprecia, necessariamente. A taxa de câmbio que equilibra uma conta corrente com zero de déficit é uma, e a taxa é outra e muito mais valorizada para uma conta corrente com 4,5% de déficit. Quando valoriza o câmbio, os salários aumentam, aumenta o consumo e diminui a poupança interna, já que a propensão marginal a consumir é muito elevada entre os mais pobres, cujos salários aumentaram.

Um outro raciocínio que dá no mesmo resultado: decide-se apreciar o câmbio e ao fazer isso, as oportunidades para investimentos lucrativos em exportação diminuem. Como Keynes, poderíamos dizer também que, quando cai o investimento, cai também a poupança interna. É isso o que o Pastore e os ‘phdezinhos’ não entendem. Eu disse que tenho horror à ortodoxia, não é isso? E também tenho horror ao populismo.

Quando fui ministro da Fazenda, no final dos anos 80, definiu-se o que era o populismo econômico, já que o populismo político é uma coisa muito antiga. Em 1991, organizei um livro sobre o populismo econômico, que significa basicamente gastar mais do que se arrecada, irresponsavelmente. Quando se pensa em populismo, pensa-se em populismo fiscal, o que significa dizer que não se deve ter déficits públicos ou deve-se ter um déficit pequeno que não aumente a dívida pública.

Se você for populista, gasta o que puder, como fez o governo conservador grego, um desastre completo, com a ajuda da Goldman Sachs, para esconder o déficit. Mas não entendo como esses economistas ortodoxos são contra o populismo fiscal, como eu também sou contra, mas são a favor do populismo cambial. Ou seja, o Brasil inteiro gastar mais do que arrecada é bom porque aumentaria o investimento, que já vimos que não aumenta. Que negócio é esse?

Economia – CartaCapital

CC: Esses economistas não são ingênuos. Por que defendem essa política?
LCBP: Você quer que eu faça economia política, mas hoje eu não estou muito animado a fazer economia política. Estou convencido de que essa macroeconomia estruturalista do desenvolvimento é uma coisa muito nova. E se baseia fundamentalmente em duas tendências. Uma, que discuto muito nesse livro, é a tendência à sobreapreciação da taxa de câmbio em todos os países em desenvolvimento, o que nunca ninguém disse antes.

A outra, que não discuto suficientemente no livro porque não era esse o objetivo, é a tendência dos salários crescerem menos do que a produtividade. Dois problemas de demanda. Se os salários crescem menos que a produtividade, significa que a demanda que vêm dos salários ficará insuficiente. Por que o Brasil cresceu bem nos últimos três anos? Fundamentalmente porque houve uma política distributiva, especialmente com o aumento real do salário-mínimo, o bolsa-família e o crédito consignado, sendo que este último considero não ser boa coisa.

Essas três coisas criaram demanda interna, neutralizando a tendência de crescimento menor dos salários. E porque existe essa tendência? Porque nos países em desenvolvimento existe a famosa oferta ilimitada de mão-de-obra, como se sabe desde meados dos anos 1950. Outro problema é a taxa de câmbio, rigorosamente um problema de demanda. Se houver uma taxa de câmbio de equilíbrio, uma empresa brasileira competitiva internacionalmente pagando salários mais baixos do que os europeus ou japoneses, essa empresa terá toda a demanda do mundo para ela.

Agora, se a taxa de câmbio fica não competitiva porque cronicamente sobreapreciada, essa mesma empresa perderá toda essa demanda. Ninguém diz isso, mas taxa de câmbio é uma variável que determina a demanda para as suas exportações, logo é fundamental para o País. E o que é a tendência à sobreapreciação do câmbio? Muito simples. É que a taxa de câmbio em um país em desenvolvimento, se deixada totalmente livre, em vez de flutuar suavemente em torno do equilíbrio, como supõe um economista ortodoxo ou neoclássico, ou volatilmente em torno do equilíbrio, como pensa um economista ortodoxo keynesiano – também sou keynesiano, mas não ortodoxo –, a taxa de câmbio começa com uma crise em que ela se deprecia violentamente, depois vai gradualmente se apreciando, o país entra em déficit em conta corrente, aumenta a dívida externa, até que em um certo momento os banqueiros perdem a confiança e surge uma crise de balança de pagamentos. O que eu explico é óbvio, mas não está nos livros-texto nem nos papers nem em lugar nenhum.

CC: Por que isso acontece?
LCBP: Por dois motivos. Um é a doença holandesa, que muda tudo na ciência econômica e isso foi a coisa mais incrível que descobri. Eu não descobri a doença holandesa, ela foi descoberta pelos holandeses nos anos 1960 e a Economist a definiu nos anos 70 com esse nome. No começo dos anos 80, um grande economista de economia internacional fez um paper teórico importante, mas acho que o meu paper, o capítulo 5º do livro, muda muito a visão sobre a doença holandesa.

CC: Em que sentido?
LCBP: Naquela tendência, a doença holandesa puxa a taxa de câmbio do “equilíbrio” industrial para o “equilíbrio” corrente. O meu modelo de doença holandesa diz que ela tem origem em uma renda ricardiana, relativa aos recursos naturais e diferenças de produtividade. E faz com que o País tenha duas taxas de câmbio de equilíbrio. O que é o equilíbrio corrente? É a taxa de câmbio que equilibra intertemporalmente a conta corrente do país. E a de equilíbrio industrial, e esse conceito é a grande novidade, é a taxa de câmbio necessária para que indústrias, utilizando tecnologias no estado da arte mundial, sejam competitivas internacionalmente.

A doença holandesa é causada principalmente pelo petróleo, especialmente quando é muito barato, como na Venezuela ou Arábia Saudita, aí a doença é muito grave. Se a Daimler-Benz resolver instalar uma fábrica de automóveis na Venezuela, aproveitando a sua mão de obra barata e com toda a sua tecnologia mais moderna, todos os insumos garantidos, seis meses depois ela vai à falência. E por quê? Porque todos irão preferir comprar um carro fabricado na Alemanha, que é mais barato, ora bolas, pela taxa de câmbio venezuelana seria inviável. Nesses casos, a diferença entre as duas taxas de equilíbrio pode chegar a 95%.

CC: E a doença pode ser mais leve?
LCBP: Pode ser sim, se tem origem na soja ou no café, por exemplo, ou na cana-de-açúcar, no minério de ferro. Nesses casos, a doença holandesa é menos grave, de algo em torno de 25%. No caso do cobre, a situação é mais grave. E como neutralizar a doença holandesa? Neutraliza-se colocando um imposto sobre o produto exportado do tamanho da doença, de modo a deslocar a curva da demanda. Por isso não aceito as críticas do Pastore. Não quero uma taxa de câmbio desvalorizada, mas uma taxa de câmbio de equilíbrio. A diferença é que para mim o equilíbrio que conta é o industrial, que desconfio esteja hoje entre 2,30 e 2,50 reais por dólar.

