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“Entenderam pq a mídia não fala mais de Economia?”

Entre farsas e tragédias


“Sapos barbudos rulez the World”

Uma democracia sem adjetivos vai às urnas — Portal ClippingMP

Uma democracia sem adjetivos vai às urnas

Política
Autor(es): Maria Inês Nassif
Valor Econômico – 30/09/2010

“Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa.” Esta é uma das mais repetidas afirmações do filósofo alemão Karl Marx, que abre “O 18 Brumário”, talvez porque a realidade sempre se confronte com formas de farsas saudosas de tragédias.

O clima criado nestas eleições foi uma farsa inspirada na tragédia de 1964. Chegou-se ao grotesco. A guerra eleitoral ressuscitou de um passado que merece ser deixado para trás teses paranoicas de implantação de uma república sindicalista ou do comunismo totalitário, e acusou e pintou de tintas fortes supostos algozes da democracia. É uma situação irreal, pois o cenário dessa batalha é uma campanha eleitoral onde todas as instituições democráticas estão a postos e operantes: partidos legalmente constituídos apresentam seus candidatos aos eleitores e pedem seus votos; o acesso ao eleitor é democraticamente garantido por leis estáveis; uma Justiça que bate a cabeça, mas julga, mantém-se como poder independente; um governo eleito e reeleito pelo voto direto governa; o Congresso faz leis; a polícia investiga, criminosos vão para a cadeia. O país tem um presidente que, a despeito da alta popularidade, rejeitou artifícios constitucionais comuns no continente para concorrer a um terceiro mandato, afastando os exemplos de Hugo Chávez, da Venezuela, e Álvaro Uribe, da Colômbia. A oposição fala o que quer – e raras vezes na história falou tantos desaforos contra autoridades elevadas ao poder pelo voto popular. Aliás, não disse um centésimo deles a militares eleitos por Colégios Eleitorais, na ditadura militar.

Enfrentar a candidata de um presidente com 79,4% de aprovação, segundo o CNT/Sensus divulgado ontem, não é uma tarefa fácil, mas a disputa democrática em nenhum momento deve usar de qualquer meio para chegar a um fim. A mobilização de setores conservadores, a ida à caserna com discursos de “denúncia” de supostos atentados à democracia, o insuflamento do clima de Guerra Fria 20 anos depois da queda do Muro de Berlim, o terror à mobilidade social – tudo isso traz do passado o que o Brasil não gostaria de recriar para o seu futuro. Os velhos medos conservadores não cabem no novo mundo. Nem no Brasil de 2010. E são eles que estão sendo chamados às urnas, na impossibilidade de interlocução com setores que fogem ao controle da política tradicional.

Esse clima tirou do eleitor oportunidades preciosas. Como, por exemplo, a de ouvir do candidato do PSDB, José Serra, algum projeto coerente de Brasil para um eventual governo tucano. A campanha de Serra voltou ao período pré-governos FHC, onde as promessas surgiam do nada e visavam atingir um público sem discernimento. As campanhas eleitorais pós-Collor – que deram dois governos a Fernando Henrique Cardoso e dois a Luiz Inácio Lula da Silva – introduziram no linguajar de campanha a promessa responsável, que tinha que vir com a devida prova de que o Orçamento permitiria seu cumprimento. Serra vai asfaltar a Transamazônica, aumentar o salário mínimo para R$ 600 e dar 10% de aumento para os aposentados no ano que vem – e vai prometer o que mais vier à cabeça com o fim de suplantar o apelo popular de Dilma Rousseff (PT), a candidata que vem com o carimbo de Lula.

Dilma, por sua vez, ao se colocar na defensiva e grudar a sua imagem no governo de Lula, deixou de dizer muito. “Estamos no meio de uma guerra cambial internacional”, constatou o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Os EUA e a China protagonizam a guerra. “Quando dois elefantes deste porte lutam, os espectadores podem ser pisoteados”, alerta Martin Wolf, do Financial Times, no artigo “Guerras cambiais e demanda fraca”, publicado no Valor de ontem. O eleitor vai para as urnas sem saber o que a candidata favorita da disputa fará para desarmar a armadilha cambial, como ela vê a política de juros de Lula e como conduziria a política monetária, antes que as patas dos elefantes repousem num país que vive o seu maior período de estabilidade, e gostaria de aproveitá-lo para vencer a desigualdade e a pobreza.

