Cantona e o “Bank Run 2010”


“Comunistas, Socialistas (não sei se é bem o meu caso) querem mudar o sistema? Parem de fazer passeatas patéticas e se libertem do “sistema” amanhã (7/12/2010)!”

Olha só, se eu não tivesse sido abduzido, capturado, escravizado pelo sistema capitalista e não tivesse dívidas, dívidas e mais dívidas eu até sacaria todo o meu dinheirinho do sistema bancário para testar a resistência dos “testes de estresses” ao “estresse”.

A ideia me parece sensacional. Afinal, o cerne do sistema capitalista é o d-d’ (Marx? Alguém?). Sem isso a máquina para. E não estou brincando, para mesmo. Se as pessoas começarem a sacar o seu dinheiro dos bancos, não tem QEn (criação de moeda eletronicamente) que a faça mover de novo.

Revolução é isso camaradas (ironic mode=ON).

Sobre o Cantona (ver declaração dele no Youtube) ele é ex-jogador de futebol do Manchester, e da seleção francesa e depois virou ator.

“Kung-Fu-Tebol by Cantona.”

Agora um cara que faz isso ai abaixo com um torcedor xarope, merece todo apoio. Se bem que, com esse ato, ele deixou de ir para Copa de 1998, o que deve ser, sem dúvida, a maior frustração de um jogador de futebol. Afinal a França ganhou, e pra piorar, goleando a gente.

AFP: Apelo de Cantona a movimento de saque nos bancos ganha adeptos na internet

Apelo de Cantona a movimento de saque nos bancos ganha adeptos na internet

(AFP) – Há 1 dia

PARIS — O apelo do ex-jogador Eric Cantona a que na próxima terça-feira os correntistas retirem seu dinheiro dos bancos vem depertando simpatia entre os internautas franceses.

Na página da rede social Facebook, 34.000 pessoas se inscreveram neste sábado para participar do movimento “Revolução! No dia 7 de dezembro vamos todos sacar nosso dinheiro dos bancos”. Outros 26.000 internautas anunciam que provavelmente vão se unir ao grupo.

Em vídeo divulgado na internet, o ex-jogador do Manchester United afirmou que “se 20 milhões de pessoas retirarem seus depósitos bancários, o sistema se funde”. “A revolução deve ser feita nos bancos (…). Em vez de ir para as rua em protestos quilométricos, basta sacar todo o seu dinheiro”, propôs Cantona.

A iniciativa causou reações no governo francês. O ministro do Orçamento, François Baroin considerou a atitude grotesca e irresponsável. “Cantona não é sério como assessor financeiro (…). Cada um no seu ofício e as vacas ficarão sempre bem guardadas!“.

Segundo a página web http://www.bankrun2010.com, o objetivo dos promotores da iniciativa é gerar pânico bancário (“bank run”).

Na história, após a crise de 1929, e em outras duas ocasiões, milhares de correntistas fizeram fila nas sucursais bancárias movidos pelo medo de não poder recuperar seu dinheiro porque seu banco ou todo o sistema estavam à beira da implosão. Foi o caso da Rússia em 1998, da Argentina en 2001 ou, durante a crise financeira de 2008, do banco britânico Northern Rock e do IndyMac nos Estados Unidos.

“Os cidadãos têm poucas possibilidades de serem bem-sucedidos num movimento de saque generalizado, suscetível de ameaçar os bancos”, considera a Association pour la Taxation des Transactions pour l’Aide aux Citoyens (“Associação pela Tributação das Transações Financeiras para ajuda aos Cidadãos”), Attac.

O movimento vem também repercutindo em outros países. “Os britânicos, por exemplo, apoiam o apelo e, tendo em vista o recente clima social e os protestos estudiantis, segundo analistas, poderá converter-se em algo muito explosivo”.

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Comunicado de imprensa
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Entre farsas e tragédias


“Sapos barbudos rulez the World”

Uma democracia sem adjetivos vai às urnas — Portal ClippingMP

Uma democracia sem adjetivos vai às urnas

Política
Autor(es): Maria Inês Nassif
Valor Econômico – 30/09/2010

“Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa.” Esta é uma das mais repetidas afirmações do filósofo alemão Karl Marx, que abre “O 18 Brumário”, talvez porque a realidade sempre se confronte com formas de farsas saudosas de tragédias.

