SP : uma missão possível. Graças a Ciro?

Depois de ler a excelente análise do Vander e rever um pouco a história, comecei a pensar que o melhor mesmo para a coligação governista (federal) é o Ciro ser candidato a presidente e não haver uma supercoligação em SP. Ficará como grande mistério se isso é uma iniciativa particular ou não. Em um cenário em que Aécio não seja o candidato da oposição, o que mudaria muita coisa.

A) Em um ambiente normal, a candidatura de Ciro não seria necessária para PT/PMDB fazer a presidente no 1º turno. Mas, como a mídia não deixa o ambiente ser normal, então a candidatura de Ciro serve como um “seguro”, forçando a ida a um 2º turno e dando um mês extra de debates e campanhas para o governo desmontar qualquer eventual factóide. Não é impossível um 2º turno Dilma x Ciro. Como recordado recentemente, oscilações fortes ocorrem nas últimas semanas antes do 1º turno.

 

B) Em SP, e já com o MDB durante o regime militar, o PSDB/PMDB se constitui em uma espécie de “PRI” paulista, como seu análogo mexicano, recebendo os “votos úteis” de ambos os lados. Em 1994 e 2002, o PSDB recebeu no 2º turno a quase totalidade dos votos da “direita” (vis-a-vis F. Rossi e Genoíno), em 1998 recebeu todos os votos da “esquerda” (vis-a-vis Maluf.) Em 2006, a ausência de nomes alternativos (e viáveis) no campo conservador consagrou a eleição de Serra no 1º turno, puxando inclusive a formação da bancada de deputados (em movimento contrário – e defasado – ao ocorrido no plano federal, no qual o PSDB encolheu.)

Uma candidatura própria do PSB, com Skaf, pode assim seduzir parte dos eleitores de Alckmin e do PMDB-SP, levando a um 2º turno e, neste, o candidato do PT pode receber votos de eleitores do PSOL, PSB e PV, uma oportunidade que não existe no 1º turno. (Mesmo assim, e mesmo contando com o desgaste político recente na capital e com o funcionalismo, o cenário mais provável ainda é que Alckmin vença.)

C) Ir para 2º turno em SP é útil por outra circunstância: o número de brancos e nulos cai muito nesse estado de um turno para o outro (o número de votos válidos sobe de 5 a 10%, mas o número de votos conservadores não sobe.) Embora, como comentado outro dia, as tendências de longo prazo em SP sejam parecidas com as do Brasil, e até haja maior receptividade à social-democracia (“centro-esquerda”) nesse estado em relação ao país, também é em SP que os partidos fisiológicos de centro apresentam pouca expressão (PP e PMDB ficaram muito pequenos em comparação a outros estados). Por isso, ainda que em muitas situações (como a presidência ou governadores de outros estados) o PT consiga ganhar eleições em 1º turno, com o apoio de outros partidos, em SP isso ainda tem muito pouca chance de ocorrer. É sempre falado que o PT tem um eleitorado “firme” de 30% em SP, mas isso não quer dizer que o PSDB tenha 70%, pois há um mínimo de 20% de eleitores que não se decidem. Então, o PSDB tem, por sua vez, um público fiel em torno de 45%. Como 10% dos eleitores são renovados a cada 4 anos, as chances de acelerar as tendências de longo prazo em SP estão ligadas a desenvolver um discurso para o eleitor mais jovem, e isso pode levar ainda mais duas ou três eleições.

  

D) O Estado de São Paulo ter algum dia um governador do PT, PDT ou PSB não é, portanto, uma missão impossível. Os “tons de rosa” são muito presentes nesses quadros. Em 1998, por apenas 75 mil votos, Marta deixou de ir para o segundo turno. Essa situação “PT vs Maluf” seria inédita no plano estadual (onde há 3 décadas algum nome da associação, tida aqui como “centrista”, PMDB-PSDB esteve em 2º turno para absorver o “voto útil”). Quem teria ganho os votos dos eleitores do PSDB nessa polarização é um enigma para o qual nunca teremos a resposta, sabemos apenas que 1/3 dos eleitores atuais não votou naquela ocasião.