Isso é a taxa de equilíbrio verdadeira, não a de 1,85 ou 1,90, que equilibra a conta corrente. E isso porque existe esse problema da doença holandesa. Durante 60 anos, o Brasil neutralizou a doença holandesa. Imaginava-se que os impostos e subsídios criados no tempo do Delfim Netto eram protecionismo, mas é falso. Depois da teoria da doença holandesa, descobre-se que boa parte do que se chamava de protecionismo era mera neutralização. Proteção mesmo existiu nas indústrias nascentes, para começar o negócio. Mas o Brasil neutralizou a doença holandesa em todo esse período dessa maneira, colocando impostos.

Entre 1990 e 1992, o Brasil fez a abertura comercial e tiramos todas as tarifas. Também fizemos a abertura financeira e perdemos o controle sobre a taxa de câmbio. Resultado, desde aquela data o Brasil está se desindustrializando.

Economia – CartaCapital

CC: O Brasil está mesmo se desindustrializando?
LCBP: O Brasil está se desindustrializando. Se um país resolve neutralizar a doença holandesa e consegue, ele irá deslocar a sua taxa de câmbio do equilíbrio corrente para o industrial, por meio do imposto. E depois o ideal é que também seja criado um fundo soberano, para que os recursos não entrem no país, como faz a Noruega. Isso feito, o que acontecerá? O Brasil terá um superávit em conta corrente. Se todos os países em desenvolvimento superarem a sua doença holandesa, eles terão superávit em conta corrente e todos os países ricos vão começar a ter déficits.

Eu parei a redação desse paper sobre doença holandesa duas vezes. Na primeira interrupção, eu pensava o seguinte: se o Brasil tem doença holandesa hoje é porque sempre teve. Mas como nunca discutimos isso antes, como se explica? Até que um dia conversava com o economista chileno Gabriel Palma, de Cambridge, que é ótimo, e ele me disse. “Mas não fizemos outra coisa na América Latina, Luiz Carlos.” Aí caiu a ficha. Fizemos isso administrando o câmbio, com confisco cambial, taxas múltiplas, tarifas, subsídios.

O modelo do Delfim era ótimo, o dos anos 70. O que ele fazia? Ele colocou um imposto de importação de 50% em média sobre tudo o que era importado. E colocou um subsídio de exportação para manufaturados de 50%. E com isso neutralizava a doença holandesa. Então, no lugar daquilo que o Pastore acredita, teremos países em desenvolvimento investindo no exterior, comprando ações, recomprando as empresas que vendemos para eles, etc.

CC: O senhor disse que todos os países em desenvolvimento têm a doença holandesa. É isso mesmo?
LCBP: A China também tem doença holandesa, ela só cresce extraordinariamente porque neutraliza a doença holandesa, assim como todos os países asiáticos dinâmicos, mesmo com pouco ou quase nada de recursos naturais, cujo desenvolvimento está baseado na indústria. E isso porque eles têm duas coisas: mão de obra barata e um leque salarial muito grande, muito maior do que nos países ricos. Leque salarial é a diferença entre o salário médio de um engenheiro de fábrica e o salário médio de um operário. Na Europa, essa relação é de três vezes.

Nos EUA, deve ser de 4 a 5 vezes. No Brasil, de 10 vezes. Na China, deve ser de 12 a 14. Por que é necessária essa segunda condição? Eu disse que a doença holandesa é causada por uma renda ricardiana, ou seja, é causada pelo custo marginal muito baixo do petróleo, do minério de ferro, da soja… E a taxa de câmbio é definida pelo produto que gera mais rendas ricardianas. No caso de um país com mão de obra barata, a renda ricardiana é produzida pelos trabalhadores mais baratos, digamos, para simplificar, por aqueles que ganham o menor salário.

Agora se o leque é muito maior, como ocorre com a China, aí então a China não iria exportar nada de mais sofisticado, ao contrário do que estamos vendo com o desenvolvimento industrial altamente sofisticado do ponto de vista tecnológico. Então quando se diz que a taxa de câmbio na China é desvalorizada, é falso. Ela está simplesmente neutralizando a sua doença holandesa. A China tem déficit comercial com os países asiáticos. Portanto, se o câmbio da China está desvalorizado é porque também estão desvalorizadas todas as demais moedas da região, e isso é conversa. Participei recentemente de uma conferência na Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), em Genebra, sobre os fluxos financeiros, os desequilíbrios das balanças de pagamentos e o deslocamento do centro do mundo, que estão acontecendo.

E a tese que defendi foi a seguinte. Comecei perguntando por que estamos vendo esse deslocamento do centro do mundo para a direita? Por que estamos vendo esses enormes superávits em conta corrente dos países em desenvolvimento? Qual a explicação para isso? A explicação que dão por aí é de que se trata de precaução, mas isso é conversa. Pode ter um elemento de precaução, mas é secundário, e por que só agora ficaram precavidos? O que está acontecendo é que eles estão descobrindo a doença holandesa, estão descobrindo que para crescer precisam de uma taxa de câmbio competitiva, e que taxa de câmbio competitiva é a que consegue neutralizar a doença holandesa.

CC: No Brasil, a doença holandesa está sendo controlada?
LCBP: O Brasil também está descobrindo, devagar. Há cinco anos, não havia nenhuma notícia. O primeiro artigo fui eu que escrevi na Folha, em 2005. Hoje há uma grande discussão, um monte de gente falando. O presidente Lula, quando lança o pré-sal, fala que vai neutralizar a doença holandesa. O Guido não reconhece que existe a doença holandesa causada pela soja porque não tem meios de combatê-la abertamente, então ele tem de ficar quieto. Mas é só por essa razão, no meu entender.

O imposto sobre esses produtos tem de ser variável. Quando sobe o preço internacional do produto, é preciso aumentar o imposto. No caso de certas commodities agrícolas, o produto pode ficar gravoso, ou seja, deficitário. Aí então é preciso tirar todo o imposto e ainda criar um subsídio durante algum tempo.

Economia – CartaCapital

CC: E como o senhor vê a discussão no Brasil em torno da valorização do real?
LCBP: O equívoco da ortodoxia é absoluto. Estamos hoje com uma taxa de câmbio inferior à do equilíbrio corrente, entrando naquela área de déficit em conta corrente, quando devíamos estar muito acima, na área do equilíbrio industrial. Então há uma enorme sobreapreciação da taxa de câmbio no Brasil. Se ela não existisse, o Brasil estaria crescendo mais de 7% ao ano, tranquilamente. O Brasil só cresceu 5% nos últimos quatro anos, com exceção de 2009, graças ao mercado interno.

