Argemiro Ferreira :: Krugman e o Ano Novo chinês


“2010 :: Ano do Tigre”

Tinha decidido fazer um post sobre o artigo do Krugman, mas o Argemiro Ferreira já fez, então ótimo. O artigo segue a linha do Martin Wolf no FT.

Parece que 2010 vai ser o ano em que a chapa da China vai esquentar. Está se formando um consenso sobre os aspectos negativos desse câmbio sobre a economia mundial.

E não vai adiantar a China se fingir de cega, surda e muda. These days are over.

Krugman e o Ano Novo chinês « Blog do Argemiro Ferreira


Como observei no Blog do Nassif (leia AQUI), justificaria um debate a lógica exposta pelo economista Paul Krugman (foto), em sua coluna do New York Times, sobre a política monetária da China, que chama de “mercantilista”. Ele argumenta que a China tornou-se uma grande potência financeira e comercial mas não age como outras grandes economias. E, ao invés disso, segue a política mercantilista que mantém artificialmente alto o seu superávit comercial (íntegra AQUI, no original inglês).

Para Krugman, no mundo de hoje, em depressão, tal política é predatória – para usar uma palavra dura. Explica como isso funciona: diferente do dólar, do ouro ou do yen, cujos valores flutuam livremente, a moeda da China está atrelada à política oficial de 6,8 yuan por dólar. A essa taxa de câmbio, o que exporta tem grande vantagem de custo sobre os produtos rivais, criando enormes superávits comerciais.

Em circunstâncias normais, o influxo dos dólares gerados pelos excedentes elevaria o valor da moeda chinesa, a menos que fosse compensado pelos investidores privados na direção oposta. E os investidores privados estão tentando entrar na China e não sair de lá. Mas o governo chinês restringe os influxos de capital, até ao comprar dólares e mantê-los no exterior, ampliando seus fundos superiores a US$ 2 trilhões em reservas estrangeiras. Sustenta Krugman que essa política é boa para o complexo industrial do estado chinês orientado para as exportações. Mas que não é boa para os consumidores chineses. E quanto ao resto de nós? – pergunta.

Uma resposta a Wen Jiabao

“No passado – escreve ainda – podia-se dizer que a acumulação pela China de reservas externas, muitas delas investidas em bônus dos EUA, nos fariam um favor, pois mantinham baixas as taxas de juros, embora o que fizemos com aquelas taxas de juros baixas foi principalmente inflar uma bolha imobiliária. Mas neste momento o mundo está inundado de dinheiro barato procurando um lugar para ir. As taxas de juros de curto prazo estão perto de zero; as taxas de juros a longo prazo são mais altas mas apenas porque os investidores esperam que um dia acabe a política de taxa zero. As compras de bônus pela China fazem pouca ou nenhuma diferença”.


Enquanto isso, argumenta Krugman, os superávits comerciais drenam a demanda, muito necessitada, de uma economia mundial deprimida: “Minhas contas sugerem que o mercantilismo chinês pode terminar reduzindo em cerca de 1,4 milhões os empregos nos EUA. Os chineses negam-se a reconhecer o problema. O primeiro-ministro Wen Jiabao descartou recentemente as queixas estrangeiras. Alegou que ‘por um lado vocês pedem que o yuan seja valorizado e por outro estão adotando todo tipo de medidas protecionistas’”.

O próprio Krugman respondeu: “De fato. Outros países estão adotando medidas protecionistas (modestas) precisamente porque a China se nega a deixar sua moeda subir. E muitas de tais medidas são apropriadas. Mas serão mesmo? Em geral ouço duas razões para se evitar o confronto com a China por causa de suas políticas. Nenhuma das duas se sustenta.

Primeiro, há a alegação de que não podemos confrontar os chineses porque eles tumultuariam a economia dos EUA desfazendo-se de suas reservas de dólares. É um raciocínio equivocado e não só porque se o fizessem infligiriam grandes perdas para eles próprios. O ponto maior é que as mesmas forças que tornam o mercantilismo chinês tão danoso neste momento também significam que a China tem pouca ou nenhuma alavancagem financeira.

Neste momento, repito, o mundo está repleto de dinheiro barato. Logo, se a China resolvesse começar a vender dólares, não há razão para pensar que isso iria elevar significativamente as taxas de juros. Provavelmente enfraqueceria o dólar frente a outras moedas – mas isso seria bom, e não ruim, para a competitividade americana e o emprego nos EUA. Assim, devíamos na verdade agradecer se os chineses se desfizessem dos dólares.

Segundo, há a alegação de que o protecionismo é sempre uma coisa ruim, em quaisquer circunstâncias. Se é o que você acha, no entanto, então você aprendeu os princípios básicos de economia com as pessoas erradas. Pois quando o desemprego está alto, e o governo não consegue restaurar o pleno emprego, não se aplicam as regras normais”.