Do debate eleitoral, também escapou o que pensa Marina Silva (PV), que cresceu nos últimos dias de campanha e tende a se consolidar como uma nova e bem-vinda liderança no cenário nacional. Para não ser acusada de candidata de uma nota só, engrossou o seu programa com vários outros temas, mas sem conseguir vencer a contradição de ser uma candidata que veio da esquerda e se encontrou no centro com outras pessoas – pessoas de bem, que se diga. Um programa bem intencionado não revela, todavia, uma proposta que transcenda a ideia central da sustentabilidade.

Vamos para as urnas no domingo. Faltou informação relevante para a decisão do voto, sobraram boatos e vitupérios. Ainda assim, vamos votar num país governado por um presidente eleito pelo voto popular, com um Congresso funcionando e uma Justiça atuante. Nosso voto será direto e secreto. Os eleitos serão empossados. Os derrotados à Presidência farão oposição; os vencedores serão legítimos governantes. Assim é a democracia. Que o bom senso dos atores políticos não a levem de novo para dentro dos quartéis. Deixem o país fora disso. O voto direto e secreto tem que ser capaz de resolver as diferenças políticas entre os brasileiros.

Entre farsas e tragédias


“Sapos barbudos rulez the World”

Uma democracia sem adjetivos vai às urnas — Portal ClippingMP

Uma democracia sem adjetivos vai às urnas

Política
Autor(es): Maria Inês Nassif
Valor Econômico – 30/09/2010

“Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa.” Esta é uma das mais repetidas afirmações do filósofo alemão Karl Marx, que abre “O 18 Brumário”, talvez porque a realidade sempre se confronte com formas de farsas saudosas de tragédias.

O clima criado nestas eleições foi uma farsa inspirada na tragédia de 1964. Chegou-se ao grotesco. A guerra eleitoral ressuscitou de um passado que merece ser deixado para trás teses paranoicas de implantação de uma república sindicalista ou do comunismo totalitário, e acusou e pintou de tintas fortes supostos algozes da democracia. É uma situação irreal, pois o cenário dessa batalha é uma campanha eleitoral onde todas as instituições democráticas estão a postos e operantes: partidos legalmente constituídos apresentam seus candidatos aos eleitores e pedem seus votos; o acesso ao eleitor é democraticamente garantido por leis estáveis; uma Justiça que bate a cabeça, mas julga, mantém-se como poder independente; um governo eleito e reeleito pelo voto direto governa; o Congresso faz leis; a polícia investiga, criminosos vão para a cadeia. O país tem um presidente que, a despeito da alta popularidade, rejeitou artifícios constitucionais comuns no continente para concorrer a um terceiro mandato, afastando os exemplos de Hugo Chávez, da Venezuela, e Álvaro Uribe, da Colômbia. A oposição fala o que quer – e raras vezes na história falou tantos desaforos contra autoridades elevadas ao poder pelo voto popular. Aliás, não disse um centésimo deles a militares eleitos por Colégios Eleitorais, na ditadura militar.

Enfrentar a candidata de um presidente com 79,4% de aprovação, segundo o CNT/Sensus divulgado ontem, não é uma tarefa fácil, mas a disputa democrática em nenhum momento deve usar de qualquer meio para chegar a um fim. A mobilização de setores conservadores, a ida à caserna com discursos de “denúncia” de supostos atentados à democracia, o insuflamento do clima de Guerra Fria 20 anos depois da queda do Muro de Berlim, o terror à mobilidade social – tudo isso traz do passado o que o Brasil não gostaria de recriar para o seu futuro. Os velhos medos conservadores não cabem no novo mundo. Nem no Brasil de 2010. E são eles que estão sendo chamados às urnas, na impossibilidade de interlocução com setores que fogem ao controle da política tradicional.

Esse clima tirou do eleitor oportunidades preciosas. Como, por exemplo, a de ouvir do candidato do PSDB, José Serra, algum projeto coerente de Brasil para um eventual governo tucano. A campanha de Serra voltou ao período pré-governos FHC, onde as promessas surgiam do nada e visavam atingir um público sem discernimento. As campanhas eleitorais pós-Collor – que deram dois governos a Fernando Henrique Cardoso e dois a Luiz Inácio Lula da Silva – introduziram no linguajar de campanha a promessa responsável, que tinha que vir com a devida prova de que o Orçamento permitiria seu cumprimento. Serra vai asfaltar a Transamazônica, aumentar o salário mínimo para R$ 600 e dar 10% de aumento para os aposentados no ano que vem – e vai prometer o que mais vier à cabeça com o fim de suplantar o apelo popular de Dilma Rousseff (PT), a candidata que vem com o carimbo de Lula.