CC: Como o senhor avaliou a criação do IOF de 2% sobre o capital estrangeiro?
LCBP: O IOF foi uma maravilha. Como se administra a taxa de câmbio? Além do imposto para a doença holandesa, eu posso precisar administrar a volatilidade da taxa de câmbio, especialmente quando começa a entrar capital demais. E estamos recebendo capital de que não precisávamos de jeito nenhum, estamos inundados de capital. Então a solução é o controle de capital, que tinha virado nome feio. Controle de capital e proxenitismo eram mais ou menos sinônimos, como, por sinal, o desenvolvimentismo.

Então o Guido teve muita coragem, que fique bem declarado isso, e decidiu fazer um controle de capital, modesto, pequeno, mas que foi uma beleza. A taxa de câmbio já estava em 1,70 e indo para baixo, e até subiu um pouco. Então não estamos mais ao ‘deus-dará’. Outra coisa que se faz, e já estamos fazendo há tempo, é comprar reservas e esterilizar, mas isso tem geralmente uma capacidade limitada.

CC: No caso do pré-sal, economistas do governo e alguns ligados ao Serra sugerem a criação de um fundo soberano. O senhor concorda com a ideia?
LCBP: É claro que vamos precisar de um fundo soberano. Não precisaremos do imposto de 98% dos Emirados Árabes. Com isso, eles têm uma taxa de câmbio perfeitamente neutralizada, correta, que lhes permite ter uma indústria do turismo, que é um setor tradable, e curiosamente estão se desenvolvendo. O único país árabe que se desenvolve, com essa taxa de imposto brutal.

Como o nosso custo de exploração do petróleo é muito mais alto, não precisaremos de uma taxa tão alta. Mas de qualquer forma vamos precisar de um imposto alto. E não devemos gastar todo esse imposto no Brasil, devemos deixar uma parte no exterior, em um fundo soberano, sem dúvida.

CC: O senhor havia mencionado a relação entre salários e produtividade. O senhor poderia falar mais a respeito?
LCBP: O peso dessa relação é muito importante. Um país grande como o Brasil não pode se desenvolver apenas com as exportações. É preciso se voltar para o mercado interno. E a tendência de os salários crescerem menos que a produtividade cria problemas ao tirar demanda. Claro que existem soluções para isso, tenho até um livro sobre isso dos anos 70 e muita gente também escreveu. Eu tratava da concentração da renda na classe média para cima e da especialização em produtos que naquela época eram de luxo, fundamentalmente a indústria automobilística.

E qual era a tese ortodoxa? Dizia-se que não era possível aumentar o salário-mínimo porque causaria inflação, quebraria o Estado. E não quebrou coisa nenhuma. O Fernando Henrique aumentou um pouco, e o Lula aumentou bastante. E vamos reconhecer que foi um grande sucesso essa política. Como o Celso Furtado cansou de escrever, os sindicatos foram fundamentais no desenvolvimento econômico porque têm um papel de aumentar salários. O perigo é quando os salários crescem acima da produtividade, aí os lucros são estrangulados.

A lei fundamental do capitalismo é que os empresários precisam ter boas oportunidades de investimento lucrativo. Eles têm de ter demanda para terem isso. Então precisam de demanda interna e também de uma taxa de câmbio. Esta é a lógica completa do sistema.

Economia – CartaCapital

CC: O senhor acha que o neoliberalismo morreu?
LCBP: O neoliberalismo, se não morreu, está muito mal. Foi uma ideologia que uniu rentistas a uma tecnoburocracia de jovens brilhantes da área financeira, com phds mas principalmente com mbas nos EUA, criando inovações financeiras muito inteligentes e muito espertas, que permitirão aos rentistas aumentar os seus rendimentos em três ou quatro vezes nos últimos trinta anos. Foram os anos neoliberais, entre 1978 e 2008, mas o desastre foi muito grande. No começo, pensávamos que o desastre neoliberal era apenas para nós, era o Consenso de Washington, a ortodoxia convencional que nos prejudicava fortemente.

Quando eu escrevi o livro Macroeconomia da Estabilização, eu estava preocupado com essa questão. Quem se desenvolvia? Quem tem uma nação forte e, portanto, não ouve os seus competidores, era a minha tese fundamental. Eu dizia que os países ricos estavam ‘chutando a nossa escada’, estavam interessados em ganhar dinheiro aqui e não no nosso desenvolvimento. Quando a China e a Índia fazem com competência a política do câmbio administrado, eles demonstram ser nações fortes, e nós não. Mas o que se verificou na crise é que a coisa deu um bumerangue.

Aquilo que eles nos aconselhavam e parecia que não cumpriam, eles também estava fazendo para eles próprios, não tudo, mas o suficiente para quebrarem da maneira lamentável como quebraram agora. O fracasso do neoliberalismo e a criação de riqueza financeira fictícia, com a multiplicação por três ou quatro vezes dos ganhos dos rentistas, tudo isso deu um bumerangue. Acho que o discurso neoliberal está morto.

CC: Também no Brasil?
LCBP: No caso brasileiro, além do Lula, parece que existe um outro herói no Brasil, o Henrique Meirelles. Todos os brasileiros somos reféns da inflação. E acreditamos que é graças ao Meirelles e ao Banco Central que a inflação está baixa no Brasil, o que é ridículo. A inflação está baixa porque foi neutralizada a inércia em 1994. E principalmente porque desde 1999 o Brasil tem uma política fiscal responsável, são esses os dois motivos.

Essa política de meta de inflação foi só um jeito de aumentar a taxa de juros de forma a dar vantagem aos rentistas. E usaram a taxa de câmbio para controlar a inflação, em vez de fazer um controle da inflação mais correto, por meio da desindexação dos preços públicos. O Lula está com 80% de apoio e ele próprio acha que deve uma parte disso ao Meirelles. É um equívoco monumental, mas o que se pode fazer?

CC: O Meirelles é uma espécie de totem para os dois lados. Para o Lula, por essa razão que o senhor mencionou. E para a oposição, por supostamente representar a continuidade da política econômica anterior.
LCBP: A sua análise é correta. Mas isso uma hora acaba.

CC: Acaba bem ou mal?
LCBP: Acaba bem. O Brasil avançou bastante na defesa dos seus interesses. Mesmo no governo Fernando Henrique, a Petrobras não foi vendida. Não vendeu todas as hidrelétricas, vendeu uma parte. E agora no governo Lula as ações do Ministério da Fazenda, do BNDES, são ações voltadas ao interesse nacional, muito claramente.