A advertência de Paul Samuelson


Krugman prossegue: “Cito aqui um trabalho clássico do falecido Paul Samuelson (foto à esquerda), que de certa forma criou a economia moderna: ‘Com emprego abaixo do pleno (…) todos os argumentos mercantilísticos desacreditados’ – isto é, alegações de que as nações que subsidiam suas exportações na prática roubam empregos de outros países – ‘tornam-se válidos’. Ele argumentou em seguida que as taxas de câmbio persistentemente desalinhadas criam ‘problemas genuínos para os defensores do livre comércio’. A melhor resposta para tais problemas é a volta das taxas de câmbio ao ponto em que deviam estar – exatamente o que a China impede que aconteça”.

O resultado final, para Krugman, é que o mercantilismo chinês é um problema crescente, e as vítimas desse mercantilismo têm pouco a perder num confronto comercial. E conclui: “Assim, eu conclamaria o governo da China a reconsiderar sua teimosia. Do contrário, o próprio protecionismo brando de que se queixa atualmente será o início de algo muito maior”.

(Abaixo, um cartum a que recorreu Krugman em seu blog no passado para expor o efeito manada nas Bolsas)


Op-Ed Columnist – Chinese New Year – NYTimes.com

Op-Ed Columnist

Chinese New Year

By PAUL KRUGMAN

Published: December 31, 2009

It’s the season when pundits traditionally make predictions about the year ahead. Mine concerns international economics: I predict that 2010 will be the year of China. And not in a good way.

The New York Times

Paul Krugman

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Times Topics: Yuan

Actually, the biggest problems with China involve climate change. But today I want to focus on currency policy.

China has become a major financial and trade power. But it doesn’t act like other big economies. Instead, it follows a mercantilist policy, keeping its trade surplus artificially high. And in today’s depressed world, that policy is, to put it bluntly, predatory.

Here’s how it works: Unlike the dollar, the euro or the yen, whose values fluctuate freely, China’s currency is pegged by official policy at about 6.8 yuan to the dollar. At this exchange rate, Chinese manufacturing has a large cost advantage over its rivals, leading to huge trade surpluses.

Under normal circumstances, the inflow of dollars from those surpluses would push up the value of China’s currency, unless it was offset by private investors heading the other way. And private investors are trying to get into China, not out of it. But China’s government restricts capital inflows, even as it buys up dollars and parks them abroad, adding to a $2 trillion-plus hoard of foreign exchange reserves.

This policy is good for China’s export-oriented state-industrial complex, not so good for Chinese consumers. But what about the rest of us?

In the past, China’s accumulation of foreign reserves, many of which were invested in American bonds, was arguably doing us a favor by keeping interest rates low — although what we did with those low interest rates was mainly to inflate a housing bubble. But right now the world is awash in cheap money, looking for someplace to go. Short-term interest rates are close to zero; long-term interest rates are higher, but only because investors expect the zero-rate policy to end some day. China’s bond purchases make little or no difference.

Meanwhile, that trade surplus drains much-needed demand away from a depressed world economy. My back-of-the-envelope calculations suggest that for the next couple of years Chinese mercantilism may end up reducing U.S. employment by around 1.4 million jobs.

The Chinese refuse to acknowledge the problem. Recently Wen Jiabao, the prime minister, dismissed foreign complaints: “On one hand, you are asking for the yuan to appreciate, and on the other hand, you are taking all kinds of protectionist measures.” Indeed: other countries are taking (modest) protectionist measures precisely because China refuses to let its currency rise. And more such measures are entirely appropriate.

Or are they? I usually hear two reasons for not confronting China over its policies. Neither holds water.

First, there’s the claim that we can’t confront the Chinese because they would wreak havoc with the U.S. economy by dumping their hoard of dollars. This is all wrong, and not just because in so doing the Chinese would inflict large losses on themselves. The larger point is that the same forces that make Chinese mercantilism so damaging right now also mean that China has little or no financial leverage.

Again, right now the world is awash in cheap money. So if China were to start selling dollars, there’s no reason to think it would significantly raise U.S. interest rates. It would probably weaken the dollar against other currencies — but that would be good, not bad, for U.S. competitiveness and employment. So if the Chinese do dump dollars, we should send them a thank-you note.

Second, there’s the claim that protectionism is always a bad thing, in any circumstances. If that’s what you believe, however, you learned Econ 101 from the wrong people — because when unemployment is high and the government can’t restore full employment, the usual rules don’t apply.

Let me quote from a classic paper by the late Paul Samuelson, who more or less created modern economics: “With employment less than full … all the debunked mercantilistic arguments” — that is, claims that nations who subsidize their exports effectively steal jobs from other countries — “turn out to be valid.” He then went on to argue that persistently misaligned exchange rates create “genuine problems for free-trade apologetics.” The best answer to these problems is getting exchange rates back to where they ought to be. But that’s exactly what China is refusing to let happen.

The bottom line is that Chinese mercantilism is a growing problem, and the victims of that mercantilism have little to lose from a trade confrontation. So I’d urge China’s government to reconsider its stubbornness. Otherwise, the very mild protectionism it’s currently complaining about will be the start of something much bigger.

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