Dilma, por sua vez, ao se colocar na defensiva e grudar a sua imagem no governo de Lula, deixou de dizer muito. “Estamos no meio de uma guerra cambial internacional”, constatou o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Os EUA e a China protagonizam a guerra. “Quando dois elefantes deste porte lutam, os espectadores podem ser pisoteados”, alerta Martin Wolf, do Financial Times, no artigo “Guerras cambiais e demanda fraca”, publicado no Valor de ontem. O eleitor vai para as urnas sem saber o que a candidata favorita da disputa fará para desarmar a armadilha cambial, como ela vê a política de juros de Lula e como conduziria a política monetária, antes que as patas dos elefantes repousem num país que vive o seu maior período de estabilidade, e gostaria de aproveitá-lo para vencer a desigualdade e a pobreza.

Do debate eleitoral, também escapou o que pensa Marina Silva (PV), que cresceu nos últimos dias de campanha e tende a se consolidar como uma nova e bem-vinda liderança no cenário nacional. Para não ser acusada de candidata de uma nota só, engrossou o seu programa com vários outros temas, mas sem conseguir vencer a contradição de ser uma candidata que veio da esquerda e se encontrou no centro com outras pessoas – pessoas de bem, que se diga. Um programa bem intencionado não revela, todavia, uma proposta que transcenda a ideia central da sustentabilidade.

Vamos para as urnas no domingo. Faltou informação relevante para a decisão do voto, sobraram boatos e vitupérios. Ainda assim, vamos votar num país governado por um presidente eleito pelo voto popular, com um Congresso funcionando e uma Justiça atuante. Nosso voto será direto e secreto. Os eleitos serão empossados. Os derrotados à Presidência farão oposição; os vencedores serão legítimos governantes. Assim é a democracia. Que o bom senso dos atores políticos não a levem de novo para dentro dos quartéis. Deixem o país fora disso. O voto direto e secreto tem que ser capaz de resolver as diferenças políticas entre os brasileiros.

A Vila

]

Brasília Confidencial » Monstruosa armação

Monstruosa armação10/09/2010

O filme “A Vila” não é lá grande coisa, mas seu cenário é cheio de metáforas: um lugarejo de onde ninguém ousa sair por medo de monstros que habitariam a floresta que o cerca. Alguém disse que os monstros existem, mas eles nunca foram vistos e ninguém tem coragem de procurar a verdade.

Há exatos três meses, em 12 de junho, o maior jornal do país publicou uma notícia que, embora não citasse nenhuma fonte, era taxativa: um “grupo de inteligência” do comitê eleitoral de Dilma Rousseff usara dados fiscais sigilosos do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge, na montagem de um dossiê contra José Serra. Descobriu-se depois que outros sigilos teriam sido quebrados – da filha de Serra, do genro dele, de mais dois tucanos de alta plumagem – e ficou estabelecido a partir daí, como fato incontestável, que todos os dados acabaram fazendo parte do mesmo dossiê.

Assim como as feras da floresta de “A Vila”, os monstros que habitariam o submundo da campanha de Dilma nunca foram vistos em ação. Não há provas de que algum crime tenha sido cometido. Não há sequer indícios de que alguma ação clandestina tenha sido praticada. E praticamente ninguém teve coragem de procurar a verdade.

Até que…

A própria Folha de S. Paulo, autora da denúncia, publicou ontem, sexta-feira, uma notícia que desmente, uma por uma, suas acusações.

Depois de 90 dias em que tratou todas as contestações de Dilma e do PT com arrogância, a Folha confessa, em texto sem assinatura, produzido pela sucursal de Brasília: o comitê de Dilma não produziu um dossiê; apenas teve acesso a um dossiê feito pelo PT de São Paulo há cinco anos. Trata-se, na verdade, de uma papelada de cem páginas escrita pelo partido para solicitar que o Ministério Público e a Procuradoria da República investigassem possíveis irregularidades em privatizações tucanas, que poderiam ter beneficiado José Serra, sua filha e seu genro.

A Folha informa que o material que teria sido produzido pelo suposto “grupo de inteligência” da campanha de Dilma “é idêntico ao que o partido havia encaminhado cinco anos antes ao MP”. O jornal ainda confessa que as cem páginas produzidas pelo PT paulista resultam “de pesquisa em cartórios de registros de documentos, na Junta Comercial de São Paulo e em sites na internet”. E mais: reconhece que “não há nesse lote de papéis indício de quebra de sigilo bancário ou fiscal”.

Não há monstros na floresta. Apenas mentira e medo para assustar os moradores da vila.

A Folha não se retrata. Limita-se a noticiar “naturalmente” que mentiu. Durante 90 dias todos os grandes jornais e revistas adotaram as acusações da Folha como postulado e ponto de partida para a cobertura dos vazamentos de dados da Receita. Nos últimos 20 dias, praticamente não se falou em outra coisa, inclusive no Jornal Nacional, que tem dedicado blocos inteiros ao assunto.