Critico muito os brasileiros porque são pouco nacionalistas. Mas quando vou ao exterior e vejo compararem o Brasil com os demais países da América Latina, percebo que somos os mais capazes de defender os próprios interesses. O México também era assim, até que um dia um senhor chamado Salinas assinou a carta de submissão aos EUA, e aí foi uma desgraça.

CC: O Brasil quase foi nessa também, não?
LCBP: A gente quase foi porque a hegemonia neoliberal dos anos 90 era muito violenta, então todos nós caímos, cada um de um jeito. Eu mesmo em alguns momentos tremi. Ninguém escapa a esse tipo de hegemonia. Nos anos 90, começaram as crise, no México, depois na Ásia, que foi muito importante, na Rússia, no Brasil, na Turquia e depois, em 2001, na Argentina. Essas crises fizeram o Terceiro Mundo abrir os olhos. E depois vem essa crise de 2008 que faz os países do Primeiro Mundo verem que estavam eles próprios sendo completamente enganados.

EUA planeja PNBL semelhante ao do Governo Lula. E agora?


O problema de se posicionar contra o que é obviamente o certo (inclusão digital é a nova reforma agrária, já disse) é que vc acaba nessa situação. Como fica agora quem ficou a favor do patético (mas poderoso) lobby da Teles e das empresas de mídia que querem enxergam nessa área a única forma de sobreviver à falência do seu modelo de negócio?

Por essas e outras que a credibilidade desses caras vai escoando lentamente pelo ralo.

via APL


EUA estudam oferecer serviço de banda larga sem fio gratuita | Reuters.com

terça-feira, 9 de março de 2010 19:07 BRT

WASHINGTON (Reuters) – Agências reguladoras dos Estados Unidos podem dedicar parte do espectro de frequências a um serviço de Internet banda larga sem fio gratuito para parte da população, dentro do plano para ampliar o serviço de Internet rápida em todo o país, afirmou a Comissão Federal de Comunicações (FCC, na sigla em inglês) nesta terça-feira.

A FCC não deu muitos detalhes sobre como espera executar esse plano e quem se qualificaria para obter o serviço gratuito, mas disse que fará uma recomendação para que o projeto seja incluído no Plano Nacional de Banda Larga dos EUA, que deve ser lançado na semana que vem. A agência deverá apresentar detalhes na ocasião.

Uma forma de deixar a Internet rápida mais barata é “considerar o uso do espectro para oferecer um serviço de banda larga sem fio gratuito ou por um preço muito baixo”, disse a FCC em comunicado.

(Reportagem de John Poirier)

Lula, perdido sobre Cuba. E a oposiçao nao consegue encontrar falhas no Governo.


“Sete anos no poder, e o PT ainda não sabe o que dizer sobre Cuba. E a oposição prefere o golpismo.”

Sinceramente, a oposição é incompetente demais. Se apegou ao golpismo, ia dizer que se esqueceram como fazer oposição, mas a verdade é que pelo menos o DEM sempre esteve no poder. Isso, tipo, uns 500 anos. O PSDB, bem o PSDB, vai saber o que deu nesses caras. Tipo, caíram qdo andavam de bicicleta pelados e bateram a cabeça. Só pode.

Trocar a oposição programática pelo golpismo barato, com a quantidade de erros que eles cometem, não tem como explicar. Mas sei lá, deixem os tucanos de lado. Não tem salvação mais.

Alguém me diga. Como pode o Governo, sete anos depois de assumir o poder, não ter uma posição clara sobre Cuba. Não é nem sobre o Irã, infinitamente mais complexo. Sobre Cuba! É claro que podemos sempre demonstrar e citar repetidas vezes, a hipocrisia dos EUA com o Paquistão, Israel e Arabia Saudita. Mas e dai? Que tipo de potência queremos ser?

Eu resolvo isso rapidinho pra vcs, é só me dar uma DAS-6 e me colocar no  Palácio do Planalto. Garanto que isso não ia acontecer. Brincadeirinha, mas sério, o presidente tá mesmo pautado? Meteu o pé pelas mãos, por conta própria? Deixa eu explicar, nenhum presidente faz nada por conta própria. Nenhum presidente pode ser deixado nessa situação.

Nesse momento, profundamente decepcionado com o Franklin Martins e com o Celso Amorim. Sorte que eles tem crédito sobrando. E muito.

Lula faz defesa de Justiça cubana e compara preso político a criminoso – Internacional – Estadão.com.br

Lula faz defesa de Justiça cubana e compara preso político a criminoso

Presidente brasileiro rejeita recurso da greve de fome no mesmo dia em que dissidentes apelam por mediação

AP e Afp

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EUA planeja PNBL semelhante ao do Governo Lula. E agora?


O problema de se posicionar contra o que é obviamente o certo (inclusão digital é a nova reforma agrária, já disse) é que vc acaba nessa situação. Como fica agora quem ficou a favor do patético (mas poderoso) lobby da Teles e das empresas de mídia que querem enxergam nessa área a única forma de sobreviver à falência do seu modelo de negócio?

Por essas e outras que a credibilidade desses caras vai escoando lentamente pelo ralo.

via APL


EUA estudam oferecer serviço de banda larga sem fio gratuita | Reuters.com

terça-feira, 9 de março de 2010 19:07 BRT

WASHINGTON (Reuters) – Agências reguladoras dos Estados Unidos podem dedicar parte do espectro de frequências a um serviço de Internet banda larga sem fio gratuito para parte da população, dentro do plano para ampliar o serviço de Internet rápida em todo o país, afirmou a Comissão Federal de Comunicações (FCC, na sigla em inglês) nesta terça-feira.

A FCC não deu muitos detalhes sobre como espera executar esse plano e quem se qualificaria para obter o serviço gratuito, mas disse que fará uma recomendação para que o projeto seja incluído no Plano Nacional de Banda Larga dos EUA, que deve ser lançado na semana que vem. A agência deverá apresentar detalhes na ocasião.

Uma forma de deixar a Internet rápida mais barata é “considerar o uso do espectro para oferecer um serviço de banda larga sem fio gratuito ou por um preço muito baixo”, disse a FCC em comunicado.

(Reportagem de John Poirier)

Lula, perdido sobre Cuba. E a oposiçao nao consegue encontrar falhas no Governo.


“Sete anos no poder, e o PT ainda não sabe o que dizer sobre Cuba. E a oposição prefere o golpismo.”

