Um pouco de teoria econômica!Economia Clássica/Keynesiana/Kalekiana/Monetarista/NeoliberalFuncional
A Era Keynesiana surgiu em 36, quando Keynes apresentou seu famoso trabalho: “Teoria geral do emprego, do juro e da moeda”. Surge o princípio da Demanda Efetiva, nele a economia poderia se encontrar em equilíbrio em qualquer ponto abaixo da situação de pleno emprego e da plena utilização da capacidade instalada. Em Depressão só a atuação do Estado realizando Gastos, até supérfluos, poderia reavivar a Economia, já que os investimentos privados estariam totalmente desestimulados.
Isso derrubou o dogma da economia neoclássica de Say com sua famosa síntese: “A oferta cria sua própria procura”, que pregava que a economia deixada livre sem interferência governamental sempre estaria em equilíbrio na situação máxima de pleno emprego e plena utilização da capacidade instalada (situação de longo prazo). Na Depressão de 30, tudo isso veio abaixo, principalmente por uma questão que não estava presente na teoria neoclássica. Nela os consumidores consomem e/ou poupam e os empresários produzem e/ou investem. Na crise, entretanto, surgiu o terceiro estado de sentimento: “preferir estar líquido”, definido como preferência pela liquidez, ou seja, todos diante de uma deflação de preços e risco de quebras de bancos, preferiam manter os recursos guardados debaixo do colchão. Isso por si só valorizava o dinheiro e consequentemente aumentava a depressão.
O presidente Roosevelt, nos EUA, antes mesmo da teoria Keynesiana, fez o que tinha que ser feito, fez o Estado gastar e realizar obras; e o presidente Vargas também, no Brasil, fez o que tinha que ser feito, fez o Estado comprar café e queimá-lo, lançando o Brasil na era da industrialização.
Então, a teoria Keynesiana respaldou as atuações anteriores de Roosevelt e de Getúlio Vargas, onde o Estado realizando Gastos acima da Arrecadação elevaria a Demanda e a Renda. Também estava instaurada a “Era da Incerteza”, ou seja, a Demanda passa a ser estatisticamente indeterminada, diferente da Oferta de Say, que era definida conforme uma distribuição determinística (conhecida pelos empresários de acordo com a experiência e a observação dos períodos anteriores, sem assimetria de informações).
Keynes provinha dos clássicos e mantinha os seus preceitos, ou seja, livre mercado, concorrência perfeita, o que ele queria, na verdade, não era revolucionar ou mudar o sistema, o que ele queria era manter o capitalismo com as salvaguardas governamentais. Já o polonês Kalecki, contemporâneo de Keynes, vinha de uma linhagem socialista, mas não ortodoxa. Também descreveu o princípio da Demanda Efetiva, só que, com seus preceitos, considerava a concorrência imperfeita; para ele as economias se distinguiam pelo grau de monopólio das atividades produtivas e, obviamente, reconhecia a atuação do Estado. A distribuição da renda (Y), na sua concepção, era funcional, ou seja, entre as duas classes: trabalhadores auferindo Salários (S) e os capitalistas, os Lucros (L), e, não, como em Keynes que todos eram indivíduos (sem distinção de classes econômicas), que consumiam e investiam. Então, numa economia fechada: DE=Y; sendo DE= C+I+GG e Y= S+L.
A teoria de Kalecki, mais explicativa do que a de Keynes, partia de certas premissas que ele cunhava em frases. Exemplo de uma delas:
“Os Trabalhadores gastam o que ganham (S = C) e os Capitalistas ganham o que gastam (I = L)”.
Então a partir da frase, eliminando C e S, que são iguais e rearrumando a equação, sobra que L = I + GG, ou seja, o lucro dos empresários advém de seus próprios gastos em Investimentos (I) e dos Gastos do Governo (GG).
E ainda duas questões são comuns e revolucionárias no pensamento Kalecki/Keynesiano: o Investimento gera sua própria Poupança ex-post e Gastos Públicos antecedem e geram Impostos! Eles estão dizendo que a Demanda (DE) e, consequentemente, a Renda (Y) dependem do Investimento (I) e dos Gastos do Governo (GG).