Alguém vai pagar por isso?

No momento, quem paga é o eleitor, privado de informações isentas da imprensa. No dia 3 de outubro, a conta pode ser jogada na mesa da oposição. E a vila toda poderá, enfim, passear livremente na floresta. Sem medo.

Folha de S.Paulo – Comitê do PT recebeu dossiê sobre Veronica – 10/09/2010

São Paulo, sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Comitê do PT recebeu dossiê sobre Veronica

Dados foram coletados em cartórios e na Junta Comercial pela bancada estadual do partido

Papéis fizeram parte de pedido da liderança do PT para investigação sobre empresa da filha e do genro de José Serra

DE BRASÍLIA

O comitê da pré-campanha da candidata à Presidência Dilma Rousseff teve em mãos um dossiê sobre a filha do adversário José Serra (PSDB) com documentos reunidos pelo PT paulista.

Tal papelada havia sido utilizada pelo partido em 2005 para solicitar ao Ministério Público a abertura de inquérito sobre uma empresa de Veronica Serra e do marido, Alexandre Bourgeois.

O nome de Veronica voltou ao noticiário da campanha presidencial na semana passada. A Receita admitiu que a filha do candidato tucano teve as declarações de bens e de renda violadas, a partir de procuração falsa.

Serra tem responsabilizado Dilma pela quebra de sigilo, o que a petista nega.

A Folha teve acesso a cerca de cem páginas do dossiê do PT paulista sobre Veronica. É o resultado de pesquisa em cartórios de registros de documentos, na Junta Comercial de São Paulo e em sites na internet.
Não há nesse lote de papéis indício de quebra de sigilo bancário ou fiscal.

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A Vila

]

Brasília Confidencial » Monstruosa armação

Monstruosa armação10/09/2010

O filme “A Vila” não é lá grande coisa, mas seu cenário é cheio de metáforas: um lugarejo de onde ninguém ousa sair por medo de monstros que habitariam a floresta que o cerca. Alguém disse que os monstros existem, mas eles nunca foram vistos e ninguém tem coragem de procurar a verdade.

Há exatos três meses, em 12 de junho, o maior jornal do país publicou uma notícia que, embora não citasse nenhuma fonte, era taxativa: um “grupo de inteligência” do comitê eleitoral de Dilma Rousseff usara dados fiscais sigilosos do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge, na montagem de um dossiê contra José Serra. Descobriu-se depois que outros sigilos teriam sido quebrados – da filha de Serra, do genro dele, de mais dois tucanos de alta plumagem – e ficou estabelecido a partir daí, como fato incontestável, que todos os dados acabaram fazendo parte do mesmo dossiê.

Assim como as feras da floresta de “A Vila”, os monstros que habitariam o submundo da campanha de Dilma nunca foram vistos em ação. Não há provas de que algum crime tenha sido cometido. Não há sequer indícios de que alguma ação clandestina tenha sido praticada. E praticamente ninguém teve coragem de procurar a verdade.

Até que…

A própria Folha de S. Paulo, autora da denúncia, publicou ontem, sexta-feira, uma notícia que desmente, uma por uma, suas acusações.

Depois de 90 dias em que tratou todas as contestações de Dilma e do PT com arrogância, a Folha confessa, em texto sem assinatura, produzido pela sucursal de Brasília: o comitê de Dilma não produziu um dossiê; apenas teve acesso a um dossiê feito pelo PT de São Paulo há cinco anos. Trata-se, na verdade, de uma papelada de cem páginas escrita pelo partido para solicitar que o Ministério Público e a Procuradoria da República investigassem possíveis irregularidades em privatizações tucanas, que poderiam ter beneficiado José Serra, sua filha e seu genro.

A Folha informa que o material que teria sido produzido pelo suposto “grupo de inteligência” da campanha de Dilma “é idêntico ao que o partido havia encaminhado cinco anos antes ao MP”. O jornal ainda confessa que as cem páginas produzidas pelo PT paulista resultam “de pesquisa em cartórios de registros de documentos, na Junta Comercial de São Paulo e em sites na internet”. E mais: reconhece que “não há nesse lote de papéis indício de quebra de sigilo bancário ou fiscal”.

Não há monstros na floresta. Apenas mentira e medo para assustar os moradores da vila.

A Folha não se retrata. Limita-se a noticiar “naturalmente” que mentiu. Durante 90 dias todos os grandes jornais e revistas adotaram as acusações da Folha como postulado e ponto de partida para a cobertura dos vazamentos de dados da Receita. Nos últimos 20 dias, praticamente não se falou em outra coisa, inclusive no Jornal Nacional, que tem dedicado blocos inteiros ao assunto.

