2010 :: “A sucessão presidencial e o futuro do Brasil”


Está na hora dos pré-candidatos (e respectivos apoiadores) passarem a discutir um projeto de Brasil. E fugir dessa agenda “escandalosa” que a mídia tenta impor. Definir e estruturar aquilo que pensam pro futuro, e não só do passado.

Os tucanos acusam a candidata do governo de omissão. Mas vc sabe o que qualquer um dos pré-candidatos tucanos pensam sobre temas polêmicos e importantes (eg.: pré-sal, política monetária, câmbio, etc)? E os petistas estão se iludindo se pensam que vão ser eleitos discutindo só o passado (eg.: bolsa-familia, fmi, divida externa, etc).

Então, a hora é agora. Pois isso não se constroi do dia pra noite. É um processo. E vc tem que impor sua agenda

Nas eleições, tenho minhas dúvidas se a oposição vai conseguir se descolar do debate “o que fizemos vs o que vcs fizeram“. Mas esse será só parte do debate.

Está na hora de por um fim nesse denuncismo ignóbil que não leva a lugar nenhum. E discutir como gente grande assuntos importantes pro futuro desse magnífico País.

Folha de S.Paulo – Roberto Mangabeira Unger: A sucessão presidencial e o futuro do Brasil
– 15/11/2009

A sucessão presidencial e o futuro do Brasil

ROBERTO MANGABEIRA UNGER

Nenhum desses 5 conjuntos de iniciativas se acomoda dentro do que predomina hoje no pensamento dos principais pré-candidatos
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Não somos Racistas?

Manifesto Porta na Cara – Flagrante na agência bancária


Não somos racistas? Só o Ali Camel (e cia) acreditam nessa estória. Talvez pq vivam em outro Brasil.

Na Periferia do Império………………….: Racismo

Racismo

O Núcleo Audiovisual do Circo Voador filmou dois jovens entrando no mesmo banco, com a mesma bolsa, em momentos diferentes e constatou que o método de segurança utilizado atualmente pelas agências bancárias é baseado no pré-julgamento do segurança, que possui o controle de trava das portas.

2010 :: "A sucessão presidencial e o futuro do Brasil"


Está na hora dos pré-candidatos (e respectivos apoiadores) passarem a discutir um projeto de Brasil. E fugir dessa agenda “escandalosa” que a mídia tenta impor. Definir e estruturar aquilo que pensam pro futuro, e não só do passado.

Os tucanos acusam a candidata do governo de omissão. Mas vc sabe o que qualquer um dos pré-candidatos tucanos pensam sobre temas polêmicos e importantes (eg.: pré-sal, política monetária, câmbio, etc)? E os petistas estão se iludindo se pensam que vão ser eleitos discutindo só o passado (eg.: bolsa-familia, fmi, divida externa, etc).

Então, a hora é agora. Pois isso não se constroi do dia pra noite. É um processo. E vc tem que impor sua agenda

Nas eleições, tenho minhas dúvidas se a oposição vai conseguir se descolar do debate “o que fizemos vs o que vcs fizeram“. Mas esse será só parte do debate.

Está na hora de por um fim nesse denuncismo ignóbil que não leva a lugar nenhum. E discutir como gente grande assuntos importantes pro futuro desse magnífico País.

Folha de S.Paulo – Roberto Mangabeira Unger: A sucessão presidencial e o futuro do Brasil
– 15/11/2009

A sucessão presidencial e o futuro do Brasil

ROBERTO MANGABEIRA UNGER

Nenhum desses 5 conjuntos de iniciativas se acomoda dentro do que predomina hoje no pensamento dos principais pré-candidatos

O FUTURO , não o passado, é o tema de uma grande eleição, como será a de 2010. O assunto central há de ser como superar a contradição central do Brasil: uma vitalidade imensa ainda coexiste, para a maioria dos brasileiros, com a falta de instrumentos e de capacitações.

Hoje essa vitalidade está encarnada, sobretudo, em classe média surpreendente, que inaugura cultura de autoajuda e de iniciativa. Já está no comando do imaginário popular. A revolução brasileira de agora é consumar as inovações institucionais que permitam à maioria seguir o caminho dessa vanguarda de batalhadores e de emergentes.

O governo Lula promoveu grandes avanços. São eles a base indispensável para o que deve vir em seguida. Consolidou a estabilidade econômica, barrando o regresso à hiperinflação. Livrou milhões da pobreza extrema. Abriu, para outros milhões, as portas da universidade e da escola técnica. Iniciou obras indispensáveis ao desenvolvimento do país.