Sinceramente, a oposição é incompetente demais. Se apegou ao golpismo, ia dizer que se esqueceram como fazer oposição, mas a verdade é que pelo menos o DEM sempre esteve no poder. Isso, tipo, uns 500 anos. O PSDB, bem o PSDB, vai saber o que deu nesses caras. Tipo, caíram qdo andavam de bicicleta pelados e bateram a cabeça. Só pode.

Trocar a oposição programática pelo golpismo barato, com a quantidade de erros que eles cometem, não tem como explicar. Mas sei lá, deixem os tucanos de lado. Não tem salvação mais.

Alguém me diga. Como pode o Governo, sete anos depois de assumir o poder, não ter uma posição clara sobre Cuba. Não é nem sobre o Irã, infinitamente mais complexo. Sobre Cuba! É claro que podemos sempre demonstrar e citar repetidas vezes, a hipocrisia dos EUA com o Paquistão, Israel e Arabia Saudita. Mas e dai? Que tipo de potência queremos ser?

Eu resolvo isso rapidinho pra vcs, é só me dar uma DAS-6 e me colocar no  Palácio do Planalto. Garanto que isso não ia acontecer. Brincadeirinha, mas sério, o presidente tá mesmo pautado? Meteu o pé pelas mãos, por conta própria? Deixa eu explicar, nenhum presidente faz nada por conta própria. Nenhum presidente pode ser deixado nessa situação.

Nesse momento, profundamente decepcionado com o Franklin Martins e com o Celso Amorim. Sorte que eles tem crédito sobrando. E muito.

Lula faz defesa de Justiça cubana e compara preso político a criminoso – Internacional – Estadão.com.br

Lula faz defesa de Justiça cubana e compara preso político a criminoso

Presidente brasileiro rejeita recurso da greve de fome no mesmo dia em que dissidentes apelam por mediação

AP e Afp

BRASÍLIA

O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, pediu ontem respeito às determinações da Justiça cubana nos casos relacionados à detenção de opositores e comparou os presos políticos da ilha a criminosos comuns. As declarações foram feitas no dia em que um grupo de dissidentes do regime comunista pediu a Lula que interceda pela libertação de 20 presos políticos. Entre os dissidentes que fizeram o apelo está o jornalista Guillermo Fariñas, há 13 dias em greve de fome para chamar atenção para o problema (mais informações nesta página).

“Temos de respeitar a determinação da Justiça e do governo cubano, de prender as pessoas em função da lei de Cuba, assim como quero que respeitem o Brasil”, disse Lula em entrevista à agência de notícias Associated Press.

“Gostaria que não houvesse (a detenção de presos políticos), mas não posso questionar as razões pelas quais Cuba os deteve, como tampouco quero que Cuba questione as razões pelas quais há pessoas presas no Brasil”, acrescentou.

O presidente brasileiro também contestou o método usado por dissidentes cubanos para pressionar o governo: parar de se alimentar. Em fevereiro, o preso político cubano Orlando Zapata Tamayo morreu após passar 85 dias em greve de fome. A morte do preso político – a primeira na ilha em 40 anos – coincidiu com a chegada de Lula a Havana, mas o brasileiro silenciou sobre o episódio.

“Greve de fome não pode ser utilizada como um pretexto de direitos humanos para libertar pessoas”, afirmou o líder brasileiro. “Imagine se todos os bandidos que estão presos em São Paulo entrassem em greve de fome e pedissem libertação.” Lula lembrou que, quando era líder sindical, fez greve de fome contra a ditadura militar (1964-1985), mas classificou a prática como “insanidade”.

Para o cientista político José Augusto Guilhon de Albuquerque, da USP, o apoio de Lula ao sistema judiciário cubano é incoerente com medidas tomadas por seu governo recentemente. “Lula diz que não se pode contestar as decisões da Justiça cubana, mas seu governo não se importou em contestar a Justiça da Itália, se opondo à extradição de Cesare Battisti. E se opôs à decisão da Justiça hondurenha sobre o afastamento de Manuel Zelaya”, afirmou Guilhon ao Estado. Ele diz que também não faz sentido o presidente comparar presos políticos com criminosos comuns: “Lula, como ex-preso político, sabe muito bem a diferença.”

Em 2003, Cuba prendeu 75 dissidentes, entre jornalistas e membros de ONGs. Na época, as prisões causaram comoção internacional. Desde então, alguns presos políticos que estavam mal de saúde foram soltos, mas só deste grupo mais de 50 ainda estão nos insalubres centros de detenção da ilha.

FSP fica histérica com o desmonte do factoide da Eletronet e ataca Nassif e EBC


“Depois de Nassif x Veja. Agora Nassif x FSP.”

A mídia brasileira e grande parte dos jornalistas, não compreendeu bem como o jogo agora é jogado. Hj a gente lê as respostas desses “escândalos” antes da propria reportagem (algumas vezes tá mais pra reporcagem). O Blog da Petrobras foi uma quebra de paradigma. 

Está claro que a FSP está se vingando do caso Eletronet. Não temos culpa se a matéria foi vergonhosa e tudo foi desmascarado. De qualquer forma é papel da mídia fiscalizar os recursos publicos. E é papel das redes sociais (blogs, twitter, foruns, etc) fiscalizar a mídia (como bem disse um ministro do STF). A internet é o melhor ombudsman. Aceitem isso.

Então a unica coisa que a mídia tem que fazer é uma matéria honesta. E não vale os jornalistas repetirem o bordão que isso depende do “editor”. Seu nome tá lá no alto da página. Se não dá pra sair na versão impressa (que é realmente finita), esse problema inexiste na versão digital (o custo de publicar a integra é quase zero). Por favor, dê aos seus leitores a oportunidade de ver o seu compromisso com a verdade.

Mas, não vai rolar né? Então, tá.

PS.: Como não estava brincando com a história de ler as respostas antes, e só depois ler a matéria. Terminei de ler a matéria e a achei honesta. Então editei o post pra contemplar isso.

A escandalização da Folha | Luis Nassif

A escandalização da Folha

Na “denúncia” da Folha, sobre meu contrato com a EBC, uma demonstração do tipo de jornalismo menor a que Otavio Frias Filho levou o jornal. É um suicídio lento, sistemático, sem retorno.

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FSP fica histérica com o desmonte do factoide da Eletronet e ataca Nassif e EBC


“Depois de Nassif x Veja. Agora Nassif x FSP.”

A mídia brasileira e grande parte dos jornalistas, não compreendeu bem como o jogo agora é jogado. Hj a gente lê as respostas desses “escândalos” antes da propria reportagem (algumas vezes tá mais pra reporcagem). O Blog da Petrobras foi uma quebra de paradigma. 

