Meu “sarneyzinho” interior

Tenho evitado a televisão, mas excepcionalmente abri uma exceção. Afinal por trás dessa fachada troglodita, tem um cara sensível. E, sinceramente, fiquei extremamente sensibilizado com a absurda censura a que submeteram os humoristas brasileiros. E num momento tão importante para o futuro do Brasil, não poderia me abster de participar desse mais novo movimento cívico. Como sempre articulado nos bairros chiques da efervescente cidade maravilhosa. Um local aonde a elite da elite cultural, aonde os brilhantes e cultos artistas brasileiros se reúnem para pensar o País.

Umbilicalmente ligados às necessidades do povo, expressam em seus textos, programas e peças teatrais, o drama de cada humilde brasileiro. Dos nordestinos retirantes ao sulista imigrante. A nata da intelectualidade brasileira se reune bravamente, no Rio e em São Paulo (não no Pernambuco de Antônio Nóbrega e Ariano Suassuna). De camisetinha branca – para simbolicamente, demostrar a preocupação com a PAZ, a despeito do alto consumo de cocaína naquelas bandas – preocupada que é, com o futuro dos nossos filhos.

Assisto com uma preocupação imanente, pois tenho acompanhado sistematicamente nos jornalões e nas revistas semanais, o risco de “venezualização” do Brasil. Tal qual o risco de “argentinização” de 2002. Toda a coerção que a pobre mídia brasileira sofre, me comove, me trás aos prantos. Afinal, de que serviu todo aquele sangue derramado durante os “anos de chumbo”? Época que para alguns filhinhos de papai consideram “apenas” uma “ditabranda”. Esses esquerdistas satânicos querem calar a voz da nossa intelectualidade com silver-tape. O terror! O terror! E vcs sabem como é dificil tirar aquilo da boca sem remover os pelinhos de um face bem cuidada com botox. Terrível.

E não se enganem, mesmo que as páginas de jornais estrangeiros liberais digam o contrário. Que a nossa mídia “é uma das menos censuradas do Mundo” precisamos nos mobilizar. Sabem como é esse “Financial Times” é comunista desde criancinha. É o Pravda do séc. XXI. Estamos sim sob a ameaça vermelha. Os comunistas vão consolidar sua hegemonia. Amordaçar todos os jornalistas. Pulverizar nosso quinhão, de uso e direito, para os milhares de outros meios de comunicação de massa. Isso é ou não é uma forma de socialismo? Será o fim, e nada disso tem a ver com o hiato entre ficção e realidade que a mídia criou. Nada disso tem a ver com revolução tecnológica que escanteou, não só os formadores de opinião, mas também os nosso inspirados artistas, todos portadores de um dom divino.

Como bem expôs um enebriado e nobre representante da classe tudo isso é culpa do “presidente e seus asseclas”. Esses esquerdistas satânicos não tem jeito. Sorte nossa – e de nossos filhos – termos esses patetas (ups…) patriotas para nos defender. E na liderança desse movimento temos um novo-velho líder de futuro brilhante. Como todos representantes da direitona. Copias mal acabadas de neocons americanos. Um careca que é reconhecido por sua vida ativa, independente. Com a sagacidade que é peculiar a certos publicitários, encontrou seu “nicho de mercado”. Influente, inteligente e articulado, lidera o levante contra esse absurdo que impede humoristas de serem parciais na escolha dos seus alvos. De satirizarem políticos na mais bela e sublime tradição grega. Falando nisso antes que me acusem, sou a favor da liberdade irrestrita aos humoristas e comediantes. Principalmente quando o alvo são os políticos. Como citei, isso é assim desde os tempos imemoriais. Mas esse texto não é sobre isso. É sobre o Tas.

Marcelo Tas, pra mim é o sinônimo dessa elitizinha ridícula que muito condena os inimigos, e idolatra os amigos. Que percebeu, ao envelhecer, que escrúpulos, só quem está comigo tem. Um cara inteligente, mas que apesar de bem informado, é capaz de dizer após uma matéria sobre os pedágios paulistas “que buscará esclarecimento com a ANTT (do Governo Federal)”. Que, apesar de ler diariamente nos jornais que a responsabilidade dos estádios da Copa do Mundo é dos Estados e Municípios, inclui a incompetência dos tucanos-demos paulistas no pacote do “PAC do Brasil grande”. Que mesmo depois de informado que a lei que muda a padronização das tomadas é de 2002, repete que é um “PAC das Tomadas”. Entre muitos outros exemplos.

Mas isso não seria nada. O que me enfureceu mesmo é que mesmo após ser devidamente informado da data de sanção da atual lei eleitoral e quem a assinou (FHC), de quem aprovou a mini-reforma eleitoral (todos partidos do Congresso Nacional) e principalmente, como funciona a Justiça Eleitoral com a sua camaleônica desfaçatez em interpretar tal legislação para atender aos grupos mais poderosos do momento. Continua propagando mentiras.

Ele não é ignorante. Percebe-se que é muito sagaz. Um mentiroso sagaz. Mas o bravo bastião da nova-velha-moral na política não está passando por algo inédito, muito pelo contrário, é algo já tradicional. O momento que o Tas está passando é aquele em que, ao sentir em suas veias, circular o poder conquistado pelo sucesso de reproduzir um formato argentino numa grande tv brasileira, começa a alimentar lentamente aquele monstrinho que estava adormecido. Que é um clone daquele que já foi o seu maior inimigo (ou não?). Aquele ser que em algum momento do passado, recebeu toda a sua fúria externalizada. Mas que deixou dentro de si uma sementinha adormecida.

Marcelo Tas sente correr em suas veias aquela sensação que só o poder permite sentir. Se sente capaz como nunca. Sente que é o seu momento. Finalmente. Sente que agora pode ser ouvido. Capaz de manipular, dissimular e mentir. Acima de todos, inclusive da justiça. Mas como diria Sarney: “é por um bom motivo”.

O que o Marcelo Tas sentiu agora é o nascer de um pequeno “sarneyzinho” interior. Sentiu, e o pior de tudo, gostou profundamente.

3 comentários sobre “Meu “sarneyzinho” interior

  1. Pois é quero ver com essa nova lei as charges sobre dilma e a ridicularização da candidata por todos esses programas de escracho

  2. Fernando… finalmente alguém vendo e percebendo quem é o Tas. Quando falo prá alguém, as pessoas fazem um muxoxo… ele é tão engraçado… eu deixei de ver esse LIXO MAQUIADO, que é o programa dele. Foi ainda no ano passado… é público e notório ele mostrando e entrevistando serra e kassab por nenhum motivo… até parecia que “eles” não estavam nem aí, mas ele insistia, queria garantir seu dinheirinho… e suas tiradinhas, são cheias de intenção. Talvez ele assuma a liderança dos cacos que sobrarem da direita nessa eleição. São Paulo precisa acordar… ou gostam e querem continuar pagando pedágios?

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