Tudo isso somado, entretanto, não resolve a contradição entre o dinamismo do povo brasileiro e a negação à maioria dos instrumentos para criar e empreender. O próximo passo é a construção de modelo de desenvolvimento baseado na democratização de oportunidades econômicas e educativas. O povo brasileiro não quer caridade, quer oportunidade. Quer ver os interesses do trabalho e da produção ganharem primazia sobre os interesses do rentismo financeiro.

Cinco conjuntos de iniciativas traduzem essa aspiração libertadora em transformação prática. Nenhum deles se acomoda dentro do que hoje predomina no pensamento e no discurso dos principais pré-candidatos à Presidência: o desenvolvimentismo da década de 70.

O primeiro projeto é democratizar a economia de mercado. Não basta regular o mercado. Não basta contrabalançar suas desigualdades com programas sociais. É preciso reconstruí-lo em seu conteúdo institucional para torná-lo mais includente.
Parte dessa obra é a consolidação de uma política industrial que facilite para as pequenas e médias empresas -o setor mais importante de nossa economia- o acesso ao crédito, à tecnologia, ao conhecimento, aos mercados globais e às práticas de inovação permanente.
Parte é a superação do contraste entre agricultura empresarial e agricultura familiar. Esta tem de ganhar as características daquela.
E parte é a definição de regras que protejam, organizem e representem os trabalhadores precarizados que hoje formam a maioria do povo brasileiro: precarizados ou porque continuam na economia informal ou porque, na economia formal, atuam em trabalho temporário, terceirizado, doméstico ou autônomo.

O segundo projeto é dotar nossa afirmação nacional de escudo econômico. Cortar a falsa ortodoxia econômica ao meio. Reafirmar a parte sadia: realismo fiscal e responsabilidade fiscal. Mas repudiar a parte nociva: a aceitação de baixo nível de poupança nacional, privada e pública, e o apelo à poupança estrangeira como base de nosso desenvolvimento. Mobilizar a poupança de longo prazo para o investimento produtivo de longo prazo e não permitir que seu potencial se desperdice em cassino financeiro.

O terceiro projeto é capacitar o povo brasileiro por meio do ensino público. Uma prioridade é construir as regras e os meios para reconciliar a gestão local das escolas pelos Estados e municípios com padrões nacionais de investimento e de qualidade. A qualidade da educação que uma criança recebe não deve depender do acaso do lugar onde ela nasce.
Outra prioridade é substituir, na maneira de ensinar e de aprender, decoreba -o enciclopedismo informativo superficial- por ensino analítico e capacitador, com foco no básico, análise verbal e numérica.

O quarto projeto é construir Estado capaz de fazer tudo isso. A agenda do profissional administrativo. A agenda da eficiência na gestão pública. A agenda do experimentalismo na maneira de prestação e na qualificação dos serviços públicos, inclusive de educação e saúde, por meio do engajamento da sociedade civil na provisão competitiva e experimental deles.

O quinto projeto é tirar a política da sombra corruptora do dinheiro. Instituir o financiamento público das campanhas eleitorais para diminuir a influência do dinheiro privado. Substituir a maior parte dos cargos comissionados por carreiras de Estado. E rever o processo orçamentário para que não sirva à negociação obscura entre os interesses poderosos.

Nada disso é utópico. Tudo serve ao mesmo objetivo: dar braços, asas e olhos à energia humana que fervilha, frustrada e dispersa, no Brasil.

ROBERTO MANGABEIRA UNGER é professor titular da Universidade Harvard (EUA), ex-ministro extraordinário de Assuntos Estratégicos (2007-2009) e ex-colunista da Folha.

Lula, Destruidor Criativo da Política

Shiva

“Shiva – Destruir e Criar. “

Esses dois textos interessantes do Cristian Klein no JB. Havia salvado como rascunho e não publicado. Schumpeter vive e tem muito a explicar sobre a nossa realidade, política e econômica.

