A aliança PMDB-PT é mais que um mero acordo. É a busca pragmatica da Hegemonia Politica.


Antes de mais nada, faço uma ressalva importante. Sou economista. Sou analista de sistema. Estou estudando ciência política agora. Mas não consegui ler tudo que seria mandatório pra discutir certos termos. Esse é o caso. Por isso fiz um blog. Não tem um peso de um artigo científico. Nem a fragilidade de uma folha rascunhada na gaveta da mesa. Contribuições são sempre bem vindas.

Mesmo assim, o simplismo que assola a mídia atual é constrangedor. Constrangedor até para um leigo como eu. De todos os artigos desse fim de semana, não dá pra salvar nenhum. Nem o do Alencastro, que num artigo (estranhamente) critico em demasia às intenções de consolidação e antecipação da aliança PMDB-PT. Ele critica pesadamente, por exemplo, as intenções do PMDB de participar da construção de um Programa de Governo. O que é claramente um progresso. Se a aliança é pra valer, nada mais natural. Mas não, no caso do PMDB não vale.

Enfim. Todos os jornais e blogs discutindo quem vai ser o vice de quem quem. Se vai ser possivel confiar ou não no PMDB. Se o PMDB vai trair o PT. Se sim, qdo isso vai acontecer. Se vai haver reação da ala Serrista do PMDB. Se o PMDB vai “entregar a mercadoria”.  Se não seria uma estrategia para se implantar o Parlamentarismo no Brasil. De como essa aliança é “frágil moralmente”.

Humpf! Superficialidades na interpretação. Estratégia em quem defende, como o Ciro. Como o Serra. A estratégia de quem está de fora é só uma, bombardear a aliança. Só sobrou isso. Mas ninguém enxergou (ou quis enxergar) o essencial.

O essencial desses movimentos políticos é que a união PMDB-PT é o começo, na prática, da construção Hegemonia política do PT e do PMDB, atraves da criação de um desenvolvimentismo-social. Simples assim.  É o primeiro tijolo do alicerce de algo maior. E muita gente só vai enxergar isso qdo estiver consolidado.

O conceito de Hegemonia (direção suprema) é definida pela sua abordagem. Se consideramos as relações internacionais, a Hegemonia é definida pela Supremacia de um Estado sobre o outro. Se consideramos a visão interna, segundo Bobbio, é qdo nos referenciamos sobretudo à dominação (ou tentativa de dominação) das relações entre as classes sociais e os partidos políticos de uma Nação. Esse cara resumiu bem:

“A hegemonia, pelo contrário, é um processo que expressa a consciência e os valores organizados praticamente por significados específicos e dominantes, num processo social vivido de maneira contraditória, incompleta e até muitas vezes difusa. Numa palavra, a hegemonia de um grupo social equivale à cultura que esse grupo conseguiu generalizar para outros segmentos sociais. A hegemonia é idêntica à cultura, mas é algo mais que a cultura porque, além de tudo, inclui necessariamente uma distribuição específica de poder, de hierarquia e de influência. Como direção política e cultural sobre os segmentos sociais “aliados” influenciados por ela, a hegemonia também pressupõe violência e coerção sobre os inimigos. Não é apenas consenso.”

É preciso entender. Coerção e violência, hoje, no sentido de confronto. De certa forma para conquista-la haverá certos  “esbarrões” com certos grupos sociais. Como a mídia. Como os banqueiros. Como MSTs. etc.

De certa forma PMDB e PT tentam inovar na política e conquistar a Hegemonia política unindo o social-desenvolvimentismo do PT com o nacional-desenvolvimentismo do PMDB. Tudo isso temperado pela aceitação do PT de que o poder e ubiquidade do capitalismo financeiro é irreversivel. A meta é controla-lo. E quem temperou isso foi exclusivamente o Lula, com a sua face conservadora (aceitação do sistema de metas de inflação, responsabilidade fiscal e câmbio flutuante).

Mais que o PSDB, o PT, hoje, está mais proximo do PMDB, ideologicamente. No pós-crise, essa ligação aumentou. O pensamento neoliberal mostrou sua fragilidade, e a aposta do PSDB em se ligar umbilicalmente do capitalismo financeiro sufocando suas tendências desenvolvimentistas, isolou o partido e ajudou a joga-lo na extrema direita. E não há Serra  negando FHC, que resolva isso. O Aecio candidato talvez, simplesmente pq ele vai aceitar esse fato de ser representante dos liberais que ficaram orfãos no pós-malanismo. A prova é o apoio do único liberal de verdade que restou no Brasil, Arminio Fraga.