Está claro que a FSP está se vingando do caso Eletronet. Não temos culpa se a matéria foi vergonhosa e tudo foi desmascarado. De qualquer forma é papel da mídia fiscalizar os recursos publicos. E é papel das redes sociais (blogs, twitter, foruns, etc) fiscalizar a mídia (como bem disse um ministro do STF). A internet é o melhor ombudsman. Aceitem isso.

Então a unica coisa que a mídia tem que fazer é uma matéria honesta. E não vale os jornalistas repetirem o bordão que isso depende do “editor”. Seu nome tá lá no alto da página. Se não dá pra sair na versão impressa (que é realmente finita), esse problema inexiste na versão digital (o custo de publicar a integra é quase zero). Por favor, dê aos seus leitores a oportunidade de ver o seu compromisso com a verdade.

Mas, não vai rolar né? Então, tá.

PS.: Como não estava brincando com a história de ler as respostas antes, e só depois ler a matéria. Terminei de ler a matéria e a achei honesta. Então editei o post pra contemplar isso.

A escandalização da Folha | Luis Nassif

A escandalização da Folha

Na “denúncia” da Folha, sobre meu contrato com a EBC, uma demonstração do tipo de jornalismo menor a que Otavio Frias Filho levou o jornal. É um suicídio lento, sistemático, sem retorno.

O programa Projeto Brasil seria renovado com a TV Cultura. Não o foi devido a críticas que fiz a José Serra – conforme consta de respostas que dei ao jornal, sobre as razões de minha ida para a EBC e que foram suprimidas da matéria. Se a intenção fosse ser chapa branca, não faria as críticas merecidas à Sabesp e ao Serra.

Não há um elemento que caracterize irregularidade ou proteção no contrato. Os valores estão claros, dentro da lógica de qualquer programa de TV aberto ou fechado. Foram fixados com base no contrato inicial que mantive com a Fundação Padre Anchieta. E o programa tem importância estratégica para a TV Brasil, conforme se confere no comentário do diretor de programação Rogério Brandão, em email à Helena Chagas, diretora de jornalismo (clique aqui):

O Brasilianas tem a cara da TV Pública! É um programa que estaria na PBS americana facilmente. Penso que com o tempo ele crescerá, e terá um papel relevante na grade. Nossa 2ª feira agora tem um concorrente à altura do Roda Viva.

No próprio texto da matéria fica explícito o motivo da escandalização do factóide: o desmonte do falso escândalo que a Folha criou sobre a Eletronet. Fala em defesa de José Dirceu. Falso! Através de um expediente malicioso, foi a Folha quem fez o jogo do empresário que contratou Dirceu. Era interesse de Nelson implodir o Plano Brasileiro de Banda Larga porque, saindo, matava qualquer possibilidade de ressuscitar a falecida Eletronet e, com isso, de ele ganhar os tais R$ 200 milhões. Se contratou Dirceu para atuar no caso, seria justamente para implodir o PNBL.

Maliciosamente a Folha pegou o contrato dele com Dirceu – passado a ela pelo próprio Nelson dos Santos – para afirmar que visava justamente aprovar o PNBL. A intenção era clara: como Dirceu é estigmatizado, o simples fato de se afirmar que seu lobby seria a favor do PNBL teria o efeito contrário: implodir o PNBL e beneficiar Nelson dos Santos.

Esse tema foi exposto no post “Eletronet: o lobby foi da Folha“. Em “O jogo em torno da Eletronet” avancei hipóteses sobre outros possíveis interesses do grupo em relação ao tema. Em “A falta de rumo do caso Folha-Eletronet” mostrei a tergiversação do jornal, tentando salvar a manobra mudando de direção, mas com os mesmos objetivos, de implodir o PNBL.

Para despertar o espírito corporativo interno, a matéria diz que minhas notas no caso Eletronet tentaram desqualificar jornalistas. Ora, é fato inédito o jornal se levantando em defesa de seus jornalistas. Nesta mesma semana, Otavinho conferiu a terceiro o direito de fuzilar dois jornalistas seus em plenas páginas do jornal, tratando-os como “delinquentes”. Todo jornalista da Folha sabe que, a qualquer momento, poderá ser o alvo da deslealdade de seu chefe, que age assim mesmo.

Quando percebeu que nem os jornalistas suportavam mais o amordaçamento total a que foram submetidos e começavam a pipocar aqui e ali matérias fora desse padrão suicida de manipulação, convocou Demétrio Magnolli para executar exemplarmente dois deles em praça pública: através da página 3 do jornal, em um artigo que os tratava como “meliantes”. A intenção foi, liquidando covardemente com dois deles (em um tema, cotas raciais, que não tem nenhuma relação com a guerra política empreendida pelo jornal), enquadrar os demais.

Quanto às minhas críticas ao Márcio Aith, jamais atacaria um colega por um erro de interpretação de matéria, ainda que grave. Há outras razões bem mais substantivas, sobre as quais Aith um dia poderá fornecer detalhes. Apenas adianto que ele foi testemunha de acusação contra mim em um caso – a série sobre a Veja – em que tinha sido minha fonte.

Já a Folha, em algum momento do futuro terá que se haver e prestar contas de seus próprios escândalos – inclusive com entes públicos -, que não são meros factóides, com os quais tentou me atingir.

Abaixo, o teor do email que recebi do repórter da Folha, seguido das minhas respostas. É um elemento bastante didático para as escolas de jornalismo, sobre como definir, primeiro, o alvo, e depois sair caçando qualquer coisa que possa ser utilizada contra ele. Depois das respostas, a matéria da Folha.

Peço aos colegas que espalhem essa resposta, especialmente em blogs que estão reproduzindo a matéria da Folha.
Perguntas e respostas à Folha

-De quem partiu a iniciativa para a contratação da sua empresa Dinheiro Vivo Agência de Informações pela EBC (Empresa Brasil de Comunicação)? O projeto lhe foi requerido pela EBC ou o sr. procurou a EBC?;

O projeto já existia na TV Cultura. Foi descontinuado na gestão Mendonça. Seria retomado no final de 2008. Já havia reunião marcada por Paulo Markun para discutirmos o novo contrato. Dias antes fui informado que não haveria mais a renovação. Entre a marcação do dia e a desistência da FPA, escrevi matérias sobre a piora nos balanços da Sabesp, criticando as campanhas publicitárias que ela bancava em nível nacional.

Se a Cultura não tivesse desistido do projeto, na Cultura ele teria permanecido. Com a desistência, procurei a EBC e ofereci o programa.