O clima criado nestas eleições foi uma farsa inspirada na tragédia de 1964. Chegou-se ao grotesco. A guerra eleitoral ressuscitou de um passado que merece ser deixado para trás teses paranoicas de implantação de uma república sindicalista ou do comunismo totalitário, e acusou e pintou de tintas fortes supostos algozes da democracia. É uma situação irreal, pois o cenário dessa batalha é uma campanha eleitoral onde todas as instituições democráticas estão a postos e operantes: partidos legalmente constituídos apresentam seus candidatos aos eleitores e pedem seus votos; o acesso ao eleitor é democraticamente garantido por leis estáveis; uma Justiça que bate a cabeça, mas julga, mantém-se como poder independente; um governo eleito e reeleito pelo voto direto governa; o Congresso faz leis; a polícia investiga, criminosos vão para a cadeia. O país tem um presidente que, a despeito da alta popularidade, rejeitou artifícios constitucionais comuns no continente para concorrer a um terceiro mandato, afastando os exemplos de Hugo Chávez, da Venezuela, e Álvaro Uribe, da Colômbia. A oposição fala o que quer – e raras vezes na história falou tantos desaforos contra autoridades elevadas ao poder pelo voto popular. Aliás, não disse um centésimo deles a militares eleitos por Colégios Eleitorais, na ditadura militar.

Enfrentar a candidata de um presidente com 79,4% de aprovação, segundo o CNT/Sensus divulgado ontem, não é uma tarefa fácil, mas a disputa democrática em nenhum momento deve usar de qualquer meio para chegar a um fim. A mobilização de setores conservadores, a ida à caserna com discursos de “denúncia” de supostos atentados à democracia, o insuflamento do clima de Guerra Fria 20 anos depois da queda do Muro de Berlim, o terror à mobilidade social – tudo isso traz do passado o que o Brasil não gostaria de recriar para o seu futuro. Os velhos medos conservadores não cabem no novo mundo. Nem no Brasil de 2010. E são eles que estão sendo chamados às urnas, na impossibilidade de interlocução com setores que fogem ao controle da política tradicional.

Esse clima tirou do eleitor oportunidades preciosas. Como, por exemplo, a de ouvir do candidato do PSDB, José Serra, algum projeto coerente de Brasil para um eventual governo tucano. A campanha de Serra voltou ao período pré-governos FHC, onde as promessas surgiam do nada e visavam atingir um público sem discernimento. As campanhas eleitorais pós-Collor – que deram dois governos a Fernando Henrique Cardoso e dois a Luiz Inácio Lula da Silva – introduziram no linguajar de campanha a promessa responsável, que tinha que vir com a devida prova de que o Orçamento permitiria seu cumprimento. Serra vai asfaltar a Transamazônica, aumentar o salário mínimo para R$ 600 e dar 10% de aumento para os aposentados no ano que vem – e vai prometer o que mais vier à cabeça com o fim de suplantar o apelo popular de Dilma Rousseff (PT), a candidata que vem com o carimbo de Lula.

Dilma, por sua vez, ao se colocar na defensiva e grudar a sua imagem no governo de Lula, deixou de dizer muito. “Estamos no meio de uma guerra cambial internacional”, constatou o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Os EUA e a China protagonizam a guerra. “Quando dois elefantes deste porte lutam, os espectadores podem ser pisoteados”, alerta Martin Wolf, do Financial Times, no artigo “Guerras cambiais e demanda fraca”, publicado no Valor de ontem. O eleitor vai para as urnas sem saber o que a candidata favorita da disputa fará para desarmar a armadilha cambial, como ela vê a política de juros de Lula e como conduziria a política monetária, antes que as patas dos elefantes repousem num país que vive o seu maior período de estabilidade, e gostaria de aproveitá-lo para vencer a desigualdade e a pobreza.

Do debate eleitoral, também escapou o que pensa Marina Silva (PV), que cresceu nos últimos dias de campanha e tende a se consolidar como uma nova e bem-vinda liderança no cenário nacional. Para não ser acusada de candidata de uma nota só, engrossou o seu programa com vários outros temas, mas sem conseguir vencer a contradição de ser uma candidata que veio da esquerda e se encontrou no centro com outras pessoas – pessoas de bem, que se diga. Um programa bem intencionado não revela, todavia, uma proposta que transcenda a ideia central da sustentabilidade.

Vamos para as urnas no domingo. Faltou informação relevante para a decisão do voto, sobraram boatos e vitupérios. Ainda assim, vamos votar num país governado por um presidente eleito pelo voto popular, com um Congresso funcionando e uma Justiça atuante. Nosso voto será direto e secreto. Os eleitos serão empossados. Os derrotados à Presidência farão oposição; os vencedores serão legítimos governantes. Assim é a democracia. Que o bom senso dos atores políticos não a levem de novo para dentro dos quartéis. Deixem o país fora disso. O voto direto e secreto tem que ser capaz de resolver as diferenças políticas entre os brasileiros.