Alguém vai pagar por isso?

No momento, quem paga é o eleitor, privado de informações isentas da imprensa. No dia 3 de outubro, a conta pode ser jogada na mesa da oposição. E a vila toda poderá, enfim, passear livremente na floresta. Sem medo.

Folha de S.Paulo – Comitê do PT recebeu dossiê sobre Veronica – 10/09/2010

São Paulo, sexta-feira, 10 de setembro de 2010

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Comitê do PT recebeu dossiê sobre Veronica

Dados foram coletados em cartórios e na Junta Comercial pela bancada estadual do partido

Papéis fizeram parte de pedido da liderança do PT para investigação sobre empresa da filha e do genro de José Serra

DE BRASÍLIA

O comitê da pré-campanha da candidata à Presidência Dilma Rousseff teve em mãos um dossiê sobre a filha do adversário José Serra (PSDB) com documentos reunidos pelo PT paulista.

Tal papelada havia sido utilizada pelo partido em 2005 para solicitar ao Ministério Público a abertura de inquérito sobre uma empresa de Veronica Serra e do marido, Alexandre Bourgeois.

O nome de Veronica voltou ao noticiário da campanha presidencial na semana passada. A Receita admitiu que a filha do candidato tucano teve as declarações de bens e de renda violadas, a partir de procuração falsa.

Serra tem responsabilizado Dilma pela quebra de sigilo, o que a petista nega.

A Folha teve acesso a cerca de cem páginas do dossiê do PT paulista sobre Veronica. É o resultado de pesquisa em cartórios de registros de documentos, na Junta Comercial de São Paulo e em sites na internet.
Não há nesse lote de papéis indício de quebra de sigilo bancário ou fiscal.


A papelada circulou no “grupo de inteligência” que no início do ano trabalhava para o comitê de Dilma -equipe que foi desmantelada quando a imprensa noticiou sua existência e as tratativas de contratar “arapongas” para espionar oponentes e até mesmo aliados.

ORIGEM PAULISTA
O material é idêntico ao que o partido havia encaminhado cinco anos antes ao Ministério Público estadual e à Procuradoria da República de São Paulo.

O pedido de abertura de inquérito foi uma iniciativa do então líder da bancada petista na Assembleia Legislativa, Cândido Vaccarezza. Hoje ele é deputado federal, líder do governo na Câmara e apontado como um dos favoritos a ocupar a presidência da Casa a partir de 2011.

Em junho de 2005, Vaccarezza chegou a propor uma CPI na Assembleia para investigar uma suspeita levantada pelo PT de que a empresa de Veronica e do marido havia sido favorecida em leilões na CPTM (companhia de trens), no Metrô e na Sabesp (empresa de saneamento).

As apurações do PT a respeito de Veronica começaram logo após o primeiro turno da eleição para a Prefeitura de São Paulo, em 2004. Serra era o candidato do PSDB e viria a ganhar a disputa contra a então prefeita Marta Suplicy (PT).

Em 2005, a Procuradoria da República paulista abriu procedimento administrativo (investigação prévia presidida por um procurador) para averiguar “crimes contra a ordem tributária e fraude em licitação” desses leilões.

O procedimento deu origem a uma ação judicial, que passou a tramitar na 8ª Vara Federal Criminal paulista.
Contudo, em 2006, o próprio procurador responsável pelo caso pediu o arquivamento da ação. Veronica e seu marido não chegaram a ser chamados nem acusados de nenhuma irregularidade.

O caso foi arquivado na Justiça Federal e no Ministério Público em 2008.

OUTRO LADO

A liderança do PT na Assembleia disse à Folha que agiu dentro da lei e com o propósito de fiscalizar o uso de dinheiro público, tarefa do Legislativo.

Em notas à imprensa e declarações de seu presidente, José Eduardo Dutra, o PT tem afirmado que o partido e a coordenação da campanha de Dilma “não autorizaram, orientaram, encomendaram, solicitaram ou tomaram conhecimento” de dossiês.

Procurada para comentar as investigações realizadas pelo PT-SP acerca da empresa de Veronica, a assessoria da campanha de Serra soltou uma nota: “As especulações da reportagem dão curso às tentativas do PT de jogar lama na campanha na família do candidato José Serra”.

“Trata-se da prática de construir dossiês fajutos com informações falsas e insinuações criminosas. Não cabe nenhum comentário a não ser veemente repúdio a quem fez e a quem está divulgando baixarias”, diz o texto.