-Que critérios objetivos o sr. adotou para estipular a sua remuneração de R$ 660.000,00 como apresentador e responsável pelo programa?

O valor que considerei justo. E que guarda correspondência com o primeiro contrato que firmei com a Fundação Padre Anchieta (FPA) como comentarista do Jornal da Cultura e apresentador do Projeto Brasil.

No contrato com a FPA havia um envolvimento menor da minha equipe com o programa, cuja gravação ficava a cargo da TV Cultura.

Com a EBC, além de comentarista do Repórter Brasil, há um envolvimento amplo com o programa Brasilianas.org que é entregue pronto. Há uma equipe contratada especialmente para o programa (Nota: já que a EBC, em processo de formação, não tinha ainda estrutura interna para as gravações) – cujos custos são cobertos pela EBC. Mas há todo um trabalho da equipe da Dinheiro Vivo com conteúdo, supervisão das gravações de TV, agendamento de entrevistas, convite aos debatedores. Além da minha participação pessoal.

Com a FPA o contrato previa participação nos patrocínios, garantido um mínimo mensal. A EBC não tem essa modalidade.

Um dos elementos de fixação de proventos ou salários de jornalistas – adotado por todos os veículos, inclusive a Folha – é o grau de reconhecimento e projeção perante a opinião pública.

Como o colega deve se recordar, no último Prêmio Comunique-se fui um dos três finalistas da Categoria Melhor Jornalista de Economia da Televisão, junto com a Mirian Leitão e o Joelmir Betting (que venceu). E não concorri ao de Melhor Jornalista de Economia da Imprensa Escrita porque havia vencido a edição anterior e o Prêmio proíbe a reeleição.

Em suma, os mesmos fatores que são levados em conta em qualquer contratação de jornalistas ou projeto por emissoras de TV.

-Por que a sua contratação não se submeteu a uma licitação pública, preferindo ser fechada por “inexegibilidade”?

A EBC pode explicar melhor. Mas presumo que por dois motivos.

Ponto 1: notória especialização.

Os prêmios que acumulei ao longo de minha carreira e nos últimos anos atestam essa minha especialização.

Ponto 2: sou o criador do Projeto Brasil de discussão de políticas públicas casando TV e Internet apresentado à EBC, que entendeu que se adequava perfeitamente ao espírito de uma TV que pretende abrir espaço para as grandes discussões públicas. É um projeto inovador e sem similar. Preenchem-se, assim, as duas condições para inexigibilidade de licitação.

Chamo a atenção para uma questão similar.

No dia 3 de abril de 2009, através do Diário Oficial do Estado fica-se sabendo que a Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE), ligado à Secretaria da Educação de São Paulo, adquiriu 5.499 assinaturas do jornal Folha de São Paulo, com inexigibilidade de licitação.

Creio que o argumento jurídico é o mesmo que fundamenta minha contratação pela EBC com inexigibilidade de licitação.

-O primeiro pagamento da EBC para a sua empresa data de 24 de julho de 2009. Contudo, até a presente data, cerca de 7 meses depois, nenhum programa foi ao ar (a estreia está prevista para segunda-feira). O que aconteceu?

Um período inicial para a montagem da equipe e a formatação do programa (construção de cenários, discussão da linguagem televisiva). Depois, a definição da grade de programação da EBC, que pode ser melhor explicada por ela própria. Os programas estão sendo produzidos e já existem vários gravados. E trabalho no projeto desde a data de assinatura do contrato, conforme você pode conferir nos relatórios apresentados.

-No cronograma da produção do programa, observei que estão previstas ou foram realizadas gravações de evento denominado “Sarau do Luís Nassif”. Contudo, verificando o Projeto Básico, não encontrei nenhuma previsão relativa à gravação do “Sarau”. Qual a exata ligação entre o “Sarau” e o programa televisivo e por que isso não constou do Projeto Básico?

É impossível definir, em um Projeto Básico, todas as ações a serem tomadas no decorrer de um ano.

A montagem de um programa pressupõe vinhetas de abertura e fechamento. O Projeto Brasil, da TV Cultura, iniciava e terminava com cenas de arquivo com música brasileira. Pensou-se em repetir o modelo, mas comigo tocando bandolim. Depois de ver o resultado final, achei que poderia passar a ideia de cabotinismo e desisti.

Apenas isso, já que todas as cenas foram gravadas, constam de nossos arquivos e não implicaram nenhum custo adicional para a EBC.

-Segundo me informou a EBC, o primeiro programa, cuja estreia deverá ocorrer na segunda-feira que vem, tratará do tema da Defesa. O sr. ou suas empresas trabalham com empresas ligadas ao setor? Quais eventos do chamado “Projeto Brasil” receberam patrocínio de empresa (s) ligada (s) ao setor? De acordo com meus levantamentos, a empresa francesa Dassault Aviation, que tem interesse direto na venda de equipamentos militares para o governo brasileiro, patrocinou um seminário promovido pelo sr. no dia 17 de dezembro de 2008, no Novotel Hotels, em São José dos Campos. Caso o sr. ou suas empresas prestem consultoria ou tenham outros tipos de vínculos negociais com essas empresas da área militar, o sr. informou à EBC possível conflito de interesses? Ou o sr. entende que tal eventual conflito é inexistente e, por isso, nada informou?

É importante qualificar melhor esse “meus levantamentos”. Todos os seminários do Projeto Brasil têm patrocínios que são públicos, saem em anúncios, grande parte dos quais foram publicados no caderno Dinheiro da própria Folha durante muitos e muitos anos – anúncios que eram descontados do meu salário de colunista, conforme o Otavinho poderá lhe informar. Portanto, não há informações secretas que exijam grandes pesquisas.

No seminário em questão, o patrocínio foi de R$ 15 mil, brutos, ou R$ 13 mil líquidos. Os custos diretos com o evento foram de R$ 9.448,65 – salão, recepção, projetores, gravação etc.

Se se computar custos de translado para São José dos Campos, de uma equipe de quatro pessoas, mais o tempo que elas e eu dedicamos ao evento, sairíamos no prejuízo. Mas mantivemos o Seminário por considerá-lo relevante para a discussão de políticas públicas.

Mas mesmo que os patrocínios tivessem permitido um bom lucro, não há razão para não considerá-los legítimos, da mesma maneira que são legítimos os anúncios publicados em cadernos temáticos especiais pela Folha.

Outro ponto importante é que os patrocinadores jamais participaram da elaboração dos temas do Seminário e dos palestrantes convidados.