Porém, mais uma vez para contrariar o mito de que SP não vota em PT, vale observar a evolução da votação para Senado. É claro que o nome Eduardo Suplicy tem um peso especial, mas, de qualquer modo, supondo que seja provável eleger Marta (ou Mercadante) este ano, o PT terá obtido 5 das 9 vagas abertas desde 1990. A existência de candidato próprio para a eleição a governador deste ano apenas ajuda a fixação da imagem do PT no estado, sem prejudicar a de outros partidos próximos.

 

Tendo em vista o que sabemos sobre a capacidade de articulação e de visão de futuro de Lula, seria imprudente considerar que a estratégia dele (resumida como “Ciro em SP”), delineada em meados de 2009, fosse equivocada. Não obstante, pode ser possível imaginar que essa mesma estratégia já contemplasse os “Planos Bs” (Ciro como “seguro” de 2º turno em eleição com Serra e factóides, Ciro como alternativa polarizadora para SP se Serra ficar em SP e Aécio como candidato da oposição a presidente, duas candidaturas/palanques em SP se o demais estiver indo bem.) Em todo o caso, a mudança de domicílio não fez mal algum, ao contrário, trouxe instabilidade para o projeto da oposição.

E o prazo para registro de candidaturas é 05/julho. Até lá é possível fazer discurso de candidato para uma coisa mas depois optar por outra. Nada impede, por exemplo, que no último minuto Ciro deseje se candidatar ao Senado, levando para esta casa, junto com Aécio, outro tipo de debate político (como ele manifesta com frequência.) Isto se ele não for o presidente…

Sobre o quadro de candidaturas para SP este artigo muito recente do site vermelho está interessante:

http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=126167&id_secao=1

SP : uma missão possível. Graças a Ciro?

Depois de ler a excelente análise do Vander e rever um pouco a história, comecei a pensar que o melhor mesmo para a coligação governista (federal) é o Ciro ser candidato a presidente e não haver uma supercoligação em SP. Ficará como grande mistério se isso é uma iniciativa particular ou não. Em um cenário em que Aécio não seja o candidato da oposição, o que mudaria muita coisa.

A) Em um ambiente normal, a candidatura de Ciro não seria necessária para PT/PMDB fazer a presidente no 1º turno. Mas, como a mídia não deixa o ambiente ser normal, então a candidatura de Ciro serve como um “seguro”, forçando a ida a um 2º turno e dando um mês extra de debates e campanhas para o governo desmontar qualquer eventual factóide. Não é impossível um 2º turno Dilma x Ciro. Como recordado recentemente, oscilações fortes ocorrem nas últimas semanas antes do 1º turno.

 

B) Em SP, e já com o MDB durante o regime militar, o PSDB/PMDB se constitui em uma espécie de “PRI” paulista, como seu análogo mexicano, recebendo os “votos úteis” de ambos os lados. Em 1994 e 2002, o PSDB recebeu no 2º turno a quase totalidade dos votos da “direita” (vis-a-vis F. Rossi e Genoíno), em 1998 recebeu todos os votos da “esquerda” (vis-a-vis Maluf.) Em 2006, a ausência de nomes alternativos (e viáveis) no campo conservador consagrou a eleição de Serra no 1º turno, puxando inclusive a formação da bancada de deputados (em movimento contrário – e defasado – ao ocorrido no plano federal, no qual o PSDB encolheu.)

Uma candidatura própria do PSB, com Skaf, pode assim seduzir parte dos eleitores de Alckmin e do PMDB-SP, levando a um 2º turno e, neste, o candidato do PT pode receber votos de eleitores do PSOL, PSB e PV, uma oportunidade que não existe no 1º turno. (Mesmo assim, e mesmo contando com o desgaste político recente na capital e com o funcionalismo, o cenário mais provável ainda é que Alckmin vença.)