Lula, destruidor criativo da política — Portal ClippingMP


Coisas da Política


Autor(es): Cristian Klein
Jornal do Brasil – 26/10/2009


UM DOS MAIS CORTANTES pensadores da economia e da política, o austríaco Joseph Schumpeter (1883-1950) elaborou conceitos que se tornaram pilares para qualquer analista que tente entender as modernas sociedades democráticas capitalistas. Concorde-se ou não com ele. Sua definição do capitalismo como um sistema de produção cujo segredo do sucesso está na constante mutação, por meio de um processo de “destruição criativa”, é um clássico. Como uma cobra que vai trocando de pele, o capitalismo se reinventa. Novas técnicas de produção e novos produtos substituem antigos modelos e se sucedem no tempo, fazendo com que o essencial, a busca pelo lucro, não se altere. Para Schumpeter, o principal responsável por esse processo de destruição e reinvenção é o empresário inovador, uma figura arquetípica, comparável a um guerreiro medieval. Repousa sobre ele a liderança e as possibilidades de conquistas no mundo capitalista. O empresário inovador não pertence necessariamente ao topo da pirâmide social. Diferentemente dos guerreiros, que vinham da nobreza, ele pode emergir de qualquer classe, da mais rica à mais pobre. Mas, invariavelmente, é um indivíduo que reúne qualidades especiais, que o fazem destacar-se como um criador no meio econômico e como força-motriz do sistema capitalista.

No âmbito dos regimes democráticos, a figura mais semelhante ao do empresário schumpeteriano é a do empresário político. Este tipo foi utilizado por Max Weber (1864-1920) para caracterizar algumas das principais diferenças entre as democracias europeias e a norte-americana. Enquanto na Europa os partidos eram comandados por burocracias, digamos, insossas, pelo domínio de grupo de políticos profissionais sem vocação, nos Estados Unidos reinava, no melhor espírito do capitalismo, o empreendedorismo individual dos políticos que montavam sua própria máquina partidária em busca de votos.

Para Weber, que escrevia no começo do século 20, só haveria, então, duas escolhas de democracia: a democracia com liderança (americana) e a democracia sem líder (europeia).

A história política brasileira recente, no entanto, é mais original.

Permite uma terceira via, híbrida, mestiça. É o país onde há o petismo, oriundo de um partido socialdemocrata de massa, ao velho estilo das organizações europeias.

E onde há o lulismo, movido pelo carisma, pela trajetória e pela força pessoal do presidente da República.

Essa mistura, em que se combinam traços de partidarismo e personalismo, é uma das marcas do sistema político brasileiro. O petismo não responde por todo o quadro político, mas sua trajetória serviu de exemplo para outras legendas ao mostrar quão longe pode ir uma agremiação que investe em sua marca partidária. Seu percurso é europeu. Já Lula não corresponde exatamente ao perfil do empresário político americano a que se referia Weber. O PT não foi uma máquina partidária, uma criação personalista sua, pois, como se sabe, o partido surgiu da união de sindicalistas, segmentos da Igreja e da intelectualidade.

Mas, com a força atual de sua popularidade – e mesmo antes dela – não há como negar que seu comando sobre o partido em alguns momentos se assemelha ao de um empreendedor e dono da empresa.

A condução das negociações sobre sua sucessão eleitoral revela bem isso. O anúncio na semana passada da aliança do PT com o PMDB, para a formação da chapa presidencial em 2010, mostrou como a preocupação com os compromissos partidários é importante – mesmo na arena eleitoral, onde o personalismo é tido como endêmico. Às pressas, PT e PMDB buscaram um pré-acordo nacional, antes que os líderes estaduais fizessem suas alianças por conta própria. Mas a escolha do nome para sucedê-lo, ainda que não tenha havido convenção partidária, já é sabida por todos: Dilma Rousseff, uma decisão pessoal de Lula.

Dilma, ainda desconhecida do grande eleitorado, não figura bem nas pesquisas eleitorais. Mas é na intuição de Lula – na impossibilidade de ele próprio competir – que o partido deposita suas esperanças de continuar no poder. Afinal, Lula é o exemplo mais bem acabado do empresário schumpeteriano da política brasileira, com sua capacidade ímpar de fazer “destruições criativas”. Ainda que a aparência seja apenas de pragmatismo (continua amanhã).