Conforme você poderá conferir nos anais do Seminário (http://blogln.ning.com/page/industria-da-defesa) um dos principais palestrantes foi o saudoso João Verdi, da Avibras, que buscava parceria com os russos da Sukhoi e, portanto, era concorrente direto da Dassault na licitação FX. Em outros seminários de Defesa recebemos patrocínio da Dassault, Embraer, da sueca Grippen, como consta dos anúncios publicados.

Vamos, agora, às práticas comerciais de outros jornais, tomando o exemplo o jornal Valor Econômico – que tem como um dos sócios e responsável por sua gestão a Empresa Folha da Manhã.

No dia 7 de abril de 2009, o Valor Econômico realizou seminário sobre Defesa em Brasília, tendo como um dos patrocinadores a Thales, ligada ao grupo Dassault. A comprovação pode ser encontrada no link http://www.valoronline.com.br/seminarios/HTML/Seminarios/EstrategiaDeDefesa/realizacao.html.

No dia 1o de março de 2010, outro Seminário sobre o Complexo Industrial da Saúde, onde consta apoio do Ministério da Saúde (http://www.valoronline.com.br/seminarios/Seminario/index.aspx?codSeminario=143).

Além do apoio, o Ministério participou também da elaboração dos temas e da escolha dos convidados.

Pela programação do seminário, identificam-se os seguintes expositores da área federal: o Ministro da Saúde, o chefe do Departamento de Produtos Intermediários Químicos e Farmacêuticos da Área Industrial do BNDES, o vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz (estatal), o secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, o Secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Ministério da Ciência e Tecnologia, o presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), o presidente do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), e diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

No site do Valor pode-se conferir também o seminário “Investimentos estratégicos para o desenvolvimento do Nordeste”, com apoio do Ministério da Integração Nacional (http://www.valoronline.com.br/seminarios/Seminario/index.aspx?codSeminario=136), tendo como palestrantes dirigentes da Sudene, do Banco do Nordeste do Brasil e Chefs – empresas públicas.

Ou então – voltando para os patrocínios privados – o seminário “Relicitação ou Prorrogação das Concessões do Setor Elétrico”, tendo como patrocinador uma empresa interessada no setor, a CPFL.

Pergunto: esses seminários, importantes para enriquecer o debate nacional, podem ser considerados uma forma de consultoria ou de lobby do jornal Valor? Acredito que não.

-De acordo com os levantamentos feitos no Siafi, o sr. recebeu R$ 14.480,00 (já descontados os impostos) para proferir, no ano passado, uma palestra para a FINEP, empresa pública vinculada ao Ministério da Ciencia e Tecnologia. Em quais critérios objetivos o sr. se baseou para cobrar o valor?

A palestra foi proferida em Palmas, Tocantins, em um evento para o setor privado denominado de “Inovação em Tempo de Crise”. Minha palestra teve como tema “O Novo Padrão de Desenvolvimento pós-crise”. O critério adotado foi de um desconto no valor que cobro para palestras fora de São Paulo.

Devido aos nossos prazos jornalísticos de fechamento, solicito, se possível, uma resposta até o início da tarde de amanhã, quinta-feira.

Bom, o objetivo da Folha foi o de devassar os negócios da Dinheiro Vivo, valer-se de um tom inquisitorial para questionar negócios comerciais legítimos e com benefícios comprovados para a sociedade – basta conferir a relação de vídeos e trabalhos sobre mais de 50 temas relevantes, que disponibilizamos para a opinião pública. Não me furtei a apresentar os esclarecimentos solicitados.

Julgando-se a Folha no direito de questionar-me sobre os negócios da DV, me dá o direito de questioná-la sobre seus negócios. Oportunamente enviarei email com perguntas importantes para entender o relacionamento da Folha com entes públicos.

Peço apenas que me confirme se as respostas foram satisfatórias, se todas as dúvidas foram apresentadas e esclarecidas e se, mesmo assim, ainda valerá uma reportagem. Caso se mantenha a reportagem, solicito informar o dia para que minhas perguntas e respostas possam sair simultaneamente, sem furar seu trabalho.
Segundo email enviado

-Na sua resposta à minha dúvida sobre a sua remuneração, o sr. citou custos com a produção do programa. Contudo, o valor total do contrato é de R$ 1,2 milhão. Portanto, metade dos recursos vai para a produção e metade para a sua remuneração pessoal.

Aqui vão os dados do último relatório que está sendo fechado agora.

O contrato inicial previa R$ 60.000 mensais brutos para a DV e R$ 30 mil líquidos para a produção. Bruto, sai R$ 100.000,00 mensais.

Com as demandas adicionais da EBC (não previstas no plano inicial de trabalho), estão sendo gastos R$ 51.608.00 líquidos na produção (nota: específica de TV: aluguel de equipamentos, contratação de equipe, compra de material, locomoção etc), conforme prestação de contas.

Sobram R$ 49.000,00 brutos para a Dinheiro Vivo (e sua equipe) e para meus comentários. Ou cerca de R$ 39 mil líquidos.

-A minha pergunta sobre os patrocínios ao Projeto Brasil não diziam respeito à legalidade ou ilegalidade de tais patrocínios, mas simplesmente se o sr. comunicou à EBC, uma empresa pública, suposto conflito de interesse, ou se, de outra parte, entendeu que não havia conflito algum. Esse assunto me leva a outras perguntas:

Não há conflito de interesse.

-Quais são, exatamente, os atuais clientes da empresa Dinheiro Vivo? A pergunta tem pertinência porque o sr. agora apresenta um programa em emissora pública, percebendo para isso recursos públicos, do Orçamento da União. Assim, nada mais natural, sob o ponto de vista do interesse público, conhecer melhor seus vínculos negociais. Nada mais natural, sob o ponto de vista do interesse público, que se saibam todos os detalhes do contrato firmado com o ente público.

Dinheiro público é aquele do contrato. Você tem o direito de fazer todas as perguntas pertinentes ao contrato. E eu de responder. Não consta que uma empresa fornecedora de produtos ou serviços para o setor público seja obrigada a abrir sua estratégia comercial.

Se a Folha se propuser a abrir seus dados comerciais, não veria problemas em abrir os da Dinheiro Vivo,

-O sr. ou a empresa Dinheiro Vivo fazem consultoria para empresas do setor de Defesa? Em caso positivo, quais são?

Não.

Sobre a resposta na íntegra, não é decisão que cabe a um repórter. Consultarei a editora a respeito. O sr. há de saber que o jornal é um produto finito, no qual não cabem todas as respostas de todos os entrevistados por toda a equipe de jornalistas ao longo do dia. Permita-me apenas observar que a publicação de uma resposta na íntegra nada tem a ver com “bons princípios jornalísticos”.

Não expor todos os argumentos da parte pode ferir.