C) Ir para 2º turno em SP é útil por outra circunstância: o número de brancos e nulos cai muito nesse estado de um turno para o outro (o número de votos válidos sobe de 5 a 10%, mas o número de votos conservadores não sobe.) Embora, como comentado outro dia, as tendências de longo prazo em SP sejam parecidas com as do Brasil, e até haja maior receptividade à social-democracia (“centro-esquerda”) nesse estado em relação ao país, também é em SP que os partidos fisiológicos de centro apresentam pouca expressão (PP e PMDB ficaram muito pequenos em comparação a outros estados). Por isso, ainda que em muitas situações (como a presidência ou governadores de outros estados) o PT consiga ganhar eleições em 1º turno, com o apoio de outros partidos, em SP isso ainda tem muito pouca chance de ocorrer. É sempre falado que o PT tem um eleitorado “firme” de 30% em SP, mas isso não quer dizer que o PSDB tenha 70%, pois há um mínimo de 20% de eleitores que não se decidem. Então, o PSDB tem, por sua vez, um público fiel em torno de 45%. Como 10% dos eleitores são renovados a cada 4 anos, as chances de acelerar as tendências de longo prazo em SP estão ligadas a desenvolver um discurso para o eleitor mais jovem, e isso pode levar ainda mais duas ou três eleições.

  

D) O Estado de São Paulo ter algum dia um governador do PT, PDT ou PSB não é, portanto, uma missão impossível. Os “tons de rosa” são muito presentes nesses quadros. Em 1998, por apenas 75 mil votos, Marta deixou de ir para o segundo turno. Essa situação “PT vs Maluf” seria inédita no plano estadual (onde há 3 décadas algum nome da associação, tida aqui como “centrista”, PMDB-PSDB esteve em 2º turno para absorver o “voto útil”). Quem teria ganho os votos dos eleitores do PSDB nessa polarização é um enigma para o qual nunca teremos a resposta, sabemos apenas que 1/3 dos eleitores atuais não votou naquela ocasião.

Porém, mais uma vez para contrariar o mito de que SP não vota em PT, vale observar a evolução da votação para Senado. É claro que o nome Eduardo Suplicy tem um peso especial, mas, de qualquer modo, supondo que seja provável eleger Marta (ou Mercadante) este ano, o PT terá obtido 5 das 9 vagas abertas desde 1990. A existência de candidato próprio para a eleição a governador deste ano apenas ajuda a fixação da imagem do PT no estado, sem prejudicar a de outros partidos próximos.

 

Tendo em vista o que sabemos sobre a capacidade de articulação e de visão de futuro de Lula, seria imprudente considerar que a estratégia dele (resumida como “Ciro em SP”), delineada em meados de 2009, fosse equivocada. Não obstante, pode ser possível imaginar que essa mesma estratégia já contemplasse os “Planos Bs” (Ciro como “seguro” de 2º turno em eleição com Serra e factóides, Ciro como alternativa polarizadora para SP se Serra ficar em SP e Aécio como candidato da oposição a presidente, duas candidaturas/palanques em SP se o demais estiver indo bem.) Em todo o caso, a mudança de domicílio não fez mal algum, ao contrário, trouxe instabilidade para o projeto da oposição.

E o prazo para registro de candidaturas é 05/julho. Até lá é possível fazer discurso de candidato para uma coisa mas depois optar por outra. Nada impede, por exemplo, que no último minuto Ciro deseje se candidatar ao Senado, levando para esta casa, junto com Aécio, outro tipo de debate político (como ele manifesta com frequência.) Isto se ele não for o presidente…

Sobre o quadro de candidaturas para SP este artigo muito recente do site vermelho está interessante:

http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=126167&id_secao=1