Então, por que os empresários reclamam da presença do Estado na Economia, se eles são os beneficiários e se atuação do Estado aumenta a Renda (Y) e, consequentemente, seus lucros (L)? Kalecki explica, em resumo, que a resposta é política, ou seja, que apesar de serem beneficiados, os empresários querem manter o Governo sob seu controle, abrem mão da maximização dos lucros(L) e da plena utilização da capacidade, porque isso significa o pleno emprego e a emancipação dos trabalhadores. Isso está registrado no magistral artigo: “Os Aspectos Políticos do Pleno Emprego”, de 1944(Em anexo).
No pós-guerra, com a recuperação da economia européia, todos passaram a ser Keynesianos, inclusive os conservadores “clássicos” tiveram que engolir.
Só que eles não estavam mortos, em 1973, na crise do petróleo, voltaram, devagarzinho, como vocês sabem, com o “monetarismo” de Friedman, com as “expectativas racionais” de Lucas e finalmente com o neoliberalismo dos anos 90 e a velha cantilena do Estado mínimo, já que na velha teoria de Say, como a economia estava sempre à plena capacidade, os gastos do Estado “perdulário” tirariam lugar do investimento privado – efeito “crowding out”. Não satisfeitos, ainda introduziram a tese desumana de que existe uma “Taxa natural de desemprego” que mantém a inflação e a economia em equilíbrio.
O que aconteceu, vocês já sabem! Em 15 de setembro de 2008, com a quebra do Lehman Brothers, 80 anos após o último “crash”, a história se repetiu, o eficiente setor financeiro privado precisou da atuação do Estado como o “assegurador de última instância” do sistema capitalista.
Agora, todos recorrem à Minsky, que em resumo descreve, em sua tese “Uma Hipótese de Instabilidade Financeira”, que os ciclos capitalistas terminam em estouro de “bolhas”, no qual só a presença do “Grande Governo (Estado)” e do “Grande Banco ( Bancos Oficiais)”, atuando como “emprestadores de última instância”, seguram o sistema até a próxima crise.
As “Finanças Funcionais” do economista keynesiano, Abba Lerner, falecido em 1982, são uma versão mais radical de Keynes, quando esse advoga que a presença do Estado serve para tirar a economia da recessão. Lerner, aluno de Keynes, teoriza dizendo que a atuação do Estado, através de gastos (déficits públicos) e política monetária ativa são funcionais na medida em que provocam efeitos expansivos na economia e à levam ao pleno emprego, ou seja, políticas públicas devem ser usadas funcionalmente de forma permanente e complementar à instabilidade do investimento privado (efeito contrário ao “crowding out”)! “Finanças Funcionais” têm um senso irônico de se contrapor às Finanças Saudáveis, que pregam o equilíbrio fiscal e o Estado mínimo.
Atualmente, um dos mais proeminentes representantes dessa corrente é Randall Wray, que esteve aqui no BNDES em meados de 2008. Ele foi aluno de Minsky e advoga uma tese muito interessante – O Governo como “empregador de última instância” (EUI), que seria uma grande bolsa trabalho, onde o exército excedente de mão de obra teria direito ao emprego a um salário nominal fixo. O EUI seria uma âncora dos preços e regularia o mercado de mão de obra. Wray considera antiética a tese da “taxa natural de desemprego”. Ele tem um livro traduzido pelo economista José Carlos de Assis: “Trabalho e Moeda Hoje”, fácil de ser lido e bem explicativo das Finanças Funcionais.
Em resumo o pensamento síntese da nova era Keynesiana é: “Investimentos e Gastos Governamentais geram sua própria poupança e impostos”!
Por quê? Porque, na economia atual, poupança provém do crédito elástico e endógeno que o sistema financeiro produz! E os impostos provêm do efeito multiplicador dos Investimentos e Gastos do Governo!
Então, por que o crédito encontra-se paralisado na economia americana? Porque, lá, ao contrário do Brasil, eles não têm Bancos Oficiais para emprestar ao setor real, e como já explicamos, o setor financeiro prefere especular mundo afora!
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