Mas e ai? E essa tal “ética na política” que a mídia (seletivamente) propaga diariamente? E o autoritarismo do PT? E o fisiologismo do PMDB?

Primeiro, essas características não são partidárias como tentam vender, são do sistema político brasileiro. Todos os partidos apresentam esses problemas. A mídia só usa o seu poder de só mostrar os inimigos e esconder os amigos.

Segundo, o conceito de Hegemonia carrega dentro de si, a ideia de que a dimensão política se sobrepõe aos aspectos intelectuais, morais e culturais.

Esse é a maior virtude da ideia (recolocar a política no topo do processo decisório), e o seu maior defeito, pois os limites são muito tênues (como a China mostra a cada dia).

8 comentários sobre “A aliança PMDB-PT é mais que um mero acordo. É a busca pragmatica da Hegemonia Politica.

  1. Só discordo quando vc diz que o PMDB representa o nacionalismo-desenvolvimentismo: Prá mim, o PMDB como ideologia se acabou em 85 quando permitiu a entrada de todo tipo de rebotalho do antigo PDS, Sarney inclusive. Então, o PMDB representa o continuismo da forma de fazer política prá assegurar seu quinhão.

    No entanto, sou PT. Voto PT e espero que o PC do B e PSB também componham e tenham muita votação, prá fazer a balança tender um pouquinho mais pro lado progressista.

    1. Com certeza, acho que o PSB e esse novo PC do B, são fundamentais pra contrabalancear. Mas eles subjulgam essa aliança PMDB-PT. Eu não acho que seja assim tão simples, as dores do parto pra se construir uma aliança dessa (incluindo a defesa do Sarney) estão solidificando essa uniao. E as metamorfoses na ideologia sao naturais. Depois da queda do muro de Berlim e essa ultima crise mundial (q destruiu o neoliberalismo) não tem nada que nao possa ser mudado.

      Incluindo ai o perfil ideologico do PMDB. Falta muita coisa, mas sei que dificilmente eles se uniriam ao PSDB e DEM contra uma empresa como a Petrobras ou a Eletrobras. Esse é o nacional-desenvolvimentismo que vejo no PMDB.

      Abçs,

  2. A tese é bastante interessante, acho que não tenho elementos suficientes para dizer que concordo ou discordo total ou parcialmente, não sou PeTista nem antiPeTista, mas gosto do governo Lula, talvez até influenciado pela mídia nunca vi com muita simpatia a coligação do PT com o PMDB, nem tanto pelo partido, mas muito mais pelo tal do Michel Temer, eu torço pela continuidade do governo Lula e a Dilma é a solução encontrada, então sou Dilma, pessoalmente prefiro o Ciro Gomes, mas infelizmente parece impossível, mas o que me irrita mesmo é ter que engolir o Michel.

    1. Estou tentando analisar a politica sem o personalismo, que é uma caracteristica brasileira. O Michel quer é o quinhao de poder, como todo politico.

  3. Eu concordo com você em uma coisa. Se qualquer um no PMDB for simplesmente capaz de balbuciar a palavra “programa de governo”, já será a maior revolução institucional no país. Os únicos partidos que alguma vez aplicaram este conceito foram o PSDB e o PT. Outros mais à esquerda sempre pensaram programaticamente, mas nunca cogitaram seriamente a possibilidade de ser governo.

    Não vejo no texto do Alencastro exatamente uma crítica à aliança com o PMDB. É uma crítica ao fato de que uma chapa Dilma-Temer padeça do desequilíbrio entre presidente fraco/vice forte. Ao contrário do que Alencastro sugere que a história ensina ser melhor.

    Pode-se questionar o Alencastro por outro lado. É certo que Dilma não tem experiência eleitoral, nem legislativa. Mas não se pode dizer que seja fraca. É a grande gerente do governo, e ganhou todas as disputas nas quais participou dentro dele. Não se pode dizer que foi contra gente inexperiente em política.

    De qualquer forma, um PMDB que nunca tem candidato a presidente só entra na aliança a reboque. O que vai definir o peso de cada partido na aliança é, mais do que as figuras Dilma e Temer, a quantidade de deputados e governadores que cada um fará. E a capacidade do PMDB obrigar o PT a apoiar seus candidatos em estados chaves. Se o PT ganhar, por exemplo, em SP, MG, RS e BA – o PMDB ficará à míngua.

    PSB e PCdoB não tem muita coisa a contribuir nessa campanha não. Sobreviveram a vida toda às custas de alianças com o PT. Conseguem eleger alguém sem isso? Duvido muito.

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