Seu comando se assemelha ao de um empreendedor e dono da empresa



Jornal do Brasil – Coisas da Política – A maquinaria social de Lula

 

A maquinaria social de Lula27/10/2009 – 01:08 | Enviado por: Mauro Santayana
Por Cristian Klein

Como dito na coluna de ontem, se pudéssemos transpor a figura do empresário, imaginada por Schumpeter, do âmbito da economia para o da política, a trajetória do presidente Lula seria um dos exemplos mais ilustrativos do executivo descrito no Capitalismo, socialismo e democracia (1942). É neste livro que o austríaco defende a ideia de que o sistema capitalista tem sobrevivido ao longo dos séculos por meio da “destruição criativa”. Ou seja, velhas técnicas, tecnologias e produtos são substituídos, de modo cíclico, por novos modelos, numa constante mutação. O segredo do capitalismo é sempre mudar para continuar o mesmo. A figura responsável por essa máquina é o empresário. Não o simples dono de empresa. Mas o executivo, o empreendedor, que faz da inovação seu melhor negócio. Sua origem social não importa. Ele pode vir tanto das classes mais altas quanto das mais baixas. Afinal, o sistema, em seu formato idealmente competitivo, é aberto. Como a democracia, que permitiu a ascensão de Lula – da pobreza ao Planalto.

O empresário inovador schumpeteriano é aquele capaz de realizar mudanças de impacto. Como Henry Ford, com a linha de produção, Graham Bell, com a linha de telefone, e, mais recentemente, Bill Gates, com o sistema operacional Windows. Foram inovações que alteraram hábitos de consumo e de comportamento e atingiram grande parte da população.

Analogias entre o mundo da economia e o da política são sempre tentadoras. Partidos como empresas. Políticos como empresários. Instituições como agências reguladoras. Um mercado de eleitores, em que se maximizam votos; em contraponto ao mercado de consumidores, em que se potencializam lucros. Mas as semelhanças são tão marcantes quanto as diferenças. Uma arguta observação de Carl Schmitt, brilhante pensador e ideólogo que serviu ao Terceiro Reich nazista, afirma que a política se dá sob a dicotomia amigo versus inimigo. A economia oscila entre o lucro e o prejuízo; o reino da estética entre o belo e o feio.

Um dos principais contrastes, no entanto, entre o mundo da economia e o da política é que, enquanto as trocas econômicas são realizadas livremente no mercado, a decisão política, uma vez escolhido o governo, é imposta a todos. Mesmo àqueles que não quiseram comprar o “produto” (um político, um partido, uma política pública).

Nesse sentido, à primeira vista, poderia imaginar-se ser muito mais fácil, pela imposição, introduzir inovações na política do que na economia. Não é o caso. A política, por envolver jogo de interesses e conflito social, amarra as decisões, que quase sempre são fruto de compromissos e negociações entre as partes. O capitalismo é um terreno livre. A democracia é um labirinto.

Há situação e oposição. E há uma variedade de instituições políticas que podem ou não favorecer uma guinada inovadora. É o caso
dos sistemas de governo (parlamentarismo, presidencialismo), eleitoral (majoritário, proporcional) e partidário (bi, multipartidário). Em países como Estados Unidos e Reino Unido, que têm apenas dois partidos efetivos, grandes mudanças na política são mais factíveis. O vencedor ocupa o governo, e o perdedor vai para a oposição. Mas é a combinação dessas instituições que influencia o resultado final. Nos Estados Unidos, um país presidencialista, e logo, com separação de poderes, as guinadas são mais arrastadas. Vide a batalha legislativa travada agora pelo presidente Barack Obama, que tenta introduzir um inédito e amplo sistema de saúde pública no país. Por isso, e pelo modo inovador como chegou ao poder, com novas estratégias de comunicação durante a campanha, Obama parece ser a própria encarnação do empresário schumpeteriano na política.

No Brasil, multipartidário, a necessidade de coalizão é um complicador a mais. As alianças são inevitáveis, embora não precisem ser obrigatoriamente com tantos Judas. Apesar disso, há espaço para inovações. A primeira tentativa de Lula, o Fome Zero, fracassou. Mas sua maquinaria de tecnologia social, com Bolsa Família à frente, já se impôs, e dificilmente poderá ser alterada pelos próximos governos. Lula não é o inventor – como também não é necessariamente o executivo de Schumpeter. Mas soube empreender essa “destruição criativa” na política brasileira.

Não somos Racistas?

Manifesto Porta na Cara – Flagrante na agência bancária


Não somos racistas? Só o Ali Camel (e cia) acreditam nessa estória. Talvez pq vivam em outro Brasil.

Na Periferia do Império………………….: Racismo

Racismo

O Núcleo Audiovisual do Circo Voador filmou dois jovens entrando no mesmo banco, com a mesma bolsa, em momentos diferentes e constatou que o método de segurança utilizado atualmente pelas agências bancárias é baseado no pré-julgamento do segurança, que possui o controle de trava das portas.

Lula, Destruidor Criativo da Política

Shiva

“Shiva – Destruir e Criar. “

Esses dois textos interessantes do Cristian Klein no JB. Havia salvado como rascunho e não publicado. Schumpeter vive e tem muito a explicar sobre a nossa realidade, política e econômica.

Lula, destruidor criativo da política — Portal ClippingMP


Coisas da Política


Autor(es): Cristian Klein
Jornal do Brasil – 26/10/2009


UM DOS MAIS CORTANTES pensadores da economia e da política, o austríaco Joseph Schumpeter (1883-1950) elaborou conceitos que se tornaram pilares para qualquer analista que tente entender as modernas sociedades democráticas capitalistas. Concorde-se ou não com ele. Sua definição do capitalismo como um sistema de produção cujo segredo do sucesso está na constante mutação, por meio de um processo de “destruição criativa”, é um clássico. Como uma cobra que vai trocando de pele, o capitalismo se reinventa. Novas técnicas de produção e novos produtos substituem antigos modelos e se sucedem no tempo, fazendo com que o essencial, a busca pelo lucro, não se altere. Para Schumpeter, o principal responsável por esse processo de destruição e reinvenção é o empresário inovador, uma figura arquetípica, comparável a um guerreiro medieval. Repousa sobre ele a liderança e as possibilidades de conquistas no mundo capitalista. O empresário inovador não pertence necessariamente ao topo da pirâmide social. Diferentemente dos guerreiros, que vinham da nobreza, ele pode emergir de qualquer classe, da mais rica à mais pobre. Mas, invariavelmente, é um indivíduo que reúne qualidades especiais, que o fazem destacar-se como um criador no meio econômico e como força-motriz do sistema capitalista.

No âmbito dos regimes democráticos, a figura mais semelhante ao do empresário schumpeteriano é a do empresário político. Este tipo foi utilizado por Max Weber (1864-1920) para caracterizar algumas das principais diferenças entre as democracias europeias e a norte-americana. Enquanto na Europa os partidos eram comandados por burocracias, digamos, insossas, pelo domínio de grupo de políticos profissionais sem vocação, nos Estados Unidos reinava, no melhor espírito do capitalismo, o empreendedorismo individual dos políticos que montavam sua própria máquina partidária em busca de votos.

Para Weber, que escrevia no começo do século 20, só haveria, então, duas escolhas de democracia: a democracia com liderança (americana) e a democracia sem líder (europeia).

A história política brasileira recente, no entanto, é mais original.

Permite uma terceira via, híbrida, mestiça. É o país onde há o petismo, oriundo de um partido socialdemocrata de massa, ao velho estilo das organizações europeias.

E onde há o lulismo, movido pelo carisma, pela trajetória e pela força pessoal do presidente da República.

Essa mistura, em que se combinam traços de partidarismo e personalismo, é uma das marcas do sistema político brasileiro. O petismo não responde por todo o quadro político, mas sua trajetória serviu de exemplo para outras legendas ao mostrar quão longe pode ir uma agremiação que investe em sua marca partidária. Seu percurso é europeu. Já Lula não corresponde exatamente ao perfil do empresário político americano a que se referia Weber. O PT não foi uma máquina partidária, uma criação personalista sua, pois, como se sabe, o partido surgiu da união de sindicalistas, segmentos da Igreja e da intelectualidade.

Mas, com a força atual de sua popularidade – e mesmo antes dela – não há como negar que seu comando sobre o partido em alguns momentos se assemelha ao de um empreendedor e dono da empresa.

A condução das negociações sobre sua sucessão eleitoral revela bem isso. O anúncio na semana passada da aliança do PT com o PMDB, para a formação da chapa presidencial em 2010, mostrou como a preocupação com os compromissos partidários é importante – mesmo na arena eleitoral, onde o personalismo é tido como endêmico. Às pressas, PT e PMDB buscaram um pré-acordo nacional, antes que os líderes estaduais fizessem suas alianças por conta própria. Mas a escolha do nome para sucedê-lo, ainda que não tenha havido convenção partidária, já é sabida por todos: Dilma Rousseff, uma decisão pessoal de Lula.

Dilma, ainda desconhecida do grande eleitorado, não figura bem nas pesquisas eleitorais. Mas é na intuição de Lula – na impossibilidade de ele próprio competir – que o partido deposita suas esperanças de continuar no poder. Afinal, Lula é o exemplo mais bem acabado do empresário schumpeteriano da política brasileira, com sua capacidade ímpar de fazer “destruições criativas”. Ainda que a aparência seja apenas de pragmatismo (continua amanhã).

Seu comando se assemelha ao de um empreendedor e dono da empresa



Jornal do Brasil – Coisas da Política – A maquinaria social de Lula

 

A maquinaria social de Lula27/10/2009 – 01:08 | Enviado por: Mauro Santayana
Por Cristian Klein

Como dito na coluna de ontem, se pudéssemos transpor a figura do empresário, imaginada por Schumpeter, do âmbito da economia para o da política, a trajetória do presidente Lula seria um dos exemplos mais ilustrativos do executivo descrito no Capitalismo, socialismo e democracia (1942). É neste livro que o austríaco defende a ideia de que o sistema capitalista tem sobrevivido ao longo dos séculos por meio da “destruição criativa”. Ou seja, velhas técnicas, tecnologias e produtos são substituídos, de modo cíclico, por novos modelos, numa constante mutação. O segredo do capitalismo é sempre mudar para continuar o mesmo. A figura responsável por essa máquina é o empresário. Não o simples dono de empresa. Mas o executivo, o empreendedor, que faz da inovação seu melhor negócio. Sua origem social não importa. Ele pode vir tanto das classes mais altas quanto das mais baixas. Afinal, o sistema, em seu formato idealmente competitivo, é aberto. Como a democracia, que permitiu a ascensão de Lula – da pobreza ao Planalto.

O empresário inovador schumpeteriano é aquele capaz de realizar mudanças de impacto. Como Henry Ford, com a linha de produção, Graham Bell, com a linha de telefone, e, mais recentemente, Bill Gates, com o sistema operacional Windows. Foram inovações que alteraram hábitos de consumo e de comportamento e atingiram grande parte da população.

Analogias entre o mundo da economia e o da política são sempre tentadoras. Partidos como empresas. Políticos como empresários. Instituições como agências reguladoras. Um mercado de eleitores, em que se maximizam votos; em contraponto ao mercado de consumidores, em que se potencializam lucros. Mas as semelhanças são tão marcantes quanto as diferenças. Uma arguta observação de Carl Schmitt, brilhante pensador e ideólogo que serviu ao Terceiro Reich nazista, afirma que a política se dá sob a dicotomia amigo versus inimigo. A economia oscila entre o lucro e o prejuízo; o reino da estética entre o belo e o feio.

Um dos principais contrastes, no entanto, entre o mundo da economia e o da política é que, enquanto as trocas econômicas são realizadas livremente no mercado, a decisão política, uma vez escolhido o governo, é imposta a todos. Mesmo àqueles que não quiseram comprar o “produto” (um político, um partido, uma política pública).

Nesse sentido, à primeira vista, poderia imaginar-se ser muito mais fácil, pela imposição, introduzir inovações na política do que na economia. Não é o caso. A política, por envolver jogo de interesses e conflito social, amarra as decisões, que quase sempre são fruto de compromissos e negociações entre as partes. O capitalismo é um terreno livre. A democracia é um labirinto.

Há situação e oposição. E há uma variedade de instituições políticas que podem ou não favorecer uma guinada inovadora. É o caso
dos sistemas de governo (parlamentarismo, presidencialismo), eleitoral (majoritário, proporcional) e partidário (bi, multipartidário). Em países como Estados Unidos e Reino Unido, que têm apenas dois partidos efetivos, grandes mudanças na política são mais factíveis. O vencedor ocupa o governo, e o perdedor vai para a oposição. Mas é a combinação dessas instituições que influencia o resultado final. Nos Estados Unidos, um país presidencialista, e logo, com separação de poderes, as guinadas são mais arrastadas. Vide a batalha legislativa travada agora pelo presidente Barack Obama, que tenta introduzir um inédito e amplo sistema de saúde pública no país. Por isso, e pelo modo inovador como chegou ao poder, com novas estratégias de comunicação durante a campanha, Obama parece ser a própria encarnação do empresário schumpeteriano na política.

No Brasil, multipartidário, a necessidade de coalizão é um complicador a mais. As alianças são inevitáveis, embora não precisem ser obrigatoriamente com tantos Judas. Apesar disso, há espaço para inovações. A primeira tentativa de Lula, o Fome Zero, fracassou. Mas sua maquinaria de tecnologia social, com Bolsa Família à frente, já se impôs, e dificilmente poderá ser alterada pelos próximos governos. Lula não é o inventor – como também não é necessariamente o executivo de Schumpeter. Mas soube empreender essa “destruição criativa